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METAPOLÍTICA (II)


Publicado em 13 de novembro de 2021
Por Jornal Do Dia


* Manoel Moacir Costa Macêdo e Manoel Malheiros Tourinho

A generalização da “Metapolítica” na práxis, reflete os sentidos da “modernidade líquida”, descrita pelo sociólogo Zygmunt Bauman, onde tudo é líquido e descartável. Nada é permanente. Sombreia a nostalgia, o tradicionalismo e a “ascensão de uma ideia sombria da democracia e desconsideração caótica sem qualquer tipo de limite”. Estratégias de desmonte do vigente “contrato-social”.

Jornalistas ameaçados, judiciário e políticos atacados, imigrantes discriminados, racismo, xenofobia, discurso de ódio e estado degenerado tipificam a operabilidade da “Metapolítica”. As suas ações seguem uma metodologia articulada por mecanismos sofisticados e comuns no planeta. Agressões nas mídias sociais por milícias digitais. Influenciadores virtuais restritos às específicas “bolhas” e comunidades. Suporte financeiro de bilionários ressentidos. Ações que ao invés de unir, desagregam, polarizam e estimulam a discórdia. Não são opiniões e exercício da liberdade de pensar, mas falsas e criminosas narrativas que agridem os valores iluministas, como o negacionismo, o repúdio aos direitos e garantias fundamentais do ser humano e a defesa da “servidão voluntária”.

Exemplos não faltam para comprovar a lógica em uso da “Metapolítica” na recente década, a exemplo dos governos do Brasil, Estados Unidos, Hungria e Polônia. O governo do Brasil, conservador nos costumes, de ultra direita, apologista da tortura, da ditadura e das fake news. Alinhado incondicional do chamado trumpismo, desde a assessoria da campanha eleitoral pelo mesmo estrategista de Trump. Recentemente, o “ex-conselheiro de Trump [foi] detido pela PF no aeroporto de Brasília. Ele estava no Brasil para participar de congresso conservador e é suspeito de participação na organização de atos antidemocráticos […] Ele foi recebido pelo presidente [da República] no Palácio do Planalto”. A vitória do partido republicano nos Estados Unidos e o governo Donald Trump. A invasão do Capitólio, sede do poder legislativo norte-americano. A simbólica democracia ocidental ameaçada numa eleição popular agredida e questionada.

Na Hungria da “Metapolítica” os apoiadores apresentam o “governo húngaro ao exterior, diferente do Estado fechado, corrupto e unipartidário […] no qual os amigos, a família e os primos do primeiro-ministro ficam ricos, pessoas promovidas e rebaixadas de sua lealdade partidária […] manipulações legais que deram ao primeiro-ministro controle quase total sobre a imprensa e o processo eleitoral e com a corrupção e o uso de dinheiro. O partido governante usou racismo e antissemitismo disfarçados em sua campanha eleitoral”.

Na Polônia, a “Metapolítica” com dupla referência. De um lado os traumas de ter sido invadida e anexada às Repúblicas Socialistas Soviéticas no tempo da Guerra Fria. Do outro, as experiências de um governo sindicalista no pós-comunismo. Realidades insuficientes para os poloneses defenderem a democracia como um sistema político com soberania popular na escolha de seus governantes, nas liberdades, nos direitos individuais e nas garantias de ir e vir. Ao contrário, elegeu um governo que adota “um conjunto de ideias, não somente xenofóbicas e paranoicas, mas abertamente autoritárias [onde] a unidade é a anomalia. A polarização é normal. E o apelo ao autoritarismo é eterno”.

Brasil, Estados Unidos, Hungria e Polônia são sociedades polarizadas, nostálgicas e com profunda divisão que ultrapassa as escolhas políticas, partidárias e ideológicas, para assentar nas relações pessoais, profissionais e familiares. No dizer de um premiado internacional articulista, uma demonstração de “como o autoritarismo seduz e as amizades são desfeitas em nome da política”.Os distintos condicionantes históricos, sociais e econômicos, dos referidos países, desenvolveram simultaneamente uma similar “política raivosa”.

A história com os seus registros, inexoravelmente fixará em seus anais a “Metapolítica” como um tempo insano, sombrio e estranho aos valores civilizatórios e iluministas. Aos utópicos, a esperança no porvir de um novo paradigma baseado nos ensinos da pós-materialidade. Quem viver, verá.

* Manoel Moacir Costa Macêdo e Manoel Malheiros Tourinho, são engenheiros agrônomos e respectivamente PhDsem Sociologia pelas University of Sussex, UK e University of Wisconsin, USA.

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