MPs pedem que Belivaldo decrete lockdown em Sergipe
Publicado em 28 de fevereiro de 2021
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
Aumenta a possibilidade de que o governo do Estado endureça mais as medidas de controle da circulação e aglomeração de pessoas em Sergipe, numa tentativa de frear o avanço do coronavírus e de suas variantes. A decretação de um toque de recolher noturno, com o fechamento das atividades e não-essenciais durante a noite, está para ser discutida na próxima quinta-feira, durante a reunião do Comitê Técnico-Científico de Atividades Especiais (Ctcae). A medida é sugerida por pesquisadores e profissionais da área de saúde, e agora passa a ter o apoio do Ministério Público.
Em um ofício divulgado na noite deste sábado, 10 promotores e procuradores dos ministérios públicos Federal (MPF/SE), do Trabalho (MPT) e do Estado (MPSE) pediram que o governador Belivaldo Chagas reavalie as medidas sanitárias de distanciamento em vigor em Sergipe, diante do risco de colapso iminente no sistema de Saúde no Estado.Entre as medidas sugeridas no ofício, estão a adoção de toque de recolher durante determinado período do dia e a suspensão de eventos e reuniões de qualquer natureza que favoreçam aglomerações.
Também foi pedida a suspensão, nos finais de semana, de atividades presenciais não essenciais de comércio e prestação de serviços, como os localizados em shopping centers e centros comerciais, bares, restaurantes, lanchonetes, pizzarias, lojas de conveniência e cafeterias, os quais voltariam a funcionar em sistema remoto ou de entregas. O intuito é conter a disseminação nos dias de maior aglomeração decorrente de atividades de lazer.
O pedido de reavaliação das medidas em vigor é baseado numa série de dados que mostram que a pandemia de Covid-19 passa por um período de aceleração em Sergipe. De acordo com projeção de pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS), o número de casos da doença deve atingir um novo pico no Estado entre os dias 20 de março e 10 de abril.
"(…) é necessário salientar que já se constatou aexistência de 3 novas cepas do coronavírus, na África do Sul, a Britânica e a do Amazonas, queaté o momento indicam ser muito mais transmissíveis, algumas com até 70% a mais decontagiosidade, sendo que em 22/02/2021 a Secretaria de Estado da Saúde (SES) confirmoua circulação da variante brasileira P.1, originária de Manaus, em Sergipe, e, em 24/02/2021,estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) confirmou tambéma presença em Sergipe da variante detectada no Reino Unido", acrescenta o documento.
Os promotores argumentam ainda que, no último dia 25, os leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) destinados a pacientes de Covid-19 tinham 95% de ocupação na rede privada. Já na rede pública da capital sergipana, a taxa de ocupação nessa data era de 80%, se considerados os hospitais mais equipados para atendimento do paciente grave. Os dados se referem a leitos para pacientes adultos.O risco de colapso do sistema de saúde público e privado é ainda agravado pela redução do número de leitos de UTI para pacientes de Covid-19 em comparação a 2020. No ano passado, Sergipe chegou a ter 203 leitos intensivos para pacientes com a doença e hoje conta com 166, ou seja, 37 leitos a menos disponíveis para a população.
Fechados – Atualmente, 13 estados decretaram algum tipo de toque de recolher noturno ou diurno. Em São Paulo, a população ficará proibida de circular entre 23h e 5h até 14 de março. Já em Pernambuco, até o dia 10, os serviços não-essenciais estarão proibidos de funcionar entre 20h e 5h, de segunda a sexta, e de 17h às 5h, aos fins de semana. As pessoas só poderão sair de casa para serviços essenciais ou em deslocamento para casa ou trabalho.
É a mesma situação dos estados do Acre, Amazonas, Bahia, Ceará,Mato Grosso, Paraíba, Paraná, Piauí, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte. E o Distrito Federal entrou em lockdown total neste domingo até o dia 15. Os Estados apertam essas medidas enquanto correm para acelerar seus planos de vacinação em massa, mesmo com a falta de disponibilidade dos imunizantes e a lentidão na produção das doses.
Para a infectologista Sarah Dominique Dellabianca, professora de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit), a restrição dos serviços não-essenciais e o toque de recolher são necessárias, enquanto a maior parte da população ainda não é vacinada e mesmo com a fiscalização rigorosa do cumprimento das medidas. Ela alerta que há um risco "real e iminente" de haver piora na situação caso não haja controle na circulação do vírus, "uma vez que o aumento progressivo da casuística e a ocupação dos leitos causarão colapso da assistência à saúde, como ocorrido em Manaus, agora em Porto Velho, e em cidades do Acre, dentre outras".