Coberto de poeira (Divulgação)
Na encruzilhada
Publicado em 15 de outubro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Se bem me lembro, bastou Henrique Teles tirar o violão do saco para transformar a sala ampla de sua casa em inesperada encruzilhada sensível. Ali, onde duas estradas cobertas de poeira se encontram, estão enterradas as raízes do projeto Algo Dão.
O meu amigo dissertou, então, sobre o cancioneiro nordestino e as canções de trabalho que remediavam a faina pesada e o açoite entre os brotos de flor branca,em tristes lonjuras da História, a mesma dor, o mesmo lamento, métrica e melodia parecidas, a semelhança de duas irmãs.
Ele, Henrique Teles, cantor e compositor de carregado sotaque nordestino, mais o guitarrista Julio Andrade, músico formado na melhor tradição da música negra, estão resolvidos a sublinhar o que há de comum entre o blues e o compasso binário do baião. Para tanto, entoam canções e também as escrevem de próprio punho, satisfeitos de se encontrar no meio do caminho.
O projeto Algo Dão é galho da mesma árvore frondosa em que floresceu antes o projeto Crav&Rosa, dedicado a leituras muito particulares do cancioneiro nordestino. Desta vez, no entanto, o aço da guitarra se impõe, ante o que há de brejeiro no projeto anterior. E carrega consigo o hálito sabendo a suor e sangue, a alma inquebrantável de reis escravizados e escravos de espinha reta, fortes e dignos como um rei.
A quem interessar possa: A primeira aparição pública do projeto Algo Dão – com Julio Rêgo, Fabio Cavalieri e Mary Barreto – já tem palco e data marcada: sexta-feira, 18 de outubro, às 20 horas, no Café da Gente Sergipana.