Sem controvérsia.
Mais amor, por favor
Publicado em 20 de setembro de 2023
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos – riansantos@jornaldodiase.com.br
“O tempo só anda de ida”, mas o verso certeiro do poeta Manoel de Barros não considera os desvios da História. Basta um cochilo. Ao menor vacilo, os reaças nos púlpitos e nos parlamentos engatam a marcha ré, rumo a um mundo conformado à própria imagem e semelhança.
Agora mesmo, um pastor em vestes de deputado federal, lobo em pele de cordeiro, tenta impor obstáculos ao reconhecimento da união homoafetiva, por força de argumentos os mais esdrúxulos.
Dado a uma interpretação da Constituição Federal completamente desprovida de nexo, o tal Pastor Eurico afirma, por exemplo, que “nos termos constitucionais, nenhuma relação entre pessoas do mesmo sexo pode equiparar-se ao casamento ou a entidade familiar”.
Ou ainda: “aprovar o casamento homossexual é negar a maneira pela qual todos os homens nascem neste mundo, e, também, é atentar contra a existência da própria espécie humana”.
O leitor achou pouco? Pois o sujeito vai além e defende: “A palavra ‘casamento’ representa uma realidade objetiva e atemporal, que tem como ponto de partida e finalidade a procriação, o que exclui a união entre pessoas do mesmo sexo”.
Os ególatras de bíblia em punho sabem que não há qualquer controvérsia legal a respeito da união civil homoafetiva desde 2011, quando o Supremo Tribunal Federal reconheceu, em decisão unânime, a equiparação da união homossexual à heterossexual. Ou seja, confirmou em âmbito jurídico uma contingência da vida real: a união de pessoas do mesmo sexo constitui entidade familiar. Ponto final.
Em outro contexto, a patacoada do Pastor Eurico não teria a menor chance de prosperar. Hoje, no entanto, esbirros da extrema direita tupiniquim disputam o espólio do bolsonarismo, alheios ao pudor e ao senso de ridículo.