Sexta, 24 De Janeiro De 2025
       
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Muito além das aparências


Publicado em 19 de junho de 2018
Por Jornal Do Dia


Dona Pureza e Eudaldo: Quando o Cinema promove o encontro

 

Jornal do Dia – O segmento audiovisual vem recebendo investimentos consistentes do poder público local há mais de uma década, com a criação de um Núcleo de Produção Digital, apoio a produções nacionais e o lançamento de editais de curtas metragens. O seu trabalho profissional se beneficiou, de algum modo, dessa política?
Eudaldo Monção Jr – Sim, sobretudo com relação ao Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira. Desde 2010, quando cheguei a Aracaju para cursar Audiovisual na UFS, tive contato com o NPD. A minha primeira experiência cinematográfica foi na produção do curta-metragem ‘Do outro lado do Rio’, filme realizado durante oficina de realização audiovisual ofertado pelo Núcleo.
De lá, pra cá. Todas as produções realizadas, ‘O Muro é o Meio’ (2014), ‘Louça de Deus’ (2016) e ‘Cine Rio Branco’ (2017) contaram com o apoio do NPD no empréstimo de equipamentos de iluminação e som. Sem a existência dessa parceria, seria complicado realizar os filmes. 
Sobre os editais estaduais, nunca participei e há alguns anos que não sai o edital de produção estadual em Sergipe. Eu e outros realizadores aguardamos ansiosamente o lançamento desses editais de realização para fomentar o audiovisual sergipano.
Jornal do Dia – Há quem diga que o Cinema brasileiro é muito dependente da subvenção estatal. Qual a sua opinião? Você percebe alguma interferência do poder público no discurso enunciado via Cinema, no Brasil?
 
Eudaldo – Realmente, o cinema brasileiro só é possível graças aos editais de incentivo à produção audiovisual, sejam eles nacionais ou estaduais. Mas ao mesmo tempo, é possível verificar uma quantidade absurda de trabalhos de muita qualidade feitos com quase dinheiro algum. 
Uma alternativa possível são os editais de empresas privadas. Todos os meus filmes foram realizados por intermédio do edital de produção do Canal Futura, com exceção de ‘O Muro é o Meio’, um filme de guerrilha, realizado como Trabalho de conclusão de graduação. 
Há ainda o financiamento coletivo. Muitos filmes estão sendo feitos graças às plataformas de crowdfunding. 
Jornal do Dia – ‘O muro é o meio’ foi bem acolhido no circuito de festivais. É possível afirmar que o mercado nacional tem conseguido absorver o Cinema realizado fora do eixo, de maneira independente?
Eudaldo – Sim, acredito que se o filme tem potencial ele consegue ser exibido em festivais e em outros circuitos, independente do local de realização. O mesmo pensamento no que se refere ao modo de como o filme é feito, seja através dos editais de incentivo ou  filmes de guerrilha, independentes, feitos sem dinheiro algum, como ‘O Muro é o Meio’. Através das estratégias de distribuição adotadas, o filme se tornou minimamente conhecido e  garantiu espaço nos circuitos de exibição.
 
