A emoção é norma (Divulgação)
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Forró em estado de graça
Publicado em 28 de novembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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A canção em estado de graça. A serenata brejeira do terceto Crav&rosa devolve uma espécie de pureza fundamental ao cancioneiro nordestino.
Se na forma o forró é evocado o tempo inteiro, é na feição, contudo, que Lucas Campelo, Bárbara Sandes e Henrique Teles investem com mais felicidade. Leituras íntimas, ancoradas no arfar delicado do acordeon, privilegiam sutilezas melódicas e acentuam a natureza agreste do repertório. As reações variam: Há quem cante junto, quem balance o corpo, mais animado, e há também quem desfrute tudo de olhos fechados.
A fina flor da tradição regional. De Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Flávio José, Elba Ramalho e Trio Nordestino, a João Silva, Pinto do Acordeon, Acioly Neto e Petrúcio Amorim. Mais do que a reverência pura e simples, entretanto, importa ao projeto reanimar a beleza latente em alguns dos versos mais inspirados que pontuam a música brasileira. Nem que seja por força da heresia.
Segundo Henrique Teles, as aproximações realizadas entre o nordeste brasileiro e o resto do mundo se dão de maneira muito natural no repertório da Crav&rosa, a partir de nossa própria herança musical. Assim é que uma típica chanson francesa, por exemplo, pode suceder um xote de compasso arrastado. Do mesmo modo, os arranjos podem revelar acentos musicais essencialmente estranhos a esta seara. Basta que a pesquisa colabore com a sensibilidade evocada pelo projeto. A emoção é a única norma.
As primeiras composições assinadas pelo trio demoram a ganhar forma. Mas certamente receberão o mesmo tratamento dispensado aos petardos que coroam o repertório. Nenhum artifício, nenhuma firula, nenhum excesso. Voz e sanfona, simplesmente. Sempre a serviço da melodia.
O trio Cravo&Rosas e apresenta às 17 horas, numa igreja, no derradeiro dia do FASC 2024, entre 29 de novembro e 01 de dezembro. E o faz com todo o sentimento de uma liturgia, quase religioso.