Lado A, lado B

Rian Santos

riansantos@jornaldodiase.com.br

 

Há poucos dias, Caetano Veloso lançou um single. Aqui, mais perto da gente, o guitarrista Igor Gnomo e o compositor Kléber Melo fizeram o mesmo, lançaram um single inédito, também. A menina Tori, sempre de banda pelo sul maravilha, anunciou o lançamento de uma nova canção com bastante antecedência. No início de março, Esquecer cai na rede, em todas as plataformas de streaming. Discos cheios, agulha no sulco, lado A, lado B, ficha técnica, arte de capa, ficaram para trás.

Uma canção não é qualquer coisa. A estratégia adotada agora pelos artistas do meio musical para se manter na lembrança de um público consumidor cada vez mais apressado, no entanto, induz ao fastio.

Hoje, os discos são lançados aos pedaços. Assim, pílula a pílula, uma faixa aqui, outra ali, o enunciado talvez pretendido na reunião de uma dezena de composições resta diluído. O álbum-manifesto, a maior revolução artística já promovida pela indústria fonográfica, não tem mais vez.

Eu, de minha parte, só lamento. Uma canção não é pouco, está certo. As melhores playlists e coletâneas, contudo, podem até reunir a fina flor do tempo presente, comentar o passado, apontar o futuro. Mas jamais serão capazes de cortar fundo no tecido esgarçado do momento como fizeram os álbuns, a partir do advento dos LP’s. 

Penso em SgtPeper’s, Transa, Acabou chorare, A tábua de esmeralda, autênticos pontos de inflexão da sensibilidade coletiva, reflexo involuntário e construção de pensamento. Nunca mais iremos tão longe assim.

De qualquer modo, álbuns ainda são realizados. Amanhã, Beleza tem cura,o aguardado lançamento da banda El Presidente, cai na rede.O projeto foi anunciado há um bom tempo, por meio dos singles que me causam tanto desgosto, ignorados por este jornalista com todo o afinco. Fiz tudo o possível para preservar o pasmo de uma primeira audição. Dedos cruzados, portanto. Se o intentolograr êxito, retomo o assuntona primeira oportunidade, o quanto antes.