No coração do lugar, o resto do mundo

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

Os méritos da criação nunca ganharam o volume das pedras. Impossível mensurar a agonia de cada acorde, o tanto exato de alegria ou tristeza libertado pela garganta. Há canções, contudo, que respondem a nossa disposição com uma urgência distinta. Estas se impõem naturalmente, atadas à percepção ordinária do próprio tempo.

No último sábado, o Festival Aperipê de Música reivindicou a atenção da plateia do teatro Lourival Baptista para os tambores da aldeia. Nenhuma espada pesava sobre a cabeça dos concorrentes. Não havia, por parte de júri e público, a ansiedade do julgamento. No palco, mais importante, uma leitura do momento.

História que não começou a ser contada agora. Quando Arthur Matos abriu os trabalhos da noite, evocando com a própria postura e muita propriedade a herança legada muitos anos antes por Nick Drake, entre outros monstros, não o fez como um estranho. Muita tinta já foi gasta aqui para traduzir o seu trabalho. O que não impediu o assalto conveniente do espanto.

Talvez não tenha assustado quem vem acompanhando as apresentações do grupo Samba de Moça Só, mas Camila Campos desfiou o rosário no FAM como quem tomava posse de um terreiro. Foi um assombro. Surpreendente foi também a performance do guitarrista Igor Gnomo, um virtuoso reconhecido, que abriu mão de todas as firulas a que teria direito e colocou a própria habilidade a serviço da composição. Bonito. O mesmo pode ser dito da ascensão dos grupos locais de choro, representados por Os Tabaréus e o Grupo Brasileiríssimo. Rock, reggae, samba, chorinho e até forró. De tudo, um pouco.

A única banda avessa a qualquer sorte de classificação entrou em campo com o jogo ganho. A Coutto Orchestra, ponta de lança dessa geração, sintetiza as principais virtudes da música parida no coração do lugar. Por isso a conquista. E não poderia ser diferente. Agora é ganhar o mundo.

FAM – Diversos ritmos animaram a final do V Festival Aperipê de Música (FAM), realizada na noite deste sábado, 28 de setembro, no Teatro Lourival Batista. Artistas consagrados em Sergipe e novos nomes da música apresentaram ao público as 15 canções finalistas nas categorias música com letra e instrumental.

Arthur Matos abriu o Festival com a canção "O Jardim". Com voz doce e uma bela melodia, ele recebeu do júri oficial o segundo lugar na categoria letra com música. A grande vencedora dessa categoria também pelo júri oficial foi a nascida na Bahia, mas radicada e apaixonada por Sergipe desde a infância, Camila Campos com a música "Rosário de quem?". A terceira colocada foi Héloa com "Barquinho". A escolhida do público mistura influências do hardcore e metal dos anos de 1980 e 90. A banda Edose levou o primeiro lugar pelo voto popular com "Macacos Espaciais".

Os grandes vencedores da categoria instrumental foram Coutto Orchestra, Os Tabaréus e o grupo Brasileiríssimo, respectivamente primeiro, segundo e terceiro lugar júri oficial. Os Tabaréus levaram também o primeiro lugar pelo voto popular. Para Alisson Coutto, integrante da Coutto Orchestra, o festival já se consolidou como uma referência sergipana. "É a terceira vez que participamos desde o surgimento da banda em 2010 e temos muito orgulho não só pelo prêmio, mas de termos um festival importante como este, realizado pela rádio pública do nosso Estado", disse Alisson.

De acordo com o diretor-presidente da Fundação Aperipê, Luciano Correia, o evento superou as expectativas. "O Festival Aperipê de Música já está marcado no calendário artístico sergipano, um projeto exitoso que promove nacionalmente o talento sergipano", ressalta o diretor-presidente. Segundo o gerente da Aperipê FM, Alex Sant’Anna, essa edição foi uma das mais equilibradas. "A disputa foi muito acirrada, bons concorrentes, o público compareceu. Uma grande vitória para Aperipê, para a cena musical com novos talentos revelados, ou seja, o fomento da cadeia da música", explicou Alex Sant’Anna.

PREMIAÇÃO V FESTIVAL APERIPÊ DE MÚSICA

Melhor Intérprete (música com letra) – Camila Campos
Melhor Instrumentista – Igor Gnomo

1º lugar Música com Letra (júri oficial) – Camila Campos
2º lugar Música com Letra (júri oficial) – Arthur Matos
3º lugar Música com Letra (júri oficial) – Héloa

1º lugar Música Instrumental (júri oficial) – Coutto Orchestra
2º lugar Música Instrumental (júri oficial)l – Os Tabaréus
3º lugar Música Instrumental (júri oficial) – Grupo Brasileiríssimo

1º lugar Música com Letra (voto popular) – Edose
1º lugar Música Instrumental (voto popular) – Os Tabaréus