Hibridismo ao Reverso na Educação
Publicado em 12 de agosto de 2020
Por Jornal Do Dia
* Janaína Spolidorio
O hibridismo ou ensino híbrido parecia ser algo ainda distante, até chegarmos em 2020. Se há algo que foi acelerado neste ano são as questões tecnológicas em relação à educação.
Para quem não está familiarizado com o termo, ensino híbrido é aquele que mescla ensino presencial com educação à distância, trazendo um pouco de cada modalidade de ensino.
Uma das soluções para o retorno escolar será exatamente a utilização dele, com parte das atividades na escola (presencial) e a outra parte em casa (virtual). Considerando, contudo, que estamos no ensino remoto, tentando trazer ao máximo a tecnologia para o ensino, talvez seja o momento de pensar no ensino híbrido agora, mas em modelo reverso.
O natural, claro, seria pensar nesta adaptação tendo como base a escola, então o presencial estaria na escola e o virtual em casa. Levando em consideração que antes de tudo acontecer quase nem tínhamos a questão de plataformas e recursos digitais, algo preocupante tem sido o uso excessivo dos aparelhos eletrônicos.
Muitos jovens já utilizavam mais do que deveriam e agora o fazem com uma parcela maior de tempo, uma vez que precisam fazer tarefas em ambiente online ou receber materiais por ali. O uso dos aparelhos traz algumas dificuldades extra para a vida escolar, do ponto de vista cerebral. Algumas funções executivas podem ser prejudicadas se não for um estudo bem orientado e com um professor que domine totalmente as ferramentas que estão sendo utilizadas.
Para minimizar efeitos negativos o ideal seria pensar no contrário do que se pensa hoje. O ensino híbrido poderia entrar ao reverso, ou seja, com a inserção de atividades mais direcionadas ao manual em casa do que até aqui foi proposto e complementações virtuais, como será feito, posteriormente, na escola. Seria uma transição também, porém ao contrário. Em lugar de se pensar nos ambientes escola/ casa se pensaria nas atividades manuais/virtuais, sendo que ambos seriam feitos em casa, mas com dinâmicas diferenciadas, promovendo, ainda, maior autonomia nos estudos.
Quando falamos sobre presencial logo pensamos no professor e ele será aqui, nesta ousada proposta, o centro de aprendizado. Por meio do professor haverá o planejamento de atividades com orientações em etapas, a serem realizadas manualmente pelos alunos, seja com atividades impressas, que neste ponto do isolamento podem ser retiradas com certa escala nas escolas, com projetos de montagem de trabalho ou mesmo pesquisas. Por outra ponta, o virtual se daria com atendimento remoto do professor, acompanhamento das atividades via virtual e propostas que utilizam com maior impacto ferramentas digitais, inclusive com aulas de como fazê-lo.
Grande parte dos alunos utiliza como usuário superficial os recursos digitais e a escola pode aproveitar este momento para qualificar as habilidades dos alunos com ferramentas digitais reais, como gravações de podcast, com introdução de efeitos sonoros, montagem de animações ou simples montagens de fotos com recursos visuais diversos.
Projetos manuais podem complementar os digitais e vice-versa. Muito do que usamos no computador ou nos aparelhos móveis é feito em projeto manual antes, embora muitos nem saibam que seja assim. Importante o aluno começar a ter esta outra visão, de como o manual complementa o digital e vice-versa.
Ao ser feito desta maneira podemos começar a delinear uma aprendizagem mais flexível e que traz possibilidades diferenciadas e facilmente adaptáveis para eventuais novas emergências que possamos ter no futuro, cultivando desta forma a flexibilidade cognitiva nos alunos e na comunidade escolar, em geral.
Veja a seguir características que costumam ser associadas a cada modalidade e que podem ser aproveitadas unitariamente ou de modo complementar em um ensino híbrido, seja regular ou a reverso.
Presencial: impresso, offline, instrucional, individual.
Virtual: digital, online, exploratório, colaborativo
* Especialista em educação, Janaína Spolidorio é formada em Letras, com pós-graduação em consciência fonológica e tecnologias aplicadas à educação e MBA em Marketing Digital. Ela atua no segmento educacional há mais de 20 anos e atualmente desenvolve materiais pedagógicos digitais que complementam o ensino dos professores em sala de aula, proporcionando uma melhor aprendizagem por parte dos alunos e atua como influenciadora digital na formação dos profissionais ligados à área de educação.