Jornal do Dia – Outra discussão muito cara aos profissionais de Cinema diz respeito aos gargalos observados na distribuição. A televisão e o streaming são alternativas viáveis? Como você se posiciona em relação ao impasse estabelecido entre Cannes e a Netflix?
Eudaldo – A televisão e as plataformas streaming são alternativas extremamente viáveis para a difusão audiovisual, principalmente no que diz respeito ao formato curta-metragem. Os filmes de curta duração não têm espaço de exibição e estreia em salas comerciais, permanecendo restritos aos festivais, mostras de cinema, e outros eventos específicos, que garantem algum espaço para o formato. O licenciamento para a televisão e a disponibilização do conteúdo na internet é a forma mais prática de fazer curtas-metragens serem vistos. 
Sobre o impasse entre Cannes e a Netflix, creio que a constante busca pelo ineditismo e exclusividade dos festivais acabam por atrapalhar o fluxo de projeção de produtos audiovisuais, uma vez que impossibilita filmes não inéditos de estarem nessas seleções. Isso contribui para que muita coisa boa fique de fora.
Jornal do Dia – ‘Carretéis’, seu projeto mais recente, adotou como ponto de partida um dado insólito: Itabaianinha, com diminutivo até no nome, tem uma das maiores populações de anões do País. O que vocês descobriram sobre o lugar e sobre o sergipano, de modo mais abrangente, durante a pesquisa do filme?
Eudaldo – Comprovamos que a maioria dos casos curiosos existentes em Sergipe e que dariam um filme são realizados por produtoras e realizadores de fora do estado, com pouco envolvimento de profissionais locais e reflexos na expansão da produção. 
Em Itabaianinha, nos últimos anos, diversos profissionais, dos mais variados meios de comunicação, foram até a localidade para filmar a cidade dos anões, com destaque para os programas humorísticos que colocam os pequenos moradores em situações constrangedoras por meios de chacotas. Isso atrapalhou muito nosso trabalho, principalmente na busca dos anões interessados em dar entrevista. 
Os pequenos moradores estão saturados com o assédio negativo. ‘Carretéis’ é um filme sobre direitos humanos e o foco do curta será justamente o modo de representação daqueles que dão simbologia à cidade. 
Apesar de não ser sergipano, tenho forte ligação com o Estado, pelas produções realizadas aqui e pela graduação em audiovisual na Universidade Federal de Sergipe. Com exceção de mim e de outro colega, toda a equipe de ‘Carretéis’ é integrada por realizadores sergipanos. Uma parceria que não se restringe apenas às produções gravadas em Sergipe, mas que extrapola para filmes feitos fora do estado há alguns anos, a exemplo da colaboração constante da produtora Fernanda Almeida. A esse estado, e a essas pessoas, minha eterna gratidão.

Converse com qualquer diretor de cinema e ele vai dizer, em suma, que uma andorinha só não faz verão. Cinema é um exercício coletivo, e dos mais dispendiosos. Para se manter em atividade, o realizador tem de ter muito mais do que uma ideia na cabeça e uma câmera na mão. 

É mais ou menos esta a síntese da conversa proposta pelo Jornal do Dia ao realizador Eudaldo Monção Jr, que esteve em Sergipe para captar imagens e realizar as entrevistas de ‘Carretéis’, o seu projeto mais recente. Sem o devido incentivo, sem parcerias e estratégia, é praticamente impossível sobreviver no meio audiovisual. Longe de assumir um tom choroso, no entanto, o diretor aponta as diversas possibilidades de viabilizar um projeto. O mais importante, no entanto, lê-se nas entrelinhas, é a disposição de construir pontes. Para outros lugares e o coração de outras pessoas.

‘Carretéis’, por exemplo, restitui a dimensão humana subtraída a um dado curioso: Itabaianinha, no interior sergipano, é conhecida como a cidade dos anões. Para Eudaldo, a singularidade não é razão de galhofa. Muito ao contrário. Trata-se de enxergar além das aparências e ver a pessoa como ela realmente é.

 

Jornal do Dia – O segmento audiovisual vem recebendo investimentos consistentes do poder público local há mais de uma década, com a criação de um Núcleo de Produção Digital, apoio a produções nacionais e o lançamento de editais de curtas metragens. O seu trabalho profissional se beneficiou, de algum modo, dessa política?

Eudaldo Monção Jr – Sim, sobretudo com relação ao Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira. Desde 2010, quando cheguei a Aracaju para cursar Audiovisual na UFS, tive contato com o NPD. A minha primeira experiência cinematográfica foi na produção do curta-metragem ‘Do outro lado do Rio’, filme realizado durante oficina de realização audiovisual ofertado pelo Núcleo.
De lá, pra cá. Todas as produções realizadas, ‘O Muro é o Meio’ (2014), ‘Louça de Deus’ (2016) e ‘Cine Rio Branco’ (2017) contaram com o apoio do NPD no empréstimo de equipamentos de iluminação e som. Sem a existência dessa parceria, seria complicado realizar os filmes. 
Sobre os editais estaduais, nunca participei e há alguns anos que não sai o edital de produção estadual em Sergipe. Eu e outros realizadores aguardamos ansiosamente o lançamento desses editais de realização para fomentar o audiovisual sergipano.

Jornal do Dia – Há quem diga que o Cinema brasileiro é muito dependente da subvenção estatal. Qual a sua opinião? Você percebe alguma interferência do poder público no discurso enunciado via Cinema, no Brasil?

