Quarta, 08 De Janeiro De 2025
       
**PUBLICIDADE
Publicidade

No rabo de um cometa


Publicado em 05 de maio de 2020
Por Jornal Do Dia


Aldir Blanc merecia mais carinho

 

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Pouca gente sabe o 
nome dos composi-
tores que mais tocam no rádio cansado do próprio coração. As canções estão lá, arquivadas no fundo da cachola, com todo o cuidado do mundo. Quem as escreveu, contudo, via de regra, não conhece os louros da fama, jamais recebe os aplausos merecidos.
Escrever letra de música é caminho certo para uma espécie cruel de anonimato, típica do Brasil. Vejam o caso do já saudoso Aldir Blanc. Letrista de mão cheia, colaborou com gente grande, foi gravado pela exigente Elis Regina. Mesmo assim, o respeitável senhor tinha as fuças desconhecidas do grande público, nunca distribuiu autógrafos na fila do pão.
O auge criativo de Aldir Blanc se deu justamente quando a televisão estava estabelecida como uma mídia de massa,capaz de criar consensos ao atropelo da crítica especializada, alheia a toda sorte de controvérsia. O fenômeno definiu os rumos da indústria cultural, para o bem e para o mal, como observou Edgard Morin. Antes da internet, o tubo de luz tinha poderes mágicos, tanto consagrava como olvidava, a torto e direito.
Sem as câmeras de TV, Roberto Carlos não seria coroado Rei. Sem os festivais históricos da Record, hoje uma plataforma a serviço do fundamentalismo religioso, a banda de Chico Buarque passaria em brancas nuvens. Graças à televisão, artistas se tornaram muito populares. Os eleitos da vênus platinada, sobretudo.
Acontece que o verdadeiro gênio muitas vezes é ignorado pelos holofotes. ‘Reposta ao tempo’ não pertence a Nana Caymmi – embora a cantora tenha se apossado, com muita propriedade, dos versos de Aldir Blanc. Exemplar do que aqui já foi apontado, a capacidade de aplainar qualquer relevo de singularidade, a faixa batizou um disco da artista lançado em 1998, mas é até hoje lembrada como a música de Hilda Furacão.
Aldir Blanc não era um Zé ninguém, escreveu canções inesquecíveis. Também não era só o parceiro de João Bosco. Foi um autor maiúsculo, com assinatura distinta. Em outro país, teria ganhado rios de dinheiro, mas deu a sorte duvidosa de nascer e trabalhar em Terra Brasílis. Não tinha um tostão no banco.Para ser internado, a filha precisou botar a boca no mundo, denunciar o tratamento dispensado ao criador de ‘O bêbado e o equilibrista’. É triste. Questões econômicas à parte, a brava gente fica lhe devendo mais carinho.

Rian Santos

Pouca gente sabe o  nome dos composi- tores que mais tocam no rádio cansado do próprio coração. As canções estão lá, arquivadas no fundo da cachola, com todo o cuidado do mundo. Quem as escreveu, contudo, via de regra, não conhece os louros da fama, jamais recebe os aplausos merecidos.
Escrever letra de música é caminho certo para uma espécie cruel de anonimato, típica do Brasil. Vejam o caso do já saudoso Aldir Blanc. Letrista de mão cheia, colaborou com gente grande, foi gravado pela exigente Elis Regina. Mesmo assim, o respeitável senhor tinha as fuças desconhecidas do grande público, nunca distribuiu autógrafos na fila do pão.
O auge criativo de Aldir Blanc se deu justamente quando a televisão estava estabelecida como uma mídia de massa,capaz de criar consensos ao atropelo da crítica especializada, alheia a toda sorte de controvérsia. O fenômeno definiu os rumos da indústria cultural, para o bem e para o mal, como observou Edgard Morin. Antes da internet, o tubo de luz tinha poderes mágicos, tanto consagrava como olvidava, a torto e direito.
Sem as câmeras de TV, Roberto Carlos não seria coroado Rei. Sem os festivais históricos da Record, hoje uma plataforma a serviço do fundamentalismo religioso, a banda de Chico Buarque passaria em brancas nuvens. Graças à televisão, artistas se tornaram muito populares. Os eleitos da vênus platinada, sobretudo.
Acontece que o verdadeiro gênio muitas vezes é ignorado pelos holofotes. ‘Reposta ao tempo’ não pertence a Nana Caymmi – embora a cantora tenha se apossado, com muita propriedade, dos versos de Aldir Blanc. Exemplar do que aqui já foi apontado, a capacidade de aplainar qualquer relevo de singularidade, a faixa batizou um disco da artista lançado em 1998, mas é até hoje lembrada como a música de Hilda Furacão.
Aldir Blanc não era um Zé ninguém, escreveu canções inesquecíveis. Também não era só o parceiro de João Bosco. Foi um autor maiúsculo, com assinatura distinta. Em outro país, teria ganhado rios de dinheiro, mas deu a sorte duvidosa de nascer e trabalhar em Terra Brasílis. Não tinha um tostão no banco.Para ser internado, a filha precisou botar a boca no mundo, denunciar o tratamento dispensado ao criador de ‘O bêbado e o equilibrista’. É triste. Questões econômicas à parte, a brava gente fica lhe devendo mais carinho.

 

**PUBLICIDADE



Capa do dia
Capa do dia



**PUBLICIDADE


**PUBLICIDADE
Publicidade