Quarta, 22 De Janeiro De 2025
       
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NOVO ANO E VELHA NOSTALGIA


Publicado em 29 de dezembro de 2018
Por Jornal Do Dia


 

* Manoel Moacir Costa Macêdo
O ano se encerra. Coincidem num mesmo tempo as comemorações do ano que vai, e do que vem. No passado, o novo ano, era aguardado como o ‘ano bom’. Uma esperança no futuro. No presente, como escreveu o poeta tropicalista, existe "uma coisa estranha no ar". O velho, não encerra como bom, e o novo, não é esperançoso. A realidade perversa no que se foi, é inconteste; e a utopia no que vem, é uma quimera.
Na pós-modernidade, as transformações se sucedem a cada novo dia, elas não aguardam um novo ano. Mudanças velozes nos costumes, na moralidade, no saber e no modo de viver. A vida não tem amarras, muda a cada tempo. A história com o seu acordado registro, ainda não depurou as consequências dessas rupturas. Inovações genéticas, mídias sociais, problemática de gênero, nacionalismo exacerbado, globalização seletiva, informações cifradas, entre outros, mostram uma realidade que não se foi com o ano velho, e projeta uma temida nostalgia no ano novo. 
As narrativas do paradigma vigente, estão em crise, a exemplo do iluminismo, o substituto das trevas. Carecem de suportes as consequências do big data, da internet das coisas, da conectividade global, da revolução de memória, e do retorno nostálgico de valores, tal qual no longínquo passado. Uma evidente contradição num tempo de densa inovação: o regresso da nostalgia. Um momento civilizatório tenso. 
Meio século atrás, o cantor dos boleros apaixonados, com a sua esplêndida e lírica voz, desprovida do recursos da engenharia do som, equipamentos computadorizados e hipnose de luzes, o carismático Nelson Gonçalves, desconhecido da juventude e da atualidade, cantou para as multidões: "[…] boemia aqui me tem de regresso e suplicando te peço […]". Um prenúncio do retorno de um passado, jamais imaginado.  Antecipou na própria carne o inferno das drogas, chaga do presente, calando por um tempo a incomparável voz, que na rotina era um gago assumido. 
A nostalgia estar de regresso. Atestada nos registros da história. No velho Oriente, tentativas de reanimar o medieval "califado islâmico". Retorno da degola como pena capital, e atração de jovens mundo afora, para as suas obscuras fileiras. As lutas ideológicas recentes entre xenofobia e humanismo no velho mundo, o difusor da modernização, toma as cores de um passado ariano. Nostalgias restritivas renascem no novo mundo. Estão em miséria as conquistas civilizatórias. No novo mundo da América do Norte, do desenvolvimento tecnológico, das liberdade individuais, potência planetária na ciência, na economia, na democracia, mas também na guerra e no imperialismo global, aflora um nacionalismo seletivo, raivoso e discriminador
Uma nostalgia tropical toma conta do nosso viver. Esse americano despertar, aparenta a nossa face tupiniquim reproduzida no espelho. Um discurso mesclado de moral religiosa e salvação, ganhou maioria na sociedade pátria. A retórica populista derrotou o pregado humanismo. A história com o seu método próprio haverá de avaliar o caminhar dessa nostalgia. No tempo certo, haveremos de saber, se conscientes e livres, ou como um algoritmo numa equação manipulada pelo poder globalizado, escolhemos o status quo numa consentida desigualdade de pairas e excluídos, tal qual as medievais populações.
Uma era de extremos. A falência das narrativas amplas. Não há como negar os riscos e volatilidade de valores iluministas e forças do progresso. Recusas, ameaças e restrições de direitos. Para Voltaire: "o tempo envolve no manto do esquecimento tudo quanto é indigno da posteridade, e imortaliza os feitos ilustres". Ou ainda, no dizer de Bernard-Henri Levy, filosofo francês: "as épocas sombrias não duram para sempre".
* Manoel Moacir Costa Macêdo,  Engenheiro Agrônomo, PhD pela University of Sussex, Brighton, Inglaterra

