Notícia de um crime

Rian Santos – riansantos@jornaldodiase.com.br

Voz isolada na acanhada imprensa local, eu denuncio o abandono das esculturas do projeto Caju na Rua há anos. Após duas edições colorindo a capital sergipana, as peças em fibra de vidro foram abandonadas sob sol e chuva, à mercê de depredações e vandalismo. Uma lástima!
O trabalho de artistas da estirpe de um Zé Fernandes merecia mais atenção da Prefeitura de Aracaju, mas ninguém levantou a voz em defesa do patrimônio público. O resultado envergonhava a vista. A memória das artes visuais Serigy foi largada ao Deus dará.
Crime maior, no entanto, é cometido ainda agora. A Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb) parece acreditar que a caligrafia singular de artistas contemporâneos não faz nenhuma falta e resolveu tratar as esculturas assinadas por verdadeiros talentos como reles peças decorativas. Um tal Everaldo Andrade dos Santos, o leitor me perdoe a ignorância, foi contratado para fazer o que bem entendesse com o trabalho alheio.
Brutalidade tem limite. Não é papel do poder público municipal jogar tinta acrílica, de qualquer jeito, sobre a realização de artistas empenhados na renovação da linguagem em matéria de artes visuais, aqui e agora. Uma vez consumado, contudo, o atentado certamente permanecerá impune.
A direção da Emsurb presta, assim, um desserviço. Normal. Gestores com verdadeira sensibilidade não tropeçam em qualquer esquina. Mas, se perguntar não ofende: o prefeito Edvaldo Nogueira, que confraternizou com os artistas do projeto Caju na Rua, autorizou a patacoada, está mesmo ciente?