Imagine…
Publicado em 09 de fevereiro de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Entre todas as utopias imaginadas, a mais de lirante talvez consista no vislumbre de um mundo sem religiões, como cantou John Lennon, ao piano, na canção mais xarope de todo o seu repertório. Jamais será assim.
O papa é pop. O bispo Edir Macedo, um milionário vulgar. Em diversos terreiros, o imenso poder atribuído aos pais e mães de santo redunda em toda sorte de abusos – A cantora Karina Bur foi uma das vítimas. Em qualquer ambiente onde alguém se arvora a falar em nome de divindades misteriosas, em suma, o absurdo de tamanha pretensão tem o potencial de desaguar em lágrimas, sangue e crime, sob os olhos ausentes do próprio Deus.
Leio a respeito de uma imagem de Nossa Senhora das Águas, abençoada pelo Papa Francisco com o mesmo gesto cansado de um aceno aos fiéis, tomada por objeto sagrado, digno de culto e curiosidade, a grande atração na posse de um pároco na Barra dos Coqueiros. Penso que um homem repetiu palavras ouvidas há muito tempo (em latim, talvez) e, como num passe de mágica, um pedaço de papel ganhou um status imprevisto. Mais ou menos como ocorre ao vil metal.
A santidade não é deste mundo. O Papa emérito Bento XVI, por exemplo, é um mentiroso de marca maior. Há poucos dias, ele pediu perdão por “erros graves” relacionados a casos de abuso sexual. Arcebispo de Munique, o então cardeal Joseph Ratzinger (seu nome de batismo) tomou conhecimento de denúncias as mais cabeludas, mas não puniu o padre acusado pelos crimes. Bento XVI admite agora ter tratado do assunto em uma reunião com data e hora conhecidas, após haver declarado em depoimento que não estivera ali.
Um pároco resolveu exibir uma ilustração abençoada por um Papa, a fim de convocar os fiéis para o próprio ato de posse à frente de uma igrejinha no oco do mundo. Age, assim, de modo inteligente, admite que a fé muitas vezes carece de muletas. Afinal de contas, a subliteratura de auto ajuda vende sempre muito bem.