Mímica golpista
Publicado em 11 de agosto de 2021
Por Jornal Do Dia
A presença de tanques de guerra em espaços públicos num país ferido por traumas históri cos, como o Brasil, nunca será episódio corriqueiro, de bom agouro. A suposta demonstração de força realizada ontem pelo presidente Bolsonaro, por ordem de quem foi improvisado um inoportuno desfile militar na Praça dos Três Poderes, contudo, soou como uma piada de mau gosto. Bolsonaro pretendia intimidar o Congresso e, por tabela, o Poder Judiciário. Mas expôs apenas o próprio isolamento.
Na véspera da pantomina bélica, Bolsonaro foi às redes sociais e convidou os presidentes de todos os demais poderes da República – de Arthur Lira ao ministro Barroso. Pretenda, assim, aplicar um verniz institucional sobre a mímica golpista. Ninguém atendeu ao chamado.
Coincidência, ou não, mesmo dia, a Câmara dos Deputados estava decidida a enterrar a delirante campanha pelo voto impresso de uma vez por todas, por meio de votação em plenário. O governo Bolsonaro, único patrocinador da proposta, tinha a derrota como certa. E resolveu botar os tanques na rua.
Pegou mal para as Forças Armadas. A controversa presença de militares no governo Bolsonaro sempre foi fonte de tensão e constrangimento para o Alto Comando. Mas a escalada golpista do presidente coloca a questão sob perspectiva mais preocupante. Ninguém em sã consciência acredita que Bolsonaro teria competência e o respaldo das Armas para passar da ameaça ao gesto. A sombra projetada sobre a democracia verde e amarela, no entanto, envolve a todos os brasileiros numa nuvem tóxica de desconfiança. Eis o seu único legado.