Em bom rastro (Divulgação)
Na ponta da agulha
Publicado em 30 de outubro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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A passagem do rapper BNegão pela aldeia, rápida e fulgurante como um cometa, não recebeu atenção à altura de sua estatura artística – um descaso típico da tribo Serigy.
Cá na terrinha, os ouvidos moucos ignoram tudo o que não cabe num trio elétrico, nas festas barulhentas de Fabiano Oliveira. Sem jabá, não há distinção entre artistas nativos e visitantes.
BNegão veio, soltou os esporros que lhes coube sobre uma base pré-gravada, realizou uma performance mais ou menos improvisada no Che Music Bar. Antes de subir ao palco, entretanto,foi surpreendido com os graves rasgados na superfície polida de um disco de vinil.
Com Wesley Tchapas e o DJDfatjay, a mágica se faz na ponta da agulha, onde um pedaço minúsculo de diamante evoca e conclama, como fizeram antes os maiores da Black Music.
Tchapas, aliás, vem fazendo por merecer mais atenção dos seus próprios. Operário da música, batendo ponto nos bares da vida, ele concilia a sua vocação de autor com a urgência dos boletos a vencer, sem abrir mão da dignidade artística. Com o parceiro Paulinho Só (um dos violões mais espertos do lugar), à frente da banda Os Maias, Tchappas empenha o gogó no repertório do gigante Tim Maia, uma aposta certa na satisfação do prezado público. No autoral ‘Velhas Novidades’, registro recém-lançado, contudo, a sua veia pulsa com toda a força, o grave no talo.
Sim, BNegão é uma referência incontornável para certo nicho da música brazuca. Naquele dia, no palco do Che, para um público ainda muito modesto, entretanto, Wesley Tchapas se recusou a comer poeira, embora persiga também o seu rastro.