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O FUTURO NEGRO E A ESPERANÇA VERDE


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Publicado em 24 de junho de 2012
Por Jornal Do Dia


Pela primeira vez na história do jornalismo um veículo de comunicação de Sergipe participa do maior evento mundial da ONU oferecendo aos leitores sergipanos dados, informações, opiniões e conclusões sob a ótica da nossa visão regional. Durante nove dias o Jornal do Dia acompanhou propostas, pronunciamentos, debates e discussões do Rio+20, no Riocentro, e da Cúpula dos Povos, evento paralelo realizado no Aterro do Flamengo.
O Rio+20 custou US$ 200 milhões, reuniu Chefes de Estados, Ministros e representantes de 188 países, 45 mil pessoas e 4.500 jornalistas de todo o mundo e deu ao Rio de Janeiro e ao Brasil uma projeção internacional de dimensões planetárias. Como anfitrião, o país primou pela qualidade da organização, pela liderança das negociações e pela ousadia das proposições progressistas. O evento deve seu nome a ECO 92, também realizada no Rio, quando uma das suas resoluções previa que 20 anos depois todos se reuniriam novamente para analisar os resultados e avançar sobre o futuro.
Já  a Cúpula dos Povos foi organizada por instituições sindicais e populares do Brasil que convidaram suas congêneres de todo mundo para discutir as mesmas questões, ou seja, o Rio+20 foi o parlatório dos que governam o mundo e a Cúpula dos Povos foi o fórum dos que são governados. É claro que as conclusões não foram as mesmas. Enquanto o Rio+20  emitiu um documento final com 48 itens, considerado pelos participantes da Cúpula como "um roteiro falido com falsas soluções defendidas pelos mesmos atores que provocaram a crise global", os participantes do evento oficial, embora fazendo ressalvas as suas próprias resoluções, afirmam que o encontro foi altamente positivo por cumprir o seu objetivo de "formular um plano para que a Humanidade se desenvolvesse de modo a garantir vida digna a todas as pessoas, administrando os recursos naturais para que as gerações futuras não fossem prejudicadas."
O que na verdade esteve em discussão nos dois eventos, por trás das colocações conservacionistas e preservacionistas, é uma questão muito mais séria, radical e importante: o modo de produção e de consumo que a Humanidade escolheu para viver. E a conclusão dos dois simpósios é uma só: escolhemos errado. A maneira pela qual  produzimos nossas riquezas está matando a vida no planeta e a vida das populações mais pobres. O nosso jeito desenfreado de consumir está exaurindo a natureza. O que está risco não é o planeta, ele está aí há 300 bilhões de anos e vai continuar por mais muitos bilhões. Não é mais possível crescer a qualquer preço, desrespeitando o meio ambiente em que vivemos e às custas da miséria da maioria. Por outro lado, não podemos continuar consumindo com tanta voracidade tantas inutilidades.
Os que mandam no mundo acham que a solução é a chamada green economy, a economia verde, ou seja, criar um desenvolvimento sustentável que nada mais é do que continuar o mesmo modo de produção mudando apenas algumas formas de maneira a não comprometer o meio ambiente, como combater a poluição e reciclar os detritos do consumo. Dentro desta visão, o documento final do Rio+20 prevê a redução das isenções de impostos que as nações praticam  nos combustíveis fósseis, não renováveis. O Brasil isenta o diesel de impostos. O documento incentiva a produção de energias renováveis, como o etanol e a energia solar.
O desenvolvimento sustentável custa mais caro do que o desenvolvimento predatório atualmente em vigor, então entra em discussão de quem vai pagar a conta. Para os países desenvolvidos ficar mais rico vai custar mais e, para os países em desenvolvimento, crescer vai ser mais difícil. O Brasil e a China fizeram uma proposta humanitária de se criar um fundo mundial de US$ 30 bilhões anuais para ajudar os países  mais pobres a se desenvolverem com sustentabilidade. A proposta não passou, os países ricos se fizeram de mortos. A Secretária de Estado americana Hilary Clinton fez uma doação risível de US$ 20 milhões para a sustentabilidade dos países da África, o valor é 10% do custo do avião que ela veio, o Air Force Two. Mas, por outro lado, foram aprovadas mais de 700 propostas que implicam em US$ 500 bilhões de investimentos no meio ambiente. O esperado fortalecimento do PNUMA-Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que deveria ser elevado ao status de agência, como a Unicef e a FAO, para frustração geral, não aconteceu.
Os que são mandados no mundo, reunidos na Cúpula dos Povos, subestimam os resultados do Rio+20 e reclamam contra as resoluções que consideram "pouco ambiciosas e sem ações concretas". Cobram a transferência de tecnologias para os países em desenvolvimento e são radicalmente contra a matriz energética atual. Acham que "a economia verde é a expressão financeira do capitalismo" e que não é a solução, mas apenas uma forma de renovação do mesmo sistema. Exigem o respeito pela história e pelos costumes das populações nos processos de desenvolvimento. O documento final da Cúpula dos Povos, ao contrário do documento do Rio+20, tem pontos muito claros, concretos e objetivos que vão desde a garantia do direito dos povos à terra e território urbano e rural até a democratização dos meios de comunicação. O próprio nome do encontro "Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental em Defesa dos Bens Comuns, Contra a Mercantilização da Vida" define bem os objetivos do evento.
O nome do evento oficial era "Rio+20, o futuro que queremos". Quem melhor definiu o  objetivo e o resultado foi quem o presidiu: a Presidenta Dilma Roussef que declarou que "foi um ponto de partida… trouxemos a erradicação da pobreza para o centro do debate do futuro que queremos", coisa que ninguém tinha dito claramente durante os nove dias. Retirando do debate o fogo das paixões, tudo que aconteceu nos dois eventos foi muito importante para  o negro futuro do mundo que agora deposita no verde a esperança de que a espécie humana entenda que mudar suas escolhas é essencial para a continuidade da sua existência no planeta que continuará a existir apesar dela.

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