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Nu com a mão no bolso
Publicado em 11 de fevereiro de 2025
Por Jornal Do Dia Se
Quem reagiu assustado ao peladão do MAM precisa saber do meu amigo John. Artista da fuleiragem, indiferente aos circuitos formais e os espaços convencionais de consagração, a alma liberta batizada John Eldon não está nem aí para os pitacos dessa gente odienta pautando o debate estético/político no Brasil do “golpe”. Tira a roupa onde bem entende. Não cansa a própria beleza com a caretice de seu ninguém.
Nu com a mão no bolso, um pé no desbunde e outro na arte de performance, John é daqueles que entendem o corpo como um território em disputa. Os meganhas não sabem, mas já passou muito janeiro desde quando o artista, ele mesmo, fez-se de palco e derivado da arte. Mostrar-se, colocar-se, deslocar-se na paisagem virou instrumento de uma reflexão privilegiada sobre o agora e o entorno – um dedo na ferida que, resta provado, ainda há de machucar as suscetibilidades de muita gente.
Aqui mesmo, em Sergipe, não falta quem se dispa de si mesmo, assumindo a veste de alegoria, feições alheias, ou nenhuma, para revelar o outro, iluminar os outros. Mycira Leão, Paula Barreto e Jonathan Rezende, para lembrar apenas os já citados por este diário, estão entre os corpos estranhos da cidade. Apenas por mero acaso não ganharam ainda a distinção duvidosa das campanhas reacionárias, a atenção do MBL.
Se toda nudez for mesmo castigada, meu amigo John está com os dias contados. Todo pra frente, exegeta de maluquices adormecidas na poeira das estantes, ele teve a coragem de se assenhorar do seu corpo, ex-colônia emancipada, e declarar a independência dos próprios sentidos e afetos. No seu umbigo, uma pátria de anarquia. A única norma é a do vento. (Rian Santos)