Quinta, 23 De Janeiro De 2025
       
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Maíra errou


Publicado em 29 de novembro de 2013
Por Jornal Do Dia


Essa desvairada de boca suja esteve no Ministério Público estadual mais de uma vez denunciando as péssimas condições de trabalho a que os professores se encontram sujeitos e há poucos dias retornou ao MP de posse das mesmas provas que inoportunamente divulgou, para pedir a responsabilização por aquilo que julga ser um crime.

 

* Inaê Magno

Maíra errou! Xingou. Não pode xingar. Sem educação! Se for explodir, espocar tem que ter classe, fineza. É preciso manter o tino, encontrar o tom.
Maíra errou! Expôs o absurdo do analfabetismo de meninos e meninas de treze, catorze anos, que desde os sete estão na escola e nada aprenderam. Não pode expor as crianças, elas são as vítimas, são hipossuficientes, precisam de proteção. Exibicionista! Se quer contar ao mundo o inimaginável analfabetismo dos escolares tem que ser discreto, cuidadoso. É preciso manter o tino, encontrar o tom.
Maíra errou! Falou que a escola pública brasileira é um projeto falido, hipócrita, escravagista, instituição feita para falhar, para manter o status quo da ralé – putas, bandidos, excluídos de toda a sorte -; uma escola falaciosa que, por ser nada mais que mentira, deveria ser fechada, retirada do mapa. Anarquista (ou seria neoliberal?)! Não pode dizer que escola pública tem que fechar. Esqueceu que a salvação do Brasil está na "escola pública de qualidade" – esse jargão vazio, entoado levianamente pela pequena burguesia e pela elite brasileiras que tanto abominam a ralé? Se quer falar mal da escola pública (e como falar bem?) tem que fazer uma crítica construtiva, encontrar caminhos, dar soluções. É preciso manter o tino, encontrar o tom.  
Sim, Maíra errou! Perdeu o tino, não encontrou o tom. Mas, pasmem, o senhor e a senhora, que tão altivamente defendem o bom senso e o bom tom, erram ainda mais ao aceitarem com passividade e alienação de gado toda a barbárie que fez Maíra desatinar, desafinar.
Teriam vocês, pessoas-gado, se me permitem a expressão, parado para olhar as imagens das provas escolares que Maíra expôs desatinadamente? E o que lhes veio ao peito (pois que o riso de escárnio pelos garranchos e a estupidez daquelas pobres crianças pobres é certo que lhes veio à face)? Terá sido a piedade cristã aos injustiçados, enganados, desassistidos ou ao menos o desprezo ou o ódio (cristão ou não, pouco importa) aos opressores, injustos, enganadores? Tenho minhas dúvidas. Terão vocês, bípedes bovinos se perguntado o por quê daquelas barbaridades (ou sua visão de gado só aponta para onde corre a manada)? Será que lhes ocorreu pesquisar detalhes da escola que levou Maíra ao disparate, onde o rendimento escolar é pífio, a infraestrutura é desumana e a insegurança é a lei (até professor baleado por aluno a bela escola já teve)?
É, tem coisa que vaqueiro não conta pra não desgarrar a boiada. E o vaqueiro que lhes tange, senhores gado-humanos, também não haverá de contar que em menos de um ano de docência na educação pública, nessa escola de horrores, a professora inoportuna, essa que não tem tino nem tom, critica e diz palavrão, já fez mais que muitos que lá estão há anos, cheios da "palavra certa pra doutor não reclamar". Essa desvairada de boca suja esteve no Ministério Público estadual mais de uma vez denunciando as péssimas condições de trabalho a que os professores se encontram sujeitos e há poucos dias retornou ao Ministério Público de posse das mesmas provas que inoportunamente divulgou, para pedir a responsabilização por aquilo que julga ser um crime (esse sim, um crime maiúsculo) contra as pobres crianças pobres daquela pobre escola. Os senhores não sabiam? Claro que não, a história que o vaqueiro lhes conta é só pra boi dormir!
Acho certo que se tenha tino e tom. Maíra errou! Mas há que se ter, junto ao tino e ao tom, honestidade, senso de justiça, decência e, sobretudo, humanidade. Que ecoem alto as cobranças àqueles que governam o Estado brasileiro e que, na soma de décadas de pilhagem, dilaceraram as escolas públicas deste País, transformando-as em depósitos asquerosos e enfermos da ralé e suas crias. Esses piratas da coisa pública, autores da farsa de uma escola que serve para enlouquecer professores (vejam as estatísticas, tenham essa curiosidade), animalizar estudantes e manter intacto o establishment, devem responder duramente pelas atrocidades cometidas. Mas, honestamente, quem dos senhores os irá cobrar?
Maíra tanto quis fazer, tanto quis consertar, tanto quis acertar, que errou. Perdeu o tino e o tom. Xingou, expôs, criticou, mas pelo menos tirou a cangalha, quebrou a cerca e disse NÃO a essa estúpida e perversa vida de gado.
A propósito, Maíra Magno é minha irmã.

* Inaê Magno é socióloga

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