Números de guerra
Publicado em 16 de julho de 2021
Por Jornal Do Dia
Sergipe é o terceiro estado com maior taxa de morte violenta intencional a cada 100 mil habitantes (42,6). A informação consta no Anuário da Segurança Pública, divulgado ontem – um retrato da violência no Brasil.
São números de guerra: A taxa de mortes violentas intencionais cresceu 4% no país. A média ficou em 23,6 pra cada 100 mil habitantes. Sergipe só perde para Ceará (45,2) e Bahia (44,9). Já São Paulo (9), Santa Catarina (11,2) e Minas Gerais (12,6) tiveram as menores taxas. No Brasil, o perfil das vítimas é de pessoas negras (76,2%), jovens (54,3%) e do sexo masculino (91,3%).
A informação surpreende somente quem passou os últimos anos sob a atmosfera privilegia de uma bolha muito espessa. O número de armas de fogo apreendidas em Sergipe desde 2013, segundo os dados oficiais, ajuda a entender o crescimento extraordinário dos crimes violentos, ao longo dos últimos anos. Apreensão tão expressiva só é possível em lugar onde a bandidagem está armada até os dentes.
Em termos numéricos, o arsenal retirado de circulação é digno de qualquer milícia. Em seis anos, entre 2013 e 2019, pelo menos 7.563 armas de fogo foram apreendidas no estado. Não à toa, justamente no mesmo período, os assassinatos se multiplicaram, em escala exponencial.
A bem da verdade, o problema observado em Sergipe não difere do drama em curso no resto do Brasil. Não é o excesso de regulação sobre o porte e a posse de armas de fogo que deixa o cidadão desprotegido, como argumenta o presidente Jair Bolsonaro. É justo o contrário. Devidamente cumprido, o Estatuto do Desarmamento, aprovado há mais de uma década, seria suficiente para coibir a circulação do arsenal em mãos dos bandidos e incapazes, produzindo reflexos positivos nos índices de mortes violentas. O problema é que a corrupção e a ineficiência da polícia, o abandono das fronteiras nacionais, largadas ao Deus dará, criaram a oportunidade necessária para a criminalidade.
Hoje, mesmo em cidades de pequeno e médio porte, tradicionalmente pacatas, a exemplo dos municípios do interior sergipano, a violência faz vítimas fatais todos os dias.