* Manoel Moacir Costa Macêdo

O ano se encerra. Coincidem num mesmo tempo as comemorações do ano que vai, e do que vem. No passado, o novo ano, era aguardado como o ‘ano bom’. Uma esperança no futuro. No presente, como escreveu o poeta tropicalista, existe "uma coisa estranha no ar". O velho, não encerra como bom, e o novo, não é esperançoso. A realidade perversa no que se foi, é inconteste; e a utopia no que vem, é uma quimera.
Na pós-modernidade, as transformações se sucedem a cada novo dia, elas não aguardam um novo ano. Mudanças velozes nos costumes, na moralidade, no saber e no modo de viver. A vida não tem amarras, muda a cada tempo. A história com o seu acordado registro, ainda não depurou as consequências dessas rupturas. Inovações genéticas, mídias sociais, problemática de gênero, nacionalismo exacerbado, globalização seletiva, informações cifradas, entre outros, mostram uma realidade que não se foi com o ano velho, e projeta uma temida nostalgia no ano novo. 
As narrativas do paradigma vigente, estão em crise, a exemplo do iluminismo, o substituto das trevas. Carecem de suportes as consequências do big data, da internet das coisas, da conectividade global, da revolução de memória, e do retorno nostálgico de valores, tal qual no longínquo passado. Uma evidente contradição num tempo de densa inovação: o regresso da nostalgia. Um momento civilizatório tenso. 
Meio século atrás, o cantor dos boleros apaixonados, com a sua esplêndida e lírica voz, desprovida do recursos da engenharia do som, equipamentos computadorizados e hipnose de luzes, o carismático Nelson Gonçalves, desconhecido da juventude e da atualidade, cantou para as multidões: "[…] boemia aqui me tem de regresso e suplicando te peço […]". Um prenúncio do retorno de um passado, jamais imaginado.  Antecipou na própria carne o inferno das drogas, chaga do presente, calando por um tempo a incomparável voz, que na rotina era um gago assumido. 
A nostalgia estar de regresso. Atestada nos registros da história. No velho Oriente, tentativas de reanimar o medieval "califado islâmico". Retorno da degola como pena capital, e atração de jovens mundo afora, para as suas obscuras fileiras. As lutas ideológicas recentes entre xenofobia e humanismo no velho mundo, o difusor da modernização, toma as cores de um passado ariano. Nostalgias restritivas renascem no novo mundo. Estão em miséria as conquistas civilizatórias. No novo mundo da América do Norte, do desenvolvimento tecnológico, das liberdade individuais, potência planetária na ciência, na economia, na democracia, mas também na guerra e no imperialismo global, aflora um nacionalismo seletivo, raivoso e discriminador
Uma nostalgia tropical toma conta do nosso viver. Esse americano despertar, aparenta a nossa face tupiniquim reproduzida no espelho. Um discurso mesclado de moral religiosa e salvação, ganhou maioria na sociedade pátria. A retórica populista derrotou o pregado humanismo. A história com o seu método próprio haverá de avaliar o caminhar dessa nostalgia. No tempo certo, haveremos de saber, se conscientes e livres, ou como um algoritmo numa equação manipulada pelo poder globalizado, escolhemos o status quo numa consentida desigualdade de pairas e excluídos, tal qual as medievais populações.
Uma era de extremos. A falência das narrativas amplas. Não há como negar os riscos e volatilidade de valores iluministas e forças do progresso. Recusas, ameaças e restrições de direitos. Para Voltaire: "o tempo envolve no manto do esquecimento tudo quanto é indigno da posteridade, e imortaliza os feitos ilustres". Ou ainda, no dizer de Bernard-Henri Levy, filosofo francês: "as épocas sombrias não duram para sempre".

* Manoel Moacir Costa Macêdo,  Engenheiro Agrônomo, PhD pela University of Sussex, Brighton, Inglaterra

 

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