Terça, 29 De Abril De 2025
       
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Hamlet, uma adaptação feliz


Publicado em 11 de maio de 2013
Por Jornal Do Dia


Constância teatral em espetáculo grandioso

* Anderson Bruno

No último dia 05 de maio, no Teatro Lourival Batista, foi encenado, em apresentação única, o espetáculo teatral ‘Hamlet’, com o subtítulo ‘Um relato dramático medieval’. A peça foi montada pelo ‘Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare’, natural do estado do Rio Grande do Norte.

O texto do dramaturgo inglês William Shakespeare (um dos mais longos do autor) foi condensado em uma hora e meia de exposição cênica. Já na entrada do teatro, somos tomados por uma atmosfera fria, envolto numa neblina artificial. Estávamos fazendo parte, em segunda pessoa, daquele tão distante (e naquele momento tão próximo) reino da Dinamarca.

Trabalhar a montagem de um texto como o de ‘Hamlet’ exige, no mínimo, cuidado. Sendo uma das peças mais vigorosas e conhecidas do dramaturgo britânico, sempre haverá pressão e expectativa. E o personagem central carrega muito desse fardo. Incumbência destinada ao ator Joel Monteiro.
Uma desconstrução visível da personagem original está na sua aparência étnica. Não somos apresentados a um homem ariano, louro de olhos azuis. Ou a um protagonista de cabelos oxigenados e lentes de contato coloridas. Ele se apresenta moreno, com traços grossos. Um exímio representante dos trópicos.

A força de sua personalidade é vibrante. Um desafio pra qualquer ator. A montagem escancara essa característica na apresentação de abertura, com todo o elenco usando a figura do rosto de Hamlet como máscara. Raiva, loucura, comicidade, paixão, desespero. São incontáveis as variantes sentimentais perpassadas por ele no decorrer da peça. Joel Monteiro o encarou de forma digna. Por vezes, perdia força, mas nunca a presença cênica. Por vezes, exagerado. Mas no geral, foi um show de esforço exposto pelo ator.

Elementos sonoros foram inseridos na montagem. Ruídos (como os produzidos pelos LP’s) ecoavam pelo ambiente. Um microfone em pedestal ficava à disposição para a fala das personagens em momentos da peça. É um relato, como o subtítulo diz; mas o recurso ficou um tanto ‘solto’ dentro da mise-en-scène. Já a trilha sonora funcionou.

A torre de andaimes no palco foi o item cênico mais visível. Serviu para ligar vários momentos do texto. Mas, assim como os recursos de som, faltou dar vida significativa ao elemento. Não é apenas empurrá-lo de um lado a outro, ou apenas subir nele. É nos mostrar que ali também mora um personagem que ‘respira’ e ‘fala’ com o público, não apenas uma pretensiosa artimanha cenográfica.
O uso da cor vermelha no cenário trouxe toda a simbologia de realeza, ambição, paixão e tragédia. Componente bem vindo junto à execução da luz, harmônica na alternância dramática de cenas, bem como na transmutação de tempo.

Uma boa adaptação foi ver os papéis masculinos de Rosencrantz e Guildenstern serem interpretados por duas atrizes. À época elizabetana (período das primeiras montagens das peças de Shakespeare) as mulheres não atuavam. Apenas homens. Quatro séculos depois, os papéis se invertem.

Mesmo errando feio na dicção e projeção de voz (aspectos fundamentais e básicos numa apresentação dramática) como também, na parca encenação do momento do ‘teatro dentro do teatro’ (ato importantíssimo pelo seu ápice, pela sua metalinguagem e pelo uso dos clowns) a peça ‘Hamlet’ foi feliz na adaptação por manter a constância teatral de um espetáculo tão grande, complexo e pretensioso. A derradeira cena final foi um colosso. A peça poderia ter sido melhor. Mas ruim não foi.

* * Anderson Bruno é rítico audiovisual.

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