O deputado federal André Moura
Moura diz que causa 'sofrência'
Publicado em 10 de maio de 2015
Por Jornal Do Dia
Personagem ativo na oposição ao governo Dilma Rousseff (PT), de quem já foi aliado no primeiro mandato, o deputado federal André Moura (PSC/SE) ganhou destaque no Congresso Nacional por sua atuação na CPI da Petrobras, da qual é sub-relator, e por sua proximidade com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ). Mesmo com os debates de alcance nacional, ele garante que ainda tem tempo para visitar o interior sergipano e articular as candidaturas do seu grupo político para as eleições municipais de 2016, cujo trabalho de bastidores já começou.
Em entrevista ao JORNAL DO DIA, ele tratou de todos estes assuntos: defendeu a possibilidade de o PSC lançar candidato próprio à prefeitura de Aracaju e até fez piada com a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que lhe permitiu assumir o mandato de deputado, mesmo condenado judicialmente em um processo por improbidade administrativa praticada quando era prefeito de Pirambu, em 2005. Para André Moura, esta legitimidade causa ‘sofrência’ nos adversários.
Leia a íntegra da entrevista:
JORNAL DO DIA – O PSC participou do primeiro governo Dilma, mas sempre andou às turras com o PT. Na campanha pela reeleição o PSC fez outra opção e agora integra a bancada de oposição no Congresso. Qual a diferença da primeira gestão da presidente Dilma para o início da atual gestão?
André Moura – O primeiro mandato da presidente se deu sob a "sombra de Lula", ou seja, para o bem e para o mal, o peso da popularidade do ex-presidente tinha grande influência no governo. Aos poucos, Dilma foi conquistando a aprovação da sociedade, com o que parecia ser um jeito diferente de administrar. Ao PSC, ela se mostrava disposta a conduzir mudanças importantes: o combate à corrupção, o aprofundamento da gestão responsável da economia, os investimentos em infraestrutura e no combate à pobreza, além das reformas política e tributária. Fomos aliados nos dois primeiros anos do governo Dilma, porém sem subserviência. Nosso apoio estava em conformidade com os nossos eleitores. Os problemas se agravaram. Surgiram tensões na base aliada, pedaladas econômicas, o recrudescimento da inflação, a crise de confiança dentro e fora do país, e para piorar, os sucessivos escândalos de corrupção envolvendo o PT. Não nos restou alternativa, a não ser lançar um candidato próprio à presidência, e hoje cobramos as promessas feitas por Dilma.
JD – O PSDB e outros partidos de oposição pregavam o impeachment da presidente Dilma, mas agora recuaram. Qual a posição do PSC?
AM – O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, talvez um dos políticos mais lúcido deste país, resumiu essa questão de forma simples: "O impeachment é como a bomba atômica. Não serve para usar, só para intimidar." O impedimento de Dilma exigiria comprovar a participação da presidente em algum ato ilícito. A lei é clara. Contudo, se a situação piorar muito, sobretudo no campo econômico, penso que em algum momento as maiores lideranças políticas do país precisarão se reunir para costurar um acordo, uma saída para essa crise de confiança do governo.
JD – O senhor acha que a presidente Dilma corre o risco de não concluir sua administração?
AM – Como disse, dependerá de como a crise atinja o governo. Do jeito que está é que não pode ficar. O Brasil perdeu muito com as aloprações econômicas do PT, desde Lula. Veja que se fala num prejuízo de 6 bilhões de reais com a corrupção na Petrobras, mas no total, somente em 2014, a empresa perdeu quase 22 bilhões de reais, parte disso em decorrência da gestão temerária a que foi submetida. Fala-se em um rombo de quase 50 bilhões nos últimos quatro anos. Haja sangria. A imagem da empresa até poderá ser resgatada, mas, e quanto ao que escorreu pelo ralo? Quem vai arcar com esse prejuízo? São questões que podem prejudicar a presidente.
JD – Na legislatura passada, primeiro mandato como deputado federal, sua atuação já foi destacada na Câmara e agora, com a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Casa, o senhor é um dos seus braços direitos. Como é hoje a sua rotina na Câmara. Há tempo de continuar voltado para os problemas de Sergipe?
AM – Sergipe é minha pátria, é minha razão de ser como político. Claro que o envolvimento em tantas comissões (presidente da maioridade penal, relator do pacto federativo, sub-relator da CPI da Petrobras, etc) toma tempo, mas é aquela velha história: o tempo quem faz é a gente. Liderar um agrupamento na oposição não é tarefa fácil. Tenho aproveitado os fins de semana para realizar reuniões políticas com os agrupamentos da capital e interior, na sede do PSC/SE ou visitando os municípios, obviamente fitando o pleito de 2016. Além disso, recebo semanalmente vários prefeitos sergipanos no meu gabinete em Brasília, independente da sigla partidária, que me trazem diversas demandas. Buscamos atender na medida do possível, sem discriminar.
JD – O que deve mudar nas regras eleitorais a partir das próximas eleições?
AM – Em resumo: mandatos de dois anos para prefeitos e vereadores entre 2016 e 2018; eleições gerais, já a partir de 2018; ou unificação das eleições em 2022, com o próximo mandato municipal de seis anos; fim da reeleição para cargos majoritários, com mandato de cinco anos para todos os níveis; fim da proporcionalidade para os legislativos, ou seja, eleição do mais votado; fim da suplência para senador e mandato de cinco anos; financiamento misto de campanha e novas exigências para o funcionamento de partidos e para o acesso ao Fundo Partidário, bem como ao horário de propaganda partidário no rádio e na TV. Isto, levando em consideração as tendências atuais dos parlamentares integrantes da comissão da reforma política.
