A torcida reaça chora.
Mulherio bom de bola
Publicado em 25 de julho de 2023
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos – riansantos@jornaldodiase.com.br
A julgar pela comoção nas redes sociais, o patriarcado enfrenta uma partida difícil. Ontem, a seleção brasileira de futebol feminino deu de goelada. Ary Borges marcou três vezes. Ela, uma mulher negra, alçada à condição de ídolo nacional. A torcida reaça chora.
O tio do zap sofre um revés atrás do outro. Ainda insone, assombrado pela pregação feminista no filme da Barbie, ele nota a própria calvície no espelho do banheiro, entre pasmo e inconformado. O homem branco contempla a ruína de tantos privilégios. O tempo não tem sido gentil com os machos.
O suposto mimimi do mulherio já produz reflexos em âmbito institucional e administrativo. O governo de Sergipe, por exemplo, se apressou e decretou ponto facultativo nos dias de jogo da seleção feminina. A prefeitura de Aracaju chutou a bola na mesma direção. Quando os patrocinadores perceberem a virada agora em curso, as atletas finalmente serão recompensadas como verdadeiras profissionais, mulheres que são.
Sim, o jogo virou. Conceitos antes considerados muito vagos,a exemplo da tal reparação histórica,entraram em campo. Isso de empregar metáforas futebolísticas em alusão aos avanços progressistas, aliás, serve de excelente agouro. Se antes, a serviço da cuecada, o jargão rendia apenas bravatas, o vocabulário gasto serve agora a uma outra causa – mais nobre, mais alta.
A partida não está ganha, contudo.O título inédito é ainda um sonho. Desde já, no entanto, a smeninas da seleção dão show no país do estupro (74.930 vítimas, ano passado, dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública), salvas pelo futebol.