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NEGACIONISMO CLIMÁTICO


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Publicado em 08 de maio de 2024
Por Jornal Do Dia Se


“O ser, tao, vai vir amar”

* Lelê Teles

O tao, você sabe, é o princípio do equilíbrio, é a ordem natural das coisas.
Tao pai, tao filho.
Mas as coisas estão fora de ordem, tá tudo de pernas pro ar.
É o tal do negacionismo climático agindo.
Chove a cântaros no verão e o sol racha no inverno.
O sorveteiro, coitado, não sabe mais quando deve abrir sua bodega.
O urso polar naufraga num cubo de gelo se liquefazendo.
Florestas ardem em chamas, animais indefesos carbonizam e viram cinzas, tempestades de areia banham cidades, furacões furiosos fulminam, el niño y la niña se agrandan, os rios, rasos ou secos, agonizam, a desertificação avança sobre os campos…
Mas pro negacionista, enquanto tiver carvão e carne, tem churrasco.
Tá de boas.
Tá frio, ele bota um casaco, esquentou, ele liga o ar condicionado, choveu demais e as ruas alagaram, ele sai de jet ski.
O que vemos hoje no rio grande do sul é um efeito antrópico.
Nunca se viu tanta precipitação pluvial desde Noé.
E não é maquinação de deuses ou deusas, é a mão do negacionismo criando dilúvios.
E cada um que zarpe em sua arca, quem não tiver uma que braceje até cansar.
Os ricos fogem do risco, a miséria nada.
Tudo começou quando deixamos de dizer “meu ambiente” e passamos a falar “meio ambiente”.
A natureza passou a ser o que está lá fora.
O negacionista a observa da janela, com o rifle na mão, atirando contra tudo o que se move.
É caça e pesca esportiva.
Pode importunar baleias, pode enjaular e engaiolar, pode-se construir aquários gigantes pra golfinhos divertirem crianças de cara rosada.
A árvore, a ave e o bicho viraram mercadoria.
O matuto é um jeca, o indígena é a eterna criança sem alma e sem razão.
O cara é o Jeff Bezos, aquele bilionário que mandou pro espaço uma caravela em formato de piroca.
As caravelas estão na origem da nossa desgraça ambiental.
Desde que aqueles assassinos imundos aportaram nessas paragens nunca se matou e se desmatou tanto.
A cruz e a espada têm o mesmo formato.
Uma matava a alma, a outra concluía o serviço.
E tudo virava lenha pra alimentar caldeiras.
O carvão botava o trem pra correr nos trilhos, e ele passou a correr cada vez mais rápido.
Tudo se converteu em matéria prima pra alimentar a revolução industrial.
O capetalismo é o diabo com uma cruz numa mão e uma espada na outra.
Ventando fogo das ventas pra queimar fauna e flora.
Só a total descolonização do poder, do ser e do saber pode nos redimir.
O ser humano passa por um profundo processo de desumanização.
Robotizaram instintos e sentimentos, e agora temem que os robôs se humanizem e nos aniquilem como máquinas velhas.
É preciso nos reumanizarmos.
O primeiro passo é aceitar o meio ambiente como meu ambiente.
E cuidar do mundo como quem cuida do lar.
O segundo passo é reunir os negacionistas em praça pública, sapatênis, copo stanley e dorso nu…
E colocar uns robozinhos para chicoteá-los muitas vezes e sem piedade.
Shilápite, shilápite e shilápite.
Palavra da salvação.

* Lelê Teles é roteirista e cineasta

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