JD – Saindo do quadro nacional, qual a avaliação que o senhor faz hoje da política sergipana. Há espaços para grandes mudanças a partir das eleições municipais de 2016?
AM – Nunca vi um governo tão atrapalhado (risos). Claro que, do ponto de vista da oposição, todo esse desgaste público ajuda a criar boas expectativas eleitorais. Os governistas sabem que 2016 será um ano muito complicado. Eles até tentam mostrar trabalho, mas a população já compreendeu essa manipulação da realidade. Creio que muitas mudanças positivas vão ocorrer e, como a oposição está unida, são boas as possibilidades de romper a atual hegemonia. Mas não será uma tarefa fácil.
JD – Na eleição de 2012 o PSC apoiou a candidatura do prefeito João Alves Filho. Há a possibilidade dessa aliança se repetir em 2016? O PSC pensa em apresentar candidato próprio?
AM – É desejo do grupo lançar candidatura própria, conforme venho assegurando desde o final do ano passado, pois temos nomes benquistos pela sociedade. Porém, é preciso avaliar os riscos. Aracaju é estratégica do ponto de vista político e eleitoral. Não se pode vacilar, até porque nossos adversários são profissionais e estão no jogo com vontade. Podemos apoiar o doutor João Alves? É uma possibilidade que não deve ser descartada. Mas também podemos apoiar outras candidaturas, a exemplo do deputado Valadares Filho, cujo desempenho em 2012 surpreendeu. Tudo dependerá das tratativas. Agora, um ponto será essencial para quem quiser nosso apoio: não fazer composição com o governo Jackson Barreto.
JD – Qual o objetivo da anunciada transferência dos domicílios eleitorais do senhor e do senador Eduardo Amorim para a capital. Seria para advertir aliados em torno de uma eventual candidatura de um dos dois à PMA?
AM – Meu domicílio eleitoral continua o mesmo, Japaratuba. Sou eleitor da ex-prefeita Lara Moura, minha esposa, e de lá não saio. Quanto ao senador Eduardo Amorim, sem dúvida conquistou grande respeito do eleitorado pela sua postura ética, pela ação política. Se depender do grupo, caso ele decida ser candidato em Aracaju, terá nosso apoio integral. Mas temos também o deputado Capitão Samuel, o deputado Adelson Barreto, ex-deputado Zeca da Silva. Enfim, a oposição está tranquila, pois, ao contrário dos governistas, temos bons nomes.
JD – Depois das eleições do no passado, Edivan Amorim desapareceu de Sergipe e pessoas próximas reclamam que desta vez ele não honrou compromissos assumidos com aliados durante a campanha. O que ocorreu de fato e qual a razão desse sumiço de Edivan?
AM – O Edivan Amorim é um amigo leal de todas as horas, e detém meu respeito pessoal e de todo grupo. Converso sempre com ele e esse sumiço é mito. Claro que, como ele tem negócios fora de Sergipe, é normal nesse momento de crise econômica que atravessa o país, que prefira ficar mais próximo das decisões. Do ponto de vista político, o que sei é que ele continua muito ativo e dando trabalho aos adversários (risos). E recebendo a todos que o procuram, como sempre fez.
JD – Colunistas políticos falam de um estremecimento nas relações do senhor com o senador Eduardo, que seria motivado com perspectivas eleitorais futuras. Além disso, existiria uma ciumeira entre as assessorias dos dois grupos em função da sua posição de destaque no Congresso. O que está ocorrendo de fato?
AM – Isso é tudo o que os governistas mais querem, que a gente brigue (risos). Ficam plantando essa intriga para ver se cola, mas quem conhece a mim e a Eduardo sabe que estamos unidos. Nosso projeto político não comporta vaidades pessoais, pois está baseado em uma visão crítica e construtiva, não na busca do poder pelo poder. O que incomoda nossos adversários é justamente nossa união. Unidos somos muito fortes e a população reconhece o trabalho que realizamos em conjunto, uma luta pelos interesses maiores de Sergipe. Quanto às assessorias, desconheço essa ciumeira. O papel vem sendo desempenhado a contento, sem que uma interfira no trabalho da outra. Neste ponto, estamos separados, até porque atuamos em casas legislativas diferentes.
JD – O senador Amorim ensaia a possibilidade de se transferir para o PSDB. O senhor pensa em deixar o PSC?
AM – Eu nunca cogitei sair do partido. Mas se ele decidir pela mudança, creio que a oposição ganha muito. É um reforço tremendo. Imagine uma composição em 2016 ou 2018 com o PSC, o PSDB e outros grandes partidos juntos num mesmo projeto. Acho que isso faz a turma governista ficar de cabelos arrepiados. Porém, deixo claro que Eduardo Amorim, o nosso maior líder, é quem deve decidir, até porque o PSC é a sua casa.
JD – O senhor sofreu uma condenação no Tribunal de Justiça de Sergipe e só conseguiu assumir o mandato depois de uma tensa disputa jurídica no TSE. O senhor recorreu desses processos? O senhor está hoje inelegível?
AM – Sempre tive confiança na Justiça e creio que provei a lisura dos meus atos, pois por unanimidade o TSE deu legitimidade ao meu mandato. Mesmo que isso cause ‘sofrência’ nos meus adversários. (risos)
JD – Quais são os planos de André Moura para 2018: disputar o governo ou repetir o apoio ao senador Amorim? E o Senado, quando estarão em jogo duas vagas?
AM – Fazer um bom mandato, cumprir com eficiência as tarefas que me foram confiadas pelo presidente Eduardo Cunha e permanecer à frente das lutas pelos interesses maiores de Sergipe e do Brasil. O resto fica pra depois. Cada dia com sua agonia, já dizia o velho profeta.