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“LETRIZAÇÃO” DO DEBATE ACADÊMICO


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Publicado em 20 de abril de 2024
Por Jornal Do Dia Se


* Manoel Malheiros Tourinho & Manoel Moacir Costa Macêdo

Tem sido redundante os escritos e falas sobre o desarranjo moral e ético que vitima a sociedade brasileira, com realce em algumas de suas estruturantes organizações, como o Congresso Nacional. As suas raízes estão fincadas na religião, na escravidão e na educação, entre outros condicionantes. Destaque para a última, na formação acadêmica universitária, principalmente.
No último pleito para eleição do presidente da República, as religiões desligaram dos céus e ligaram os seus discursos e práticas na terra, apenas na terra. E o pior, como diz José Antônio Pagola na obra O Caminho Aberto por Jesus, “infelizmente, o cristianismo, como é vivido hoje por muitos, não suscita ‘seguidores’ de Jesus, mas só adeptos de uma religião”.
As Igrejas, acantonadas em cada esquina citadina viraram células político-partidárias, verdadeiras “seitas”, que induzem os seus adeptos a apoiar candidaturas profetizadas como messiânicas, embora passantes ao largo do caminho de Jesus. Inúmeros desses “profetizados” chegam ao Congresso Nacional com a Bíblia debaixo do braço, e se tornam imediatamente integrantes de grupos de pressão, que se sentem superiores na estrutura de poder a exemplo da bancada evangélica, da bala, do boi, entre tantas. Em verdade, Jesus Cristo, não criou nenhuma igreja e nem religião, ele trouxe um projeto civilizatório para a humanidade, muito além de seu tempo.
O lado da moeda congressual passa pela universidade, que tem no MEC – Ministério da Educação, a sua gênese indutora, sejam os Ministros da educação, de esquerda ou de direita. Alguns rechaçam Paulo Freire e suas pedagogias de consciência e libertação. A universidade, que deveria ter o papel dialético de discutir a história, o presente e o futuro, não o faz, tampouco dá sustentação a quem deseja fazê-lo.
A burocracia estatal em sua face atrasada, encarnada no MEC e representações, independente das origens partidárias, preferem encher as universidades com regulamentações que, cada vez mais, levam a comunidade acadêmica à alienação, apesar da existência de legislações vistas como lixo autoritário e advindas do período da ditadura militar. Um exemplo, é a lista tríplice para a escolha de Reitores e a proporcionalidade de votos que majora o poder de 70% para à categoria docente. Tais fórmulas terminam perpetuando um estado de anomia social das categorias de técnicos de nível superior e de alunos que, embora sejam tão importantes como a de professores, também indispensáveis a dinâmica acadêmica, tem seu poder de escolha reduzido a apenas 15% respectivamente.
Algumas questões merecem respostas e aprofundamentos. Não é o alunado a razão de ser da universidade, por que então limitar a sua participação interna a míseros 15%? Qual a unidade acadêmica, como os Institutos, prescinde de seus técnicos de nível superior, muitos qualificados, doutores, importantes na conexão extensão-pesquisa-ensino-administração, ministrando aulas inclusive? Por que então limitar a sua participação também aos reduzidos 15%? Não somos todos, ativos importantes no conceito de educação superior na função universitária? Diante disso uma relevante pergunta, ainda exige resposta: Como pode o Congresso Nacional, a casa legisladora, e um Ministério da Educação, a casa executiva, formularem e agirem com políticas de equidade, se os seus representantes, deputados, senadores e executivos são formados religiosa e politicamente em ambientes carentes do igualitarismo? Oitenta e cinco por cento do parlamento nacional se declaram cristãos e com formação superior. A quem atribuir a culpa?
Por fim, uma explicação adicional sobre a  “Letrização”.  Os debates recentes são executado sem sua extensão, via WhatsApp, ao invés de presenciais, democráticos, abertos, gestualidade visível em ambiente público, sem o recurso tecnológico fechado, sugerindo um recurso que trafega entre a covardia e o medo. Para a professora Esther Perel, da universidade de Nova York e especialista em relacionamentos contemporâneos, isto quer dizer “intimidade artificial”. Para ela, estamos vivendo em permanente estado de atenção parcial. Nunca estamos 100% presentes. Nossa atenção está sempre dividida entre as pessoas e o nosso celular, mídias sociais, alertas de mensagem e assim por diante. Nesse contexto não é possível a “intimidade real”, e para nós outros, a “intimidade artificial”, não prospera e nem existe.

* Manoel Malheiros Tourinho e Manoel Moacir Costa Macêdo são engenheiros agrônomos (Os autores agradecem a assistência da Professora Raimunda D’Alencar da UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus – BA).

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