Domingo, 12 De Janeiro De 2025
       
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NEGRITUDES, CULTURA BRASILEIRA E INSENSATEZ


Publicado em 06 de dezembro de 2020
Por Jornal Do Dia


 

Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
Em 1988, após anos de supressão das liberdades individuais, a Constituição veio procurar garantir proteção e justiça social para todos, na sua acepção mais precisa. Naquele mesmo ano, no dia 22 de agosto, foi criada a Fundação Cultural Zumbi dos Palmares, vinculada ao extinto Ministério da Cultura, pela Lei Federal 7.668, que em seu artigo 1º preconiza: "(…) promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira".
Nesses mais de trinta anos de existência, a entidade que leva o nome de um dos mais representativos ícones históricos da cultura negra no Brasil, vem se consolidando com políticas públicas que visam reparar as inúmeras injustiças sociais cometidas aos afrodescendentes e ao seu legado cultural, suas crenças e identidades, além de valorizar e divulgar os seus inúmeros talentos, expressões e inteligências.
Esta semana, o país foi tomado de assalto por mais uma atitude insidiosa do atual Presidente da entidade, o Sr. Sérgio Camargo. Por sua determinação, a Fundação retirou da Lista de Personalidades Negras, 27 nomes de pessoas e suas biografias, num gesto autoritário, infeliz e insensato. Sem nenhum critério técnico e lógico, ele procura expurgar da memória e da identidade brasileira, uma plêiade de sujeitos que representam o que há de melhor no país, nas diversas áreas, da política à cultural, atingindo com um golpe baixo e sorrateiro às negritudes do Brasil.
Quem, em sã consciência e que não seja movido por qualquer outra coisa que não seja raiva e personalismo ideológico tosco ou desejo de agradar o patrão, ousaria atingir a honra e a imagem de Gilberto Gil, uma expressiva personalidade da cultura brasileira, que está acima de quaisquer distinções e acepções étnicas ou socias? Gil tem valiosos serviços prestados ao país, não somente como artista, mas como político, tendo sido um dos mais significativos Ministros da Cultura que o país já teve, de projeção e respaldo internacionais.  
Compõem ainda a lista de excluídos do Sr. Sérgio Camargo: Milton Nascimento, Elza Soares, Leci Brandão, Martinho da Vila, Sandra de Sá, a atriz Zezé Motta, Marina Silva, Senador Paulo Paim,  Benedita da Silva, os atletas Joaquim Cruz e Vanderlei Cordeiro (Medalhistas Olímpicos), Ádria Santos, Alaíde Costa, Conceição Evaristo, Gilvânia Maria, Janete Rocha, Janeth dos Santos, Jurema da Silva, Léa Lucas, Luislinda Valois, Petronilha Beatriz, Servílio de Oliveira, Sueli Carneiro, Terezinha Guilhermina e Vovô do Ilê. 
A reação foi imediata em vários setores da vida pública, na imprensa e até mesmo no Judiciário, que pediu explicações para a atitude excludente do Sr. Sérgio Camargo. Este, por sua vez, em uma rede social, assim se pronunciou a respeito: "Vamos valorizar quem merece! São estas as oito personalidades que serão incluídas inicialmente. Outros nomes foram aprovados pela diretoria da Palmares e serão adicionados ainda neste mês. Reparação e reconhecimento. A história não pode ser adulterada, nem a verdade ocultada" (Twitter, 1 de dezembro de 2020).
Além de usar um argumento falho e sem evidências racionais, arroga para a sua atitude a necessidade de reparar a História e apresenta-se como alguém que quer corrigir algo que fora adulterado ou uma verdade ocultada, mas não diz como, quando e porquê. Palavras soltas, sem sentido e sem sustentação, pois ao incluir novas personalidades na referida lista (entre elas, Jacira de Almeida – Tia Anastácia; Musum; Luiz Melodia; Wilson Simonal e João do Pulo – todos falecidos), não faz mais do que cumprir o ofício para o qual foi designado legalmente. Mas deferia fazê-lo movido apenas pelo aspecto técnico que a função exige, além da sensibilidade que falta.
Enquanto o país for governado e administrado por sujeitos que não têm a menor condição técnica de ocupar os cargos públicos, o preparo necessário para exercê-los e a compreensão clara do que seja um país democrático, diverso e rico culturalmente, jamais seremos uma nação séria e precisaremos continuar levantando e lutando e até mesmo gritando se necessário, pois, como nos alerta Édson Gomes: "A gente acaba perdendo o que já conquistou…".

Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos

Em 1988, após anos de supressão das liberdades individuais, a Constituição veio procurar garantir proteção e justiça social para todos, na sua acepção mais precisa. Naquele mesmo ano, no dia 22 de agosto, foi criada a Fundação Cultural Zumbi dos Palmares, vinculada ao extinto Ministério da Cultura, pela Lei Federal 7.668, que em seu artigo 1º preconiza: "(…) promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira".
Nesses mais de trinta anos de existência, a entidade que leva o nome de um dos mais representativos ícones históricos da cultura negra no Brasil, vem se consolidando com políticas públicas que visam reparar as inúmeras injustiças sociais cometidas aos afrodescendentes e ao seu legado cultural, suas crenças e identidades, além de valorizar e divulgar os seus inúmeros talentos, expressões e inteligências.
Esta semana, o país foi tomado de assalto por mais uma atitude insidiosa do atual Presidente da entidade, o Sr. Sérgio Camargo. Por sua determinação, a Fundação retirou da Lista de Personalidades Negras, 27 nomes de pessoas e suas biografias, num gesto autoritário, infeliz e insensato. Sem nenhum critério técnico e lógico, ele procura expurgar da memória e da identidade brasileira, uma plêiade de sujeitos que representam o que há de melhor no país, nas diversas áreas, da política à cultural, atingindo com um golpe baixo e sorrateiro às negritudes do Brasil.
Quem, em sã consciência e que não seja movido por qualquer outra coisa que não seja raiva e personalismo ideológico tosco ou desejo de agradar o patrão, ousaria atingir a honra e a imagem de Gilberto Gil, uma expressiva personalidade da cultura brasileira, que está acima de quaisquer distinções e acepções étnicas ou socias? Gil tem valiosos serviços prestados ao país, não somente como artista, mas como político, tendo sido um dos mais significativos Ministros da Cultura que o país já teve, de projeção e respaldo internacionais.  
Compõem ainda a lista de excluídos do Sr. Sérgio Camargo: Milton Nascimento, Elza Soares, Leci Brandão, Martinho da Vila, Sandra de Sá, a atriz Zezé Motta, Marina Silva, Senador Paulo Paim,  Benedita da Silva, os atletas Joaquim Cruz e Vanderlei Cordeiro (Medalhistas Olímpicos), Ádria Santos, Alaíde Costa, Conceição Evaristo, Gilvânia Maria, Janete Rocha, Janeth dos Santos, Jurema da Silva, Léa Lucas, Luislinda Valois, Petronilha Beatriz, Servílio de Oliveira, Sueli Carneiro, Terezinha Guilhermina e Vovô do Ilê. 
A reação foi imediata em vários setores da vida pública, na imprensa e até mesmo no Judiciário, que pediu explicações para a atitude excludente do Sr. Sérgio Camargo. Este, por sua vez, em uma rede social, assim se pronunciou a respeito: "Vamos valorizar quem merece! São estas as oito personalidades que serão incluídas inicialmente. Outros nomes foram aprovados pela diretoria da Palmares e serão adicionados ainda neste mês. Reparação e reconhecimento. A história não pode ser adulterada, nem a verdade ocultada" (Twitter, 1 de dezembro de 2020).
Além de usar um argumento falho e sem evidências racionais, arroga para a sua atitude a necessidade de reparar a História e apresenta-se como alguém que quer corrigir algo que fora adulterado ou uma verdade ocultada, mas não diz como, quando e porquê. Palavras soltas, sem sentido e sem sustentação, pois ao incluir novas personalidades na referida lista (entre elas, Jacira de Almeida – Tia Anastácia; Musum; Luiz Melodia; Wilson Simonal e João do Pulo – todos falecidos), não faz mais do que cumprir o ofício para o qual foi designado legalmente. Mas deferia fazê-lo movido apenas pelo aspecto técnico que a função exige, além da sensibilidade que falta.
Enquanto o país for governado e administrado por sujeitos que não têm a menor condição técnica de ocupar os cargos públicos, o preparo necessário para exercê-los e a compreensão clara do que seja um país democrático, diverso e rico culturalmente, jamais seremos uma nação séria e precisaremos continuar levantando e lutando e até mesmo gritando se necessário, pois, como nos alerta Édson Gomes: "A gente acaba perdendo o que já conquistou…".

 

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