Instituições precisam dar um basta nas bravatas de Bolsonaro
Publicado em 04 de agosto de 2021
Por Jornal Do Dia
* Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia
Desde a live de quinta-feira, dia 29 de julho – repleta de fake news -, Bolsonaro só faz subir o tom dos seus discursos bravateiros em torno do voto impresso. Agora, ameaça lotar a Av. Paulista e adotar o que o "povo" (leia-se os seus fanáticos) gritarem para ele fazer. Mais populista e inconstitucional, impossível. E pretencioso, também, levando-se em conta o tamanho dos atos de apoio deste final de semana que passou.
Esperava-se que o discurso do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, o confrontasse – ainda que todos saibamos que "in Fux we trust" -, mas o que fez foi mais uma vez tangenciar, sem botar os pingos nos "is" ou nem sequer citar o nome do endereçado. Bolsonaro talvez nem tenha entendido a fala como sendo para ele. Enquanto isto, o presidente do Tribunal Superior Eleitora (STF), Roberto Barroso, se pronuncia pelo Twitter, onde todos se encontram, menos a Lei e as medidas cabíveis para enquadrar alguém que ameaça a democracia e a próxima eleição.
As oscilações e atitudes covardes, adiam para cada vez mais perto da campanha eleitoral, um embate que até então Bolsonaro manipula. Primeiro, conseguiu incluir na pauta do país uma discussão que, a rigor, não estava na linha do horizonte. Desde 1996 ficou pacificado que as eleições no Brasil transcorrem sem maiores questionamentos – nem sequer por parte da família presidencial, toda ela levada aos seus cargos pelo voto eletrônico, como já foi dito à exaustão. Agora, ganha tempo (enquanto arregimenta adeptos entre os seus) para a defesa à proposta de "eleições mais transparentes" com o voto impresso. Falácia. Até mesmo o garoto frustrado de 2014, Aécio Neves, já veio à público dar o seu testemunho de que perdeu, sim. Após auditoria do TSE. Aquela, que no chiqueirinho Bolsonaro propala não ser possível.
A "lenga-lenga" do voto impresso, que vai sendo empurrada com a barriga no âmbito dos poderes a quem cabe moverem-se em direção a um basta, tem um potencial perigoso. Permite que o assunto chegue cada vez mais perto do início do ano eleitoral, elevando a campanha ao grau de combustão. E esta parece ser a intenção calculada por Bolsonaro. Esticar a corda para que a disputa e a decisão sobre a forma de como as eleições se darão, se emparelhem, e assim fazer ferver o cenário político que, diga-se de passagem, já promete altíssimo grau.
Matéria de Marcelo Camargo, publicada hoje pela Agência Brasil, anuncia que a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que institui a obrigatoriedade do voto impresso no ano que vem, no Brasil, "deverá ser uma das prioridades da Câmara no segundo semestre, segundo o presidente da Casa, o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), e tem votação marcada já para esta quinta-feira (5) na Comissão Especial que analisa o texto."
Caso seja fato a inclusão em pauta, da votação, podemos respirar e torcer para que a PEC seja rejeitada e esta discussão enterrada de vez antes de vazar para o ano seguinte. Empacando, assim como os mais de 100 pedidos de impeachment que dormitam na gaveta de Arthur Lira, este pode ser o grande mote que Bolsonaro precisa para colocar em marcha o seu plano de convulsionar o país a partir da Av. Paulista, o seu reduto (cada vez mais reduzido e fanático).
A proposta do voto impresso é uma bandeira de Jair Bolsonaro e vem sendo defendida por seus apoiadores com a desculpa de dar mais segurança ao pleito. O presidente afirma que o sistema de urnas eletrônicas é defasado, passível de fraude e não permite conferência. Balela. Mais uma para engrossar o seu vasto repertório de bravatas, mas que podem, assim como aconteceu no Capitólio, nos Estados Unidos, "causar". Só para lembrar, naquela movimentação relâmpago, houve cinco mortos. Lá, a Força Nacional agiu ao lado da democracia, sufocando a "rebelião". Aqui, este número pode subir, levando-se em conta que não sabemos de que lado ficarão as Forças Armadas. Vide ecos do general Braga Neto, às ameaças de Bolsonaro. Quem vai pagar para ver?
Denise Assis, jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe – 1962/1964" e "Imaculada". Membro do Jornalistas pela Democracia