Dedé Santana
MEU MUNDO TRAPALHÃO
Publicado em 25 de dezembro de 2021
Por Jornal Do Dia Se
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
Eu tive a alegria de conhecer pessoalmente Dedé Santa em Lagarto-SE, em sua passagem em 2011, como a atração especial do Circo Europeu Internacional. Nos anos 80, ele e os outros três trapalhões (Didi, Mussum e Zacarias) já estiveram na cidade se apresentando no antigo Cine Teatro Glória. Eu os vi à distância, em meio a uma multidão que se acotovelava na rua Laudelino Freire.
Dedé Santana esbanjava simpatia naquela mágica noite de novembro. Sorriso franco e aberto, carinhoso, me dedicou alguns minutos de conversa, quando ouvia atentamente as minhas memórias de criança. Tiramos uma foto e saí daquele trailer ao lado do circo, muito emocionado. Passados dez anos, a comemoração dos quarenta anos do lançamento de “Os Saltimbancos Trapalhões” (1981) me fez recordar um dos melhores capítulos de minha infância.
Impossível não estar atento em frente à televisão no domingo à noite para rir aos montes e se encantar com as tiradas dos Trabalhões. A abertura até hoje lateja em minha memória. Um desenho animado do grupo concebido pelo genial Hans Donner, de 1977 e que ficou nas telas da TV Globo por muitos anos, pelo menos até 1984, quando ele deu uma nova roupagem, mas mantendo a sonoridade original, de José Menezes França.
No cinema, eu não perdia um filme sequer. Se não estiver enganado, vi a todos eles e os tenho boa parte no meu acervo pessoal, em DVD. Saia do Cine Teatro Glória com a cabeça cheia de imaginação, me sentia e até imitava alguns dos personagens. Filmes inesquecíveis como “O Trapalhão no Planalto dos Macacos” (1976), “O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão” (1977), “Os Trapalhões na Guerra dos Planetas” (1978), “Os Três Mosqueteiros Trapalhões” (1980), “Os Trapalhões na Serra Pelada” (1982), “O Cangaceiro Trapalhão” (1983), “Atrapalhado a Suate” (1983), “Os Trapalhões e o Rei do Futebol” (1986). Isso, apenas para citar os meus favoritos.
E dentre os mais de 40 filmes, aquele que mora em meu coração sem pagar aluguel, certamente é “Os Saltimbancos Trapalhões” (1981). “Uma pirueta, duas piruetas, Bravo, bravo”, na voz de Chico Buarque de Holanda é algo que a gente nunca esquece. Com roteiro de Renato Aragão (Didi), Antonio Pedro, Gilvan Pereira, J.B. Tanko e Tereza Trautman, e baseado na peça de teatro de Sergio Bardotti e Luis Enríquez Bacalov, trata-se de uma das obras primas cinematográficas do grupo Os Trapalhões.
O cartaz de “Os Saltimbancos Trapalhões” está sem dúvida, também, entre os melhores, sem falar no elenco, com a participação de Lucinha Lins (cantando e encenando), Ivan Lins (ao piano) e Mila Moreira, falecida recentemente, no papel de Tigrana. Sem falar na trilha sonora, que além das canções de Chico Buarque, traz ainda Elba Ramalho, Bebel Gilberto e a própria Lucinha Lins com a canção “História de uma gata”, que para além da belíssima letra de Chico Buarque, a performance da cantora que marcou o cinema nacional e que emociona pessoas até hoje, como este que vos escreve.
Minha identificação com os “Os Saltimbancos Trapalhões” vem sobretudo pelo fato de eu sempre me identificar com o mundo circense. Quando criança, eu sonhava em ser palhaço de circo e até brincava de circo com meus amigos de rua. A trama toda se passa num ambiente circense, mostrando os bastidores e a vida dura de seus artistas e também da turma que trabalha nos bastidores.
As mortes de Zacarias, em 1990, e de Mussum, em 1994, deixaram os seus seguidores órfãos. Os esforços Didi e Dedé em seguir com o grupo, com novos componentes foi louvável, mas não teve o mesmo encanto e encantamento. Hoje, fica a lembrança e a saudade de um mundo que era menos politicamente correto, menos chato, menos odioso, menos preconceituoso e mais feliz: meu mundo trapalhão!