Fragata, eu!
Publicado em 28 de fevereiro de 2025
Por Jornal Do Dia Se
* Thiago Fragata
Meu avô Manoel Políbio da Silva nasceu em Propriá/SE, no dia 28/10/1925, a época seu pai estava trabalhando na implantação da estação ferroviária daquele município. Meu bisavô, José Thiago da Silva, trabalhou durante muito tempo como gerente da Estação Ferroviária de Sam Christovam. Disseram-me que era mineiro, não fui acarear o dado até hoje. Pesquisar origem da família é algo que embalo resistência embora seja historiador. Sou especialista em História Cultural pela Universidade Federal de Sergipe, com graduação em História pela mesma instituição. Compartilharei um caso hilário para ilustrar a minha cisma em relação a genealogia. Em meados de 2008, recebi e-mail de Thiago Fragata, de São Paulo. A questão que tirava meu xará do anonimato era sua curiosidade sobre nosso possível parentesco. Solicitou meu telefone via e-mail e, no mesmo dia, fez o contato…
Genealogia é ramo da História dedicado a contar as origens da família, com avós, bisavós, tataravós, etc. Fragata nutria grande esperança de confirmar uma suspeita; especialmente porque descobriu que eu era “um historiador famoso”! A Maioria dos interessados em genealogia, sonha encontrar na ascendência um rei, rainha, um conde, enfim, alguém de renome para laurear a existência. Por isso, era grande sua expectativa e estava eufórico, emocionado em falar comigo. Deve ter imaginado: matei dois coelhos com uma cajadada só; achei um historiador – que certamente vai ajudar na pesquisa! – e ainda, é famoso!
Ele amargou um duplo desapontamento. Diante de sua empáfia perdi a minha paciência, então administrei a conversa entre a ironia e respostas curtas. Expliquei que era um historiador, um simples historiador, que não apreciava genealogia embora reconhecesse sua importância no amparo a projetos os mais diversos, das ciências humanas e biológicas. Daí até o final da nossa prosa passei de “gente importante” a um asqueroso inimigo pronto a dissuadi-lo do seu alto propósito.
Fragata esperava provar a força de sua origem, a historicidade gloriosa dos Fragatas no rol das famílias tradicionais. Coitado! Daí a determinação em garimpar o passado até achar “alguém que preste” na árvore genealógica, o que pra mim é o cúmulo da vaidade. Sim, meu xará revelou-se um pobre homem rico. Sua família tinha posses, mas faltava a glamour aristocrático vinculado a tradição do nome e respectivas proezas.
Por último, informei que meu Fragata era pseudônimo, meu nome de batismo era José Thiago da Silva Filho! Então ele recebeu esse dado como munição, bradou que ele era “um Fragata legítimo”, insinuando que estava na linha com um falsário. Acho que desligamos simultaneamente os aparelhos telefônicos, sem cumprir o ritual de despedidas. Enfim…
Leitor(a), não faça como Fragata, se tiveres algum interesse em genealogia não precisa ficar com raiva de mim; desenhe árvore a partir dos seus pais, quem sabe você descobre que é descendente de Adão e Eva! (risos)
* Thiago Fragata – Historiador, escritor, multiartista. Texto integra o livro inédito CRONICÁRIO DAS MEMÓRIAS: SÃO CRISTÓVÃO. E-mail: thiagofragata@gmail.com