Sexta, 24 De Janeiro De 2025
       
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O assunto é gaita!


Publicado em 19 de dezembro de 2019
Por Jornal Do Dia


Os serigys bem na fita!

 

Jornal do Dia – O tributo a Maurício Einhorm ajuda a remediar uma falta de memória crônica, cultiva em Terra Brasílis, concorda comigo? 
Julio Rego – Certamente. É impressionante a quantidade e velocidade de informações, caraterística de nosso tempo, nem bem se digeriu uma novidade e já somos apresentados a outra. Em relação à música isso, infelizmente, não é diferente. Não que eu me oponha a novidades, pelo contrário, adoro conhecer novos músicos e novas idéias mas que, de preferência, não caracterizem a música como um simples artigo de consumo com moda ditada pelo mercado. Veja, artistas como Maurício Einhorn não nascem todos os dias, seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. Mesmo com mais de 70 anos de atuação que deixam marcas em várias fases da história da música brasileira penso que ele não tem um reconhecimento a altura da qualidade de sua obra. O Projeto Viva Maurício Einhorn além de ser um exercício de gratidão pelos seus ensinamentos e influências sobre a gaita brasileira tem também um olhar por esse ângulo, sim, um remédio, um alerta, quem sabe, para esse desleixo com a cultura brasileira.
Jornal do Dia – Em sua experiência como músico, o abismo cavado entre os maiores artistas brasileiros e um público mais abrangente fica de algum modo perceptível? No caso dos instrumentistas, o reconhecimento de um público mais expressivo, incluindo leigos, deve ser ainda mais complicado.
Rego – Penso que um bom instrumentista pode fazer diferença significativa em qualquer arranjo, gravação ou show. Mas a maioria das pessoas parece se identificar mais naturalmente com a voz humana, então o interesse pela música cantada é maior do que pela música instrumental e pelo instrumentista. Sobre o abismo que você cita, acho que ele é uma das péssimas consequências da falta de memória crônica que mencionamos lá atrás. Às vezes, no Brasil, um artista se torna famoso por uma única música de sucesso na grande mídia e já é considerado um grande artista. O interessante é que essa música pode nem ser lá essas coisas e a depender da sede do mercado amanhã pode surgir um outro artista mais excepcional ainda. Às vezes converso com alguém interessado em gaita cuja referência para o instrumento é Alanis Morissete, por exemplo. A observação aqui não é sobre o gosto de cada um, tampouco são todos obrigados a deter todo tipo de informação. Mas uma das maiores referências de gaita no mundo é o carioca Maurício Einhorn e tantas vezes artistas como ele são mais ouvidos, mais valorizados e mais executados em outros países. O tal abismo me ter sido cavado ao longo de um processo histórico, contínuo e cruel no Brasil. Tapar esse abismo seria uma boa maneira de elevar a nossa auto estima, não?
Jornal do Dia – O seu caso, no entanto, é mais ou menos curioso. Embora se dedique de maneira continuada a projetos de música instrumental, a exemplo do terceto Café Pequeno, a colaboração constante com músicos e projetos diversos lhe colocou no primeiro time de instrumentistas da aldeia. Ao mesmo tempo, há um pequeno boom de música "de gente grande" sendo realizada em Sergipe. O sergipano é um povo especialmente sensível à música?
Rego – A música instrumental é mesmo uma das minhas paixões. Mesmo apenas como apreciador, acho o diálogo entre instrumentos algo extremamente atraente. Quando percebo um ser humano dominando um instrumento a ponto de fazer dele, parte de seu próprio corpo, acho isso fascinante. Quando resolvi levar a sério, investir, estudar e a me aprimorar no instrumento havia poucos gaitistas em Sergipe. E ainda há. Essa demanda me proporcionou oportunidade de trabalhar e aprender com muitos artistas sergipanos de diferentes estilos, bem como ajudou na construção de minha identidade musical. Sou muito grato a tudo isso. A sensibilidade à música do povo sergipano é evidente, independente da opção musical, seja num show de arrocha lotado, no Mercado Municipal, seja num concerto igualmente prestigiado de música clássica, no Teatro Tobias Barreto. Seja também no interesse por aprender um instrumento. Outro dia um amigo professor de música me contou que já houve cerca de 1500 inscritos para o curso de violão no Conservatório de Música de Sergipe, em um determinado período. Por aqui sempre houve gente fazendo música com muita paixão, sempre houve artistas com nível ¨de gente grande¨, seja na técnica de instrumento, seja em criatividade ou seja na profunda riqueza dos cantos e sons de nosso folclore. Acho que o ¨boom¨ atual é que resultado do aumento quantitativo e qualitativo dessas manifestações e do destaque cada vez maior de nossos valores além fronteiras. 
Jornal do Dia –  É mais bonito celebrar um artista ainda em vida, ao contrário de uma certa necrofilia da arte, né isso?
Rego – Rapaz, sem dúvida é outra história! Quero muito que o Viva Maurício Einhorn atinja a meta proposta na campanha de financiamento coletivo e que possamos realizar um grande show de lançamento do CD com a presença de todos os 27 gaitistas envolvidos e do próprio Maurício Einhorn. Quero muito dar esse abraço de agradecimento nele e desejar-lhe muitos anos de muita música e inspiração!

Rian Santos

Quando um jornalista menciona Julio Rego, o assunto é gaita. Justo hoje, quando o músico sobe ao palco do Festival Quinta Instrumental acompanhado pelos colegas Igor Côrtes e Matheus Santana, não poderia ser diferente.

