Quinta, 23 De Janeiro De 2025
       
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Na pele do tambor


Publicado em 09 de dezembro de 2022
Por Jornal Do Dia Se


Fé e farra

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br – 

Há algo de primitivo no apelo de um tambor. Foi atraído pelo chamado ancestral e uma pontinha da curiosidade mais vulgar que pisei uma vez no chão sagrado de um terreiro. Havia, sim, alguma magia no ar, a beleza ritual de uma comunhão festiva com o mistério. Mulheres em saias vermelhas de ciganas bebiam e dançavam possuídas pela graça, um espetáculo de línguas estranhas, adivinhações, súplicas e sentido. Tudo impressionava, tudo vibrava, mas eu pouco vi do culto. A música dos atabaques ecoava sem descanso. Ali, eu era todo ouvidos.
É mais ou menos essa a promessa guardada nas apresentações do grupo Burundanga Percussivo em pleno dia de Oxum, nas escadas da Catedral Metropolitana de Aracaju. Embora, via de regra, a intenção seja outra, mais imediata e mundana, a reunião promovida pelo maestro Pedro Mendonça terá sempre um dado de resgate. Basta um comando e os tambores quase sempre calados da gente sergipana transbordam em sopapos de alegria – até onde eu sei, a única surra que o lombo cansado do povo gosta.
O maestro Pedro Mendonça escreve assim, com a palma das mãos, mais um belo capítulo da música Serigy. Ao colaborar com artistas e projetos diversos, notadamente o terceto instrumental Café Pequeno, ele coloca sempre a percussão no centro dos acotecimentos, no meio da rua, sob aplausos e holofotes. A oportunidade não poderia ser mais feliz. O pulso forte, a marcação cerrada, o acento expansivo honram a nossa vocação cultural para a festa.
Fé e farra, cultura e religiosidade. O leitor mais rigoroso talvez torça o nariz para os imperativos aparentes na página. Nada mais equivocado. Na pele do tambor, convivem todos os opostos. Daí a comunicação sem reservas, imediata.

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