NEY MATOGROSSO A SECO E MOLHADO
Publicado em 07 de agosto de 2021
Por Jornal Do Dia
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
Aos oitenta anos, uma das vozes mais emblemáticas da música popular brasileira segue sendo expressivo, talentoso e fascinante como quando de seu início de carreira artística. Poucos sujeitos conseguem alcançar tamanha longevidade, mantendo um padrão de qualidade. Ney Matogrosso, sem sombra de dúvidas, é a melhor expressão de nosso talento musical, se apresentando como um dos mais significativos intérpretes do país.
Ney de Souza Pereira nasceu no dia 01 de agosto de 1941, em Bela Vista, cidade do Mato Grosso do Sul. Daí a alcunha e a identidade. Estourou entre os anos 1973 e 1974, como vocalista do grupo Secos e Molhados, com destaque para sua performance nos palcos. Chocou os mais incautos, mas imprimiu um estilo como nunca antes, onde a dança completa a expressão da música e da voz.
Homem rebolando e com pouca roupa, com um corpo de dá inveja a qualquer macho malhado até hoje, Ney Matogrosso teve a coragem de expressar sua arte em plena Ditadura Civil-Militar no Brasil, superando preconceitos e acintes os mais diversos. Para além disso, seu olhar fixo, firme e forte preenchem a cena de um artista completo.
Da época do Secos e Molhados, grandes sucessos que seguiram agregados a sua carreira solo. O grupo era comporto por ele, João Ricardo e Gérson Conrad. Do repertório, destaco: O Vira, Assim Assado, Rosa de Hiroshima, O Patrão Nosso de Cada Dia, Flores Astrais e Sangue Latino, estas últimas as minhas preferidas.
Sangue Latino é de 1973, é a faixa 1 do lado A do álbum Secos e Molhados. Composição de João Ricardo / Paulinho Mendonça, é uma canção com mensagens subliminares, tais como: "E o que me resta é só um gemido/ Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos, / Meu sangue latino, minha alma cativa". Uma clara alusão à avalanche de regimes ditatoriais no continente sul-americano.
Flores Astrais foi regravada brilhantemente pelo grupo RPM, em 1986. O trecho "O verme passeia na lua cheia" foi uma grande sacada Joao Ricardo / Joao Apolinario Teix Pinto. Para além de uma viagem "psicodélica", um recado em alto e bom tom para uma geração que vinha em sua primavera de 1968, chegando tardia no Brasil dos coturnos e porões de tortura.
Em 1975, Ney Matogrosso deu início a sua carreira solo, com o LP Água do Céu Pássaro, entre as mais destacadas interpretações a "O Corsário", de Aldir Blanc e João Bosco, Cubanakan e América do Sul, de Paulo Machado, com a expressão "Deus salve a América do Sul", que se tornou ainda mais definitiva com sua performance em clipe para o Fantástico, da Rede Globo.
Ao longo de mais de 46 anos, dominou a cena cultural, com capaz de disco icônicas, shows e clipes marcantes. Aparentemente discreto, suas entrevistas são sempre reveladoras e pontuais. Ney é preciso e sem rodeios no que pense e como se expressa. Em 1981, estourou com o sucesso "Homem com H", de Antônio Barros", em LP pela gravadora Ariola.
Na mesma toada, "Telma, eu não sou gay", também conhecida por "Calúnias", sucesso do disco "Pois é", de 1983. Canção da banda brasileira Light Reflections (1973), "Tell Me Once Again", versão em português de Brian Anderson. As duas versões estiveram no top entre as mais ouvidas em tempos diferentes. Mais uma vez, Ney mostra todo seu talento, sensibilidade e versatilidade.
Seja cantando Cartola, Chico Buarque, Cazuza (um de seus maiores amigos), ou rock nacional e internacional da melhor qualidade, o octogenário Ney Matogrosso é, sem sombra de dúvidas, uma das grandes estrelas da música brasileira, tendo superado preconceitos raivosos, com força e serenidade, arte e com sua voz singular.