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Na vertigem do cinema


Publicado em 13 de setembro de 2012
Por Jornal Do Dia


Cavalgando o desgoverno da civilização

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

A primeira foi Xuxa. Menino ainda, antes de ver o Cine Palace assaltado pelo dinheiro pecaminoso dos templos evangélicos, eu me aboletava numa poltrona e esperava a sala escurecer. Duas horas pra viver meu amor recolhido, estranho amor encarnado em feixes de luz, manteiga de pipoca e algazarra de moleques em férias. Ninguém desconfiava, mas, durante a projeção, a rainha da lua de cristal seria minha. Ela inteira, botas extravagantes e malhas coloridas. Depois era se conformar com o alvoroço dos transeuntes no calçadão.

Muitas podem ser as razões que levam um homem a se apaixonar pelo cinema. A mulher, no entanto, é a mais bonita delas. Sônia Braga catando uma pipa no telhado, o rabo atrevido desafiando alturas; Brigitte Bardot, Et Dieu Créa la Femme, lábios carnudos e cheios de leviandade; Mônica Bellucci na pele de Malena, a cidade toda açoitando a dignidade de minha amante. Três mulheres, entre tantas, despertando desejos sôfregos enquanto ditam comportamentos e conduzem o cavalo desgovernado da civilização.

Todo ano eu comemoro a realização do Curta-SE. Motivos não faltam. Além de fomentar nossa produção audiovisual, incitando o realizador local a registrar suas impressões, agonias e paisagens, o Festival inseriu Sergipe na rota do cinema nacional. Isso é mais do que qualquer política cultural do Estado já conseguiu. Sua maior virtude, entretanto, reside no culto aos fantasmas que desenham o mundo na tela. O universo dentro de um retângulo branco.

Esse ano, a abertura do evento conta com a exibição do promo ‘Cidade de Deus – 10 anos depois’, de Cavi Borges e Luciano Vidigal; Apresentação do filme ‘Lixo Extraordinário’, de Lucy Walker, Karen Harely e João Jardim; e apresentação de Tulipa, com o lançamento de Tudo Tanto, seu segundo trabalho.
Na vertigem do cinema, uma prova de que a vida não basta, um abraço pra ti. Além do pão e do circo cotidiano, a brisa que arrasta a caravela ancorada da humanidade para o desafio de tocaia na próxima esquina. Mulheres lindas, desenterrando nações soterradas pelo conforto do próprio umbigo.

Abertura do 12º Festival Iberoamericano de Cinema de Sergipe

Local: Teatro Tobias Barreto
Data: 17 de setembro
Hora: 19 horas

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