O BANESE E A 'SEGIPANIDADE FERIDA'
Publicado em 23 de setembro de 2013
Por Jornal Do Dia
Como se poderia prever em relação ao desencontro entre o prefeito João Alves e o BANESE, pesaram os argumentos do sindicato, principalmente, invocando o sentimento de ‘sergipanidade’, ou seja, alguma espécie de orgulho pela existência de um banco sergipano, um, dos três estatais que restaram, depois da varredura efetuada no governo de FHC, levando de roldão para a lata de lixo das coisas descartáveis e inservíveis uma chusma de bancos estaduais falidos em consequência das desastradas ações de sucessivos favorecimentos movidas pelo conjugado interesse patrimonial e político.
O BANESE não estava entre os piores, mas andava mal das pernas. Mesmo sendo ‘tucano’ e alinhado às teses neoliberais de redução do tamanho do Estado através da desestatização ampla, geral e irrestrita (tese que, estendida até à liberação completa do mercado ou cassino financeiro, levou-nos às crises que se sucedem) Albano, então no governo, decidiu manter o BANESE, apesar de ter ouvido do ministro da fazenda Pedro Malan que o governo federal se recusaria a injetar recursos para dar sobrevida a bancos estaduais.
Mas o BANESE sobreviveu, e a cada ano exibe a festejada conquista de lucros crescentes. Bancos exibindo portentosos lucros é sempre uma afronta à sociedade, ao empresário sufocado pela agiotagem oficial que vai além do mercado financeiro e invade todo o aparelho burocrático, sem nenhum acanhamento.
O Estado quase sempre caloteiro se torna implacável cobrador.
Nos juros sempre maiores que o BANESE cobra, no martírio a que submete servidores aguardando, nos dias de pagamento, que os poucos caixas existentes consigam dar cabo da estafante tarefa; na ausência de iniciativas voltadas para a oxigenação da nossa economia, nisso tudo, no descaso, na lentidão, no marasmo burocrático, se vai perdendo a invocada ¨sergipanidade¨ que o banco exibiria como apreciado diferencial.
Os sindicalistas, tão interessados na manutenção do BANESE, e esse interesse é legítimo, poderiam ir bem além do argumento da ¨sergipanidade¨ incluindo no debate a situação do banco, a necessidade de uma identificação maior com as raízes da alegada sergipanidade, o que poderia ser demonstrado, principalmente, com o fortalecimento do seu papel de banco de desenvolvimento, livrando-se do balcão do varejo, ou até tentando fortalecê-lo, para conseguir maiores lucros e investi-los estrategicamente nos setores da economia com maior amplitude social.
O governador Marcelo Déda que pensa com lucidez e a tudo acompanha, apesar dos tormentos de um alongado tratamento, postou no twiter que, sobre ele desabaria o mundo, se, quando prefeito de Aracaju, houvesse tido a mesma ideia de João Alves, anunciando que as contas da Prefeitura seriam retiradas do BANESE.
Tem razão o governador Marcelo Déda. Sem duvidas, quando ele era prefeito de Aracaju, se houvesse feito em relação ao BANESE o que agora o atual prefeito anuncia, João Alves, que naquela ocasião era governador, o teria criticado duramente.
O governador interino Jackson Barreto seguindo a linha que Déda deixou clara na sua pontual tuitada, irá conversou tentando demover o prefeito de Aracaju da intenção de retirar as contas do BANESE.
Mas o ¨banco dos sergipanos¨ precisa, em primeiro lugar, fazer-se efetivamente merecedor do nome, para isso, aprendendo a tratar melhor os clientes, entre eles os prefeitos, ultimamente tão desprezados, e promovendo uma mudança ampla que o liberte do marasmo burocrático, da ausência de criatividade onde se isola.
Ninguém se sente obrigado, por maior que seja o seu sentimento de sergipanidade, a manter contas num banco que a todos trata com uma arrogante ou desinteligente indiferença.