Domingo, 12 De Janeiro De 2025
       
**PUBLICIDADE
Publicidade

Maradona


Publicado em 29 de novembro de 2020
Por Jornal Do Dia


 

* Pedro Simonard
Envelhecer tem suas vantagens e suas desvantagens. Alguém já disse que um velho é um jovem que deu certo.
Uma das desvantagens de se ficar velho é que as referências vão-se embora, morrem, desaparecem, passam a ser ridículas a partir de certa idade, mas não são esquecidas. Manda-chuva, Chuchu e Batatinha, Johnny Quest e Scoobydoo entram para o rol das referências que, a partir de uma certa idade, torna-se ridículo citá-las, mas não é ridículo rememorá-las.
Com o futebol não acontece isso. Aqueles que nasceram no começo dos anos 1960 como eu usufruíram da possibilidade de ter assistido ao vivo ou "via Embratel" aquela que, segundo os mais antigos, é a segunda melhor geração do futebol mundial. Os velhos têm uma tendência a achar que aquilo que vivenciaram na juventude é sempre melhor. Não vi Heleno, Garrincha, Nilton Santos, Zizinho, Jair Rosa Pinto, Danilo Alvim, Didi e outros desta geração jogarem. Por outro lado, assisti in loco, nos gramados do Maracanã e de Marechal Hermes ou ao vivo pela televisão Jairzinho, Zequinha, Gerson, Nei Conceição, Marinho Chagas, Dirceu, Mendonça, Pelé, Rivelino, Zico, Junior, Leandro, Falcão e tantos outros. No Maracanã presenciei espetáculos protagonizados por Platini, Giresse, Trésor, Tigana, Kevin Keegan, Schumacher, Kaltz, Breitner, Matthäus, Littbarski e outros tantos estrangeiros.
Maradona foi um caso a parte. Nunca consegui vê-lo jogar no Maracanã, onde jogou poucas vezes, mas me lembro bem de sua categoria. Me lembro de ter sido apresentado ao seu futebol em uma imagem de um gol no qual ele cruzou a bola de letra para o atacante concluir. O ano era 1978 ou 1979. 
Maradona entrou para o rol de poucos jogadores que ganharam uma Copa do Mundo quase sozinho. Ele em 1986, Garrincha em 1962 e outros poucos.
Na eterna celeuma entre quem jogou mais, não acho que ele tenha jogado mais do que Garrincha, a quem só vi jogar por meio das histórias que meu pai me contava, e Pelé, que vi jogar. Isso não diminui em nada o Maradona a quem os argentinos consideram deus. Ele só está abaixo desses dois seres inexistentes. Garrincha e Pelé são lendas que jamais existiram. O que contam deles e o que vi são mentiras porque impossíveis de serem realizadas. 
Maradona era canhoto, usava pouco a perna direita necessária apenas como base de apoio para a canhota fazer o que fazia, coisas espetaculares.
Em 1989, o bicheiro Emil Pinheiro era vice-presidente de futebol do Botafogo. Maradona negociava uma renovação complicada com o Napoli e estava no Rio. Almoçou em uma churrascaria com Alemão, seu parceiro no Napoli e cria do Botafogo, e com Careca, também parceiro do Nápoli.
Emil Pinheiro soube e convidou Maradona para jogar no Glorioso. No dia seguinte os jornais noticiavam: "Maradona diz querer jogar no Botafogo". Infelizmente para nós, botafoguenses, quando o craque retornou para a Itália o Nápoli acertou-se com ele.
Maradona era um monstro não só em campo como fora dele. Notícias dão conta de que ele planejou operações secretas para driblar, coisa que ele fazia muito bem, as sanções econômicas impostas pelo imperialismo e levar alimentos para o povo venezuelano.
Apoiou com sua imagem e com ações os governos populares da América Latina. Lula, Chaves, Maduro, Kirchner, Evo Morales, Rafael Correa contaram com o apoio de Maradona. Infelizmente para nós, nossos craques fazem arminha e autografam camisas para este rebotalho de seres humanos que governa o Brasil desde janeiro de 2019.
Maradona é uma dessas figuras humanas que deixam a vida para entrar na história. 
Foi-se o homem, ficam as imagens e lembranças de seus feitos nos gramados mundo afora.
* Pedro Simonard, antropólogo, documentarista, professor universitário e pesquisador

