Sexta, 11 De Outubro De 2024
       
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Mãe e bebê: a ambiguidade nas canções de ninar


Publicado em 10 de dezembro de 2021
Por Jornal Do Dia Se


No livro A erótica do sono: ensaios psicanalíticos sobre a insônia e o gozo de dormir, publicado pela Aller Editora, o psicanalista Mario Eduardo Costa Pereira discute, sob diferentes perspectivas, a relação dos sujeitos com o sono e o mundo desconhecido que se abre com o dormir. Uma das perspectivas é a ambiguidade existente nas canções de acalanto, entoadas por mães para apaziguar e adormecer seus filhos.
Costa Pereira percebe que tais canções, presentes em todos os tempos e em todas as culturas, carregam um curioso paradoxo: se, por um lado, são melodias ternas, calmas e previsíveis, por outro, narram histórias de monstros e terror. Assim, o acalanto tensiona amor e ameaça, fazendo com que a mãe represente para o bebê a proteção contra os perigos do mundo externo.
Ao mesmo tempo, o erotismo subjacente ao ato de ninar um bebê, diz o autor, apresenta uma especificidade na sociedade brasileira: no Brasil, a escravização de africanos obrigou muitas mulheres, as amas de leite, a ninar filhos que não eram os seus, fato que marcou decisivamente os processos de subjetivação do país. A Mãe Preta trouxe de seu continente práticas corporais presentes em nossos hábitos até hoje, como o cafuné. Outro paradoxo, portanto: carinho em meio à violência da escravização.
Dessa forma, o livro é uma obra que busca entender, sem tabus e preconceitos, as diversas formas como a relação mãe-bebê pode se configurar, tanto no âmbito individual quanto no social. É um contato de corpos, conclui Costa Pereira, que pode inscrever marcas permanentes no sujeito e em um país. O processo para compreender essa relação inclui que lidemos com os fantasmas que cercam a hora de dormir, mas abre a possibilidade de expulsá-los ou, ao menos, conviver com eles.

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