Anos atrás, quando Julio participou de um tributo ao mestre Maurício Einhorm, trocou algumas palavras com o Jornal do Dia, sob o pretexto de divulgar o projeto. Uma oportunidade de ouro para tratar daquilo que eu chamo de música de gente grande.

Jornal do Dia – O tributo a Maurício Einhorm ajuda a remediar uma falta de memória crônica, cultiva em Terra Brasílis, concorda comigo? 

Julio Rego – Certamente. É impressionante a quantidade e velocidade de informações, caraterística de nosso tempo, nem bem se digeriu uma novidade e já somos apresentados a outra. Em relação à música isso, infelizmente, não é diferente. Não que eu me oponha a novidades, pelo contrário, adoro conhecer novos músicos e novas idéias mas que, de preferência, não caracterizem a música como um simples artigo de consumo com moda ditada pelo mercado. Veja, artistas como Maurício Einhorn não nascem todos os dias, seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. Mesmo com mais de 70 anos de atuação que deixam marcas em várias fases da história da música brasileira penso que ele não tem um reconhecimento a altura da qualidade de sua obra. O Projeto Viva Maurício Einhorn além de ser um exercício de gratidão pelos seus ensinamentos e influências sobre a gaita brasileira tem também um olhar por esse ângulo, sim, um remédio, um alerta, quem sabe, para esse desleixo com a cultura brasileira.

Jornal do Dia – Em sua experiência como músico, o abismo cavado entre os maiores artistas brasileiros e um público mais abrangente fica de algum modo perceptível? No caso dos instrumentistas, o reconhecimento de um público mais expressivo, incluindo leigos, deve ser ainda mais complicado.

Rego – Penso que um bom instrumentista pode fazer diferença significativa em qualquer arranjo, gravação ou show. Mas a maioria das pessoas parece se identificar mais naturalmente com a voz humana, então o interesse pela música cantada é maior do que pela música instrumental e pelo instrumentista. Sobre o abismo que você cita, acho que ele é uma das péssimas consequências da falta de memória crônica que mencionamos lá atrás. Às vezes, no Brasil, um artista se torna famoso por uma única música de sucesso na grande mídia e já é considerado um grande artista. O interessante é que essa música pode nem ser lá essas coisas e a depender da sede do mercado amanhã pode surgir um outro artista mais excepcional ainda. Às vezes converso com alguém interessado em gaita cuja referência para o instrumento é Alanis Morissete, por exemplo. A observação aqui não é sobre o gosto de cada um, tampouco são todos obrigados a deter todo tipo de informação. Mas uma das maiores referências de gaita no mundo é o carioca Maurício Einhorn e tantas vezes artistas como ele são mais ouvidos, mais valorizados e mais executados em outros países. O tal abismo me ter sido cavado ao longo de um processo histórico, contínuo e cruel no Brasil. Tapar esse abismo seria uma boa maneira de elevar a nossa auto estima, não?

Jornal do Dia – O seu caso, no entanto, é mais ou menos curioso. Embora se dedique de maneira continuada a projetos de música instrumental, a exemplo do terceto Café Pequeno, a colaboração constante com músicos e projetos diversos lhe colocou no primeiro time de instrumentistas da aldeia. Ao mesmo tempo, há um pequeno boom de música "de gente grande" sendo realizada em Sergipe. O sergipano é um povo especialmente sensível à música?

Rego – A música instrumental é mesmo uma das minhas paixões. Mesmo apenas como apreciador, acho o diálogo entre instrumentos algo extremamente atraente. Quando percebo um ser humano dominando um instrumento a ponto de fazer dele, parte de seu próprio corpo, acho isso fascinante. Quando resolvi levar a sério, investir, estudar e a me aprimorar no instrumento havia poucos gaitistas em Sergipe. E ainda há. Essa demanda me proporcionou oportunidade de trabalhar e aprender com muitos artistas sergipanos de diferentes estilos, bem como ajudou na construção de minha identidade musical. Sou muito grato a tudo isso. A sensibilidade à música do povo sergipano é evidente, independente da opção musical, seja num show de arrocha lotado, no Mercado Municipal, seja num concerto igualmente prestigiado de música clássica, no Teatro Tobias Barreto. Seja também no interesse por aprender um instrumento. Outro dia um amigo professor de música me contou que já houve cerca de 1500 inscritos para o curso de violão no Conservatório de Música de Sergipe, em um determinado período. Por aqui sempre houve gente fazendo música com muita paixão, sempre houve artistas com nível ¨de gente grande¨, seja na técnica de instrumento, seja em criatividade ou seja na profunda riqueza dos cantos e sons de nosso folclore. Acho que o ¨boom¨ atual é que resultado do aumento quantitativo e qualitativo dessas manifestações e do destaque cada vez maior de nossos valores além fronteiras. 

Jornal do Dia –  É mais bonito celebrar um artista ainda em vida, ao contrário de uma certa necrofilia da arte, né isso?

Rego – Rapaz, sem dúvida é outra história! Quero muito que o Viva Maurício Einhorn atinja a meta proposta na campanha de financiamento coletivo e que possamos realizar um grande show de lançamento do CD com a presença de todos os 27 gaitistas envolvidos e do próprio Maurício Einhorn. Quero muito dar esse abraço de agradecimento nele e desejar-lhe muitos anos de muita música e inspiração!

 

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