Eudaldo – Realmente, o cinema brasileiro só é possível graças aos editais de incentivo à produção audiovisual, sejam eles nacionais ou estaduais. Mas ao mesmo tempo, é possível verificar uma quantidade absurda de trabalhos de muita qualidade feitos com quase dinheiro algum. 
Uma alternativa possível são os editais de empresas privadas. Todos os meus filmes foram realizados por intermédio do edital de produção do Canal Futura, com exceção de ‘O Muro é o Meio’, um filme de guerrilha, realizado como Trabalho de conclusão de graduação. 
Há ainda o financiamento coletivo. Muitos filmes estão sendo feitos graças às plataformas de crowdfunding. 

Jornal do Dia – ‘O muro é o meio’ foi bem acolhido no circuito de festivais. É possível afirmar que o mercado nacional tem conseguido absorver o Cinema realizado fora do eixo, de maneira independente?

Eudaldo – Sim, acredito que se o filme tem potencial ele consegue ser exibido em festivais e em outros circuitos, independente do local de realização. O mesmo pensamento no que se refere ao modo de como o filme é feito, seja através dos editais de incentivo ou  filmes de guerrilha, independentes, feitos sem dinheiro algum, como ‘O Muro é o Meio’. Através das estratégias de distribuição adotadas, o filme se tornou minimamente conhecido e  garantiu espaço nos circuitos de exibição.

Jornal do Dia – Outra discussão muito cara aos profissionais de Cinema diz respeito aos gargalos observados na distribuição. A televisão e o streaming são alternativas viáveis? Como você se posiciona em relação ao impasse estabelecido entre Cannes e a Netflix?

Eudaldo – A televisão e as plataformas streaming são alternativas extremamente viáveis para a difusão audiovisual, principalmente no que diz respeito ao formato curta-metragem. Os filmes de curta duração não têm espaço de exibição e estreia em salas comerciais, permanecendo restritos aos festivais, mostras de cinema, e outros eventos específicos, que garantem algum espaço para o formato. O licenciamento para a televisão e a disponibilização do conteúdo na internet é a forma mais prática de fazer curtas-metragens serem vistos. 
Sobre o impasse entre Cannes e a Netflix, creio que a constante busca pelo ineditismo e exclusividade dos festivais acabam por atrapalhar o fluxo de projeção de produtos audiovisuais, uma vez que impossibilita filmes não inéditos de estarem nessas seleções. Isso contribui para que muita coisa boa fique de fora.

Jornal do Dia – ‘Carretéis’, seu projeto mais recente, adotou como ponto de partida um dado insólito: Itabaianinha, com diminutivo até no nome, tem uma das maiores populações de anões do País. O que vocês descobriram sobre o lugar e sobre o sergipano, de modo mais abrangente, durante a pesquisa do filme?

Eudaldo – Comprovamos que a maioria dos casos curiosos existentes em Sergipe e que dariam um filme são realizados por produtoras e realizadores de fora do estado, com pouco envolvimento de profissionais locais e reflexos na expansão da produção. 
Em Itabaianinha, nos últimos anos, diversos profissionais, dos mais variados meios de comunicação, foram até a localidade para filmar a cidade dos anões, com destaque para os programas humorísticos que colocam os pequenos moradores em situações constrangedoras por meios de chacotas. Isso atrapalhou muito nosso trabalho, principalmente na busca dos anões interessados em dar entrevista. 
Os pequenos moradores estão saturados com o assédio negativo. ‘Carretéis’ é um filme sobre direitos humanos e o foco do curta será justamente o modo de representação daqueles que dão simbologia à cidade. 
Apesar de não ser sergipano, tenho forte ligação com o Estado, pelas produções realizadas aqui e pela graduação em audiovisual na Universidade Federal de Sergipe. Com exceção de mim e de outro colega, toda a equipe de ‘Carretéis’ é integrada por realizadores sergipanos. Uma parceria que não se restringe apenas às produções gravadas em Sergipe, mas que extrapola para filmes feitos fora do estado há alguns anos, a exemplo da colaboração constante da produtora Fernanda Almeida. A esse estado, e a essas pessoas, minha eterna gratidão.

 

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