Melancolia artística Serigy

 

Arthur Matos vai empenhar a viola e o gogó no repertório de Bob Dylan. Não faz sacrifício nenhum ao dedicar algumas horas de show ao bardo nascido sob as barbas do Tio Sam. Isso de um cantor e compositor local precisar se esgoelar nas madrugadas com repertório alheio, no entanto, diz muito sobre o ambiente artístico da aldeia.

Arthur não entrou nessa seara ontem, estreou nos bares da vida ainda menino. Desde sempre, contudo, defendeu um repertório autoral devidamente registrado em uma discografia robusta, um dos trabalhos mais bem  cuidados já realizadores solo Serigy. Ainda assim, é mais rentável – para ele, para qualquer artista em atividade na terrinha – batalhar o próprio cachê rendendo homenagens aos colegas ditos consagrados.

 O show tributo dedicado a Bob Dylan certamente não peça por ausência de sinceridade, assim como as belas apresentações do Sargento Mostarda tratam a obra monumental dos Beatles com inquestionável devoção e seriedade. Mas Arthur assina um belo trabalho autoral. Por alguma razão, o prezado público parece ter mais apreço pelo cânone, em oposição aos gritos e sussurros de um artista muito vivo, tropeçando entre nós.

 Sim, Arthur Matos canta Dylan na 1Agalery, hoje à noite. Com paixão, amor, alegria. Eu recomendo a apresentação de olhos fechados, certo do afinco com que o bardo sergipano encara a missão. No escuro das pálpebras cerradas, no entanto, adivinho também uma nota aguda de melancolia.