* Pedro Simonard

Envelhecer tem suas vantagens e suas desvantagens. Alguém já disse que um velho é um jovem que deu certo.
Uma das desvantagens de se ficar velho é que as referências vão-se embora, morrem, desaparecem, passam a ser ridículas a partir de certa idade, mas não são esquecidas. Manda-chuva, Chuchu e Batatinha, Johnny Quest e Scoobydoo entram para o rol das referências que, a partir de uma certa idade, torna-se ridículo citá-las, mas não é ridículo rememorá-las.
Com o futebol não acontece isso. Aqueles que nasceram no começo dos anos 1960 como eu usufruíram da possibilidade de ter assistido ao vivo ou "via Embratel" aquela que, segundo os mais antigos, é a segunda melhor geração do futebol mundial. Os velhos têm uma tendência a achar que aquilo que vivenciaram na juventude é sempre melhor. Não vi Heleno, Garrincha, Nilton Santos, Zizinho, Jair Rosa Pinto, Danilo Alvim, Didi e outros desta geração jogarem. Por outro lado, assisti in loco, nos gramados do Maracanã e de Marechal Hermes ou ao vivo pela televisão Jairzinho, Zequinha, Gerson, Nei Conceição, Marinho Chagas, Dirceu, Mendonça, Pelé, Rivelino, Zico, Junior, Leandro, Falcão e tantos outros. No Maracanã presenciei espetáculos protagonizados por Platini, Giresse, Trésor, Tigana, Kevin Keegan, Schumacher, Kaltz, Breitner, Matthäus, Littbarski e outros tantos estrangeiros.
Maradona foi um caso a parte. Nunca consegui vê-lo jogar no Maracanã, onde jogou poucas vezes, mas me lembro bem de sua categoria. Me lembro de ter sido apresentado ao seu futebol em uma imagem de um gol no qual ele cruzou a bola de letra para o atacante concluir. O ano era 1978 ou 1979. 
Maradona entrou para o rol de poucos jogadores que ganharam uma Copa do Mundo quase sozinho. Ele em 1986, Garrincha em 1962 e outros poucos.
Na eterna celeuma entre quem jogou mais, não acho que ele tenha jogado mais do que Garrincha, a quem só vi jogar por meio das histórias que meu pai me contava, e Pelé, que vi jogar. Isso não diminui em nada o Maradona a quem os argentinos consideram deus. Ele só está abaixo desses dois seres inexistentes. Garrincha e Pelé são lendas que jamais existiram. O que contam deles e o que vi são mentiras porque impossíveis de serem realizadas. 
Maradona era canhoto, usava pouco a perna direita necessária apenas como base de apoio para a canhota fazer o que fazia, coisas espetaculares.
Em 1989, o bicheiro Emil Pinheiro era vice-presidente de futebol do Botafogo. Maradona negociava uma renovação complicada com o Napoli e estava no Rio. Almoçou em uma churrascaria com Alemão, seu parceiro no Napoli e cria do Botafogo, e com Careca, também parceiro do Nápoli.
Emil Pinheiro soube e convidou Maradona para jogar no Glorioso. No dia seguinte os jornais noticiavam: "Maradona diz querer jogar no Botafogo". Infelizmente para nós, botafoguenses, quando o craque retornou para a Itália o Nápoli acertou-se com ele.
Maradona era um monstro não só em campo como fora dele. Notícias dão conta de que ele planejou operações secretas para driblar, coisa que ele fazia muito bem, as sanções econômicas impostas pelo imperialismo e levar alimentos para o povo venezuelano.
Apoiou com sua imagem e com ações os governos populares da América Latina. Lula, Chaves, Maduro, Kirchner, Evo Morales, Rafael Correa contaram com o apoio de Maradona. Infelizmente para nós, nossos craques fazem arminha e autografam camisas para este rebotalho de seres humanos que governa o Brasil desde janeiro de 2019.
Maradona é uma dessas figuras humanas que deixam a vida para entrar na história. 
Foi-se o homem, ficam as imagens e lembranças de seus feitos nos gramados mundo afora.

* Pedro Simonard, antropólogo, documentarista, professor universitário e pesquisador

 

**PUBLICIDADE



Capa do dia
Capa do dia



**PUBLICIDADE


**PUBLICIDADE
Publicidade