De tudo um pouco.(Divulgação)
Já é Carnaval, cidade!
Publicado em 09 de fevereiro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Quem teve a ideia do Carnaval estava mancomunado com a natureza, com o criador, o impulso misterioso a que muitos se dirigem na hora daquele aperto em forma de prece.
Durante alguns dias por ano, o Altíssimo fecha os olhos e faz vista grossa para o rebanho. Nessas ocasiões, como temem as mães ao fechar a porta atrás de si, a caminho do trabalho, os moleques viram a casa de cabeça pra baixo.
O Carnaval não passa de uma suspensão. Quem se dispõe a brincar nesses dias não quer saber de mais nada. Aqui, no Rasgadinho, em Salvador ou Olinda, a intenção é a mesma. Folião é menino. Amanhã é outro dia, sempre muito distante.
Tristeza não tem fim – o Rasgadinho é o maior bloco de rua de Aracaju. Centenas de milhares de foliões arrastados por dia de farra.
Para quem se dispõe à bagunça, contudo, o número não faz a menor diferença. Importa celebrar a carne, antes que o mundo se acabe, antes que a ressaca e a melancolia assaltem a Quarta-Feira de Cinzas.
Só quem já pulou de alegria, uma alegria gratuita, quase um espasmo dos músculos, conhece o gosto arenoso, movediço mesmo, de tal sentimento.
Dias seguidos de euforia não resultam apenas em cansaço. Os nervos em festa, incitados sem descanso, acabam fatalmente num suspiro lânguido, de quem não aguenta mais.
Sem tal delírio, o Carnaval seria apenas um rastro de confetes e de serpentinas abandonado sem razão aparente.
Ainda não se sabe da programação completa do Rasgadinho, este ano. No auge da furdunço, contudo, havia de tudo um pouco. A fuleiragem dos barrigudos comandados por Márcio de Dona Lilinha era acompanhada de muito frevo, samba, MPB, música eletrônica, forró e cerveja.
Sabe aquela canção de Tom e Vinícius, gravada por Tom Zé nun álbum magistral, “Estudando o Samba”? Não existe tradução mais adequada para o desalento que sucedia cinco dias de Rasgadinho. Tristeza não tem fim. Felicidade, o folião bem o sabe, tem sim.