Hospitais particulares confirmam cirurgias eletivas
Publicado em 16 de abril de 2021
Por Jornal Do Dia
Milton Alves Júnior
Menos de 48 horas após os hospitais universitários em Aracaju e Lagarto terem anunciado a suspensão das cirurgias eletivas por falta de insumos, na manhã de ontem unidades hospitalares da rede particular oficializaram a manutencão dos procedimentos cirúrgicos, mas revelaram a dificuldade para manter e repor o estoque de medicamentos utilizados durante e posteriormente ao processo de intubação de pacientes. A gravidade desse cenário não é enfrentado apenas no estado de Sergipe. Um levantamento realizado pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) indica que, somente entre os dias 20 de março e 05 de abril, 45 hospitais pelo país registraram o défict do ‘kit intubação’.
A situação se agravou essa semana, no momento em que os sergipanos assistiram a menor unidade federativa do país bater o recorde de internações de pacientes positivados para a covid-19, desde o surgimento oficial da pandemia no Brasil, em 26 de fevereiro do ano passado. De acordo com Marco Aurélio Ferreira, diretor de Relações Governamentais da Anahp, tem aumentado de forma significativa o número de hospitais particulares se deparando com problemas semelhantes ao Sistema Único de Saúde (SUS). Por possuir uma estrutura administrativa e financeira mais sólida se comparado ao poder público, as unidades particulares ainda não correm o risco de zerar o estoque em curto prazo.
"Posso te garantir que é preocupante observar que 80% dos hospitais associados já estão tendo esse problema. Fizemos uma reunião e nós ouvimos de todos esses hospitais a necessidade de reposição de estoque a curto prazo. É óbvio que entre os nossos associados existem hospitais de maior porte que têm um estoque próprio que dá uma flexibilidade maior, com estoque comprado para 30 dias. Mas a maioria dos nossos hospitais associados estão com dificuldade a curto prazo", explicou. No Hospital Renascença, em Aracaju, dos 40 leitos destinados à Unidade de Terapia Intensiva (UTI), 30 estão destinados à pacientes com covid-19, sendo que 26 estão ocupados. Segundo a direção hospitalar, entre os medicamentos em escassez, estão cisatracúrio e brometo de rocurônio.
No final do mês passado a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que o estado recebeu novos lotes contendo o kit-intubação. A situação enfrentada por todos os hospitais particulares instalados em Sergipe apresenta o mesmo grau de igualdade, garante Marco Sarmento, diretor-técnico do HR. "Há uma dificuldade muito grande na aquisição dessas medicações que servem como bloqueadores neuromusculares; eles (medicamentos) atuam relaxando o paciente permitindo que a ventilação mecânica, decorrente da intubação, atue com total eficiência", destacou. A situação crítica atinge ainda as unidades de cunho filantrópico, a exemplo dos hospitais de Cirurgia e São José, ambos na capital sergipana.
Causas – As diretorias administrativas das unidades particulares compartilham das respostas apresentadas pelo SUS, e fortalecem a tese de que o mercado nacional carece desses produtos. Em contato realizado diretamente com os fabricantes, a informação apresentada é que os estoques seguem insuficientes para atender a demanda atual. A expectativa é que os kits-intubação ainda disponíveis nas unidades particulares durem até o início da próxima semana. "Alguns hospitais ainda trabalham com estoque, mas nós, no Cirurgia, não temos mais [esse kit] em estoque; o que temos são reposições diárias que são repassadas pela Secretaria de Estado da Saúde. Lutamos todos os dias para que os distribuidores atendam a nossa demanda e ajudem, de alguma forma, a diminuir um pouco desse tormento que todos nós estamos enfrentando", revelou Rilton Morais, diretor do Hospital de Cirurgia.