Quinta, 26 De Dezembro De 2024
       
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Lembranças do Vitorino


Publicado em 07 de abril de 2020
Por Jornal Do Dia


 

* Antonio Passos
Poupar já foi uma atitude muito valorizada na mentalidade sergipana (por indução, acredito que em todo o Brasil). Houve um tempo no qual caderneta de poupança foi presente. Era comum, ao menos entre a classe média, padrinhos e madrinhas darem aos afilhados, no ato do batismo ou nos primeiros aniversários, uma caderneta de poupança com um depósito inicial que, aos 18 anos de vida do agraciado, seria um pezinho de meia qualquer.
Mais que o regalo, o importante mesmo era a valorização, transmitida socialmente, do ato de poupar. Houve inclusive uma famosa campanha publicitária do Banese incentivando a poupança – isso lá pelos anos 1970, se não me engano. O protagonista era uma tartaruga chamada Vitorino. Num tempo em que praticamente não se falava em ecologia e meio ambiente, quem abrisse uma caderneta de poupança levava para casa, de brinde, uma tartaruguinha viva, de verdade. A musiquinha da campanha cantava mais ou menos assim: "O Vitorino vai mostrar pra toda gente que um sujeito inteligente sabe economizar…"
Pois bem, o tempo passou e o incentivo ao ato de poupar, como um valor amplamente aceito e divulgado, foi progressivamente sendo escondido até sumir quase por completo. As mais recentes gerações são educadas sob o bombardeio do incentivo ao consumo e não à poupança: "Poupar pra quê? Vai levar dinheiro no caixão?" – vociferam os tolos ou espertos arautos da moda nova. "O negócio é gastar, meu irmão! Viajar, comprar tudo do bom e do melhor, ter sempre o último modelo… O negócio é curtir a vida… Se não tiver o dinheiro na mão, paga no cartão, no crédito…"
Porém, há sempre uns poucos que caminham diferente da manada. Uma amiga, muito previdente, prestadora de serviços e sem emprego fixo, me contou o seguinte: ela guarda, de modo sagrado, três vezes o valor do que fatura por mês (economia alcançada a duras penas). Assim, havendo qualquer imprevisto que a impeça de trabalhar ela terá, pelo menos, três meses de autonomia financeira garantida… Pode até parecer pouco, mas, nos dias de hoje, com a mentalidade consumista que impera, muita gente que poderia poupar até bem mais que a minha amiga, vive atolada em dívidas, renegociando-as infinitamente e sem nenhuma poupança.
Claro que quanto menores os ganhos de uma pessoa mais difícil será fazer a poupança, porém, por outro lado, o consumo excessivo também deteriora muito mais a condição dos que têm renda menor. Considero uma grande perda social a destruição da nossa antiga mentalidade de valorização da poupança.
* Antonio Passos é jornalista

O tempo passou e o incentivo ao ato de poupar, como um valor amplamente aceito e divulgado, foi progressivamente sendo escondido até sumir quase por completo. As mais recentes gerações são educadas sob o bombardeio do incentivo ao consumo e não à poupança

* Antonio Passos

Poupar já foi uma atitude muito valorizada na mentalidade sergipana (por indução, acredito que em todo o Brasil). Houve um tempo no qual caderneta de poupança foi presente. Era comum, ao menos entre a classe média, padrinhos e madrinhas darem aos afilhados, no ato do batismo ou nos primeiros aniversários, uma caderneta de poupança com um depósito inicial que, aos 18 anos de vida do agraciado, seria um pezinho de meia qualquer.
Mais que o regalo, o importante mesmo era a valorização, transmitida socialmente, do ato de poupar. Houve inclusive uma famosa campanha publicitária do Banese incentivando a poupança – isso lá pelos anos 1970, se não me engano. O protagonista era uma tartaruga chamada Vitorino. Num tempo em que praticamente não se falava em ecologia e meio ambiente, quem abrisse uma caderneta de poupança levava para casa, de brinde, uma tartaruguinha viva, de verdade. A musiquinha da campanha cantava mais ou menos assim: "O Vitorino vai mostrar pra toda gente que um sujeito inteligente sabe economizar…"
Pois bem, o tempo passou e o incentivo ao ato de poupar, como um valor amplamente aceito e divulgado, foi progressivamente sendo escondido até sumir quase por completo. As mais recentes gerações são educadas sob o bombardeio do incentivo ao consumo e não à poupança: "Poupar pra quê? Vai levar dinheiro no caixão?" – vociferam os tolos ou espertos arautos da moda nova. "O negócio é gastar, meu irmão! Viajar, comprar tudo do bom e do melhor, ter sempre o último modelo… O negócio é curtir a vida… Se não tiver o dinheiro na mão, paga no cartão, no crédito…"
Porém, há sempre uns poucos que caminham diferente da manada. Uma amiga, muito previdente, prestadora de serviços e sem emprego fixo, me contou o seguinte: ela guarda, de modo sagrado, três vezes o valor do que fatura por mês (economia alcançada a duras penas). Assim, havendo qualquer imprevisto que a impeça de trabalhar ela terá, pelo menos, três meses de autonomia financeira garantida… Pode até parecer pouco, mas, nos dias de hoje, com a mentalidade consumista que impera, muita gente que poderia poupar até bem mais que a minha amiga, vive atolada em dívidas, renegociando-as infinitamente e sem nenhuma poupança.
Claro que quanto menores os ganhos de uma pessoa mais difícil será fazer a poupança, porém, por outro lado, o consumo excessivo também deteriora muito mais a condição dos que têm renda menor. Considero uma grande perda social a destruição da nossa antiga mentalidade de valorização da poupança.

* Antonio Passos é jornalista

 

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