Quinta, 26 De Dezembro De 2024
       
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O BRASIL NOS PÉS DE NEYMAR


Publicado em 01 de março de 2015
Por Jornal Do Dia


Notícia boa do Brasil, no exterior, é só Neymar quem a produz. Para ser mais justo há, além do atacante do Barcelona, mais uma dezena de bons jogadores brasileiros espalhados pelo mundo que compensam, com notícias positivas, a imensa devastação da imagem do nosso país.  

Apesar da enorme rivalidade com o Barcelona, as páginas esportivas dos jornais madrilenhos não poupam fartos adjetivos elogiosos ao brasileiro que, já antecipam, ultrapassará o argentino Messi. Já os portugueses dizem, até com satisfação, que depois da era Cristiano Ronaldo começa a do brasileiro Neymar. Como em boa parte dos países europeus o noticiário futebolístico supera o político ou o econômico, a desgraçada fase que vive o Brasil vai sendo de certa forma compensada, enquanto restarem habilidades nos pés dos nossos patrícios chutadores.

Mas só de futebol não vive o mundo, por isso, a decepção com o Brasil é enorme, torna-se pior ainda porque depois de uma fase de euforia, e esperança, de repente tudo se desfaz, como se o sonho de um país melhor, houvesse sido apenas uma fugaz quimera. Se os brasileiros andam hoje pessimistas, temerosos, não é menor a percepção negativa que têm os estrangeiros sobre aquele enorme pais tropical que surgia como exceção promissora, espécie de China incrustada na latinoamérica, palco de tantos desastrados experimentos sociais, seguidos de fracassos econômicos.

A nossa experiência na área social não foi desastrada, muito menos um equívoco, tanto é assim que o mundo a elogia, e tantos procuram imitá-la. Acontece, porém, que ao retirarmos algumas dezenas de milhões de pessoas da miséria absoluta, não nos demos conta de outros imensos problemas que corriam paralelos e não foram equacionados como deveriam ter sido. Havia um sentimento de que a bonança já estaria conquistada e nos esquecemos das voltas que o mundo dá. E para os solavancos do imprevisível nem mesmo os bilhões de dólares de reservas podem servir como amortecedor. Mas o pior solavanco ao longo da caminhada não resultou apenas de fatores externos, nós mesmos o provocamos quando esquecemos completamente de cuidar de coisas essenciais, talvez até triviais, e que nem vale a pena enumerá-las, de tão corriqueiras e evidentes que são.
Aconteceu aquela calamidade na Petrobras e que poderá ser repetida em outras áreas públicas.
Fazemos companhia aos cinco países mais violentos do mundo.

Pela primeira vez em tantos anos o feérico carnaval do Rio quase não se transformou em notícia nas televisões europeias, onde há um sentimento generalizado de medo em relação ao Brasil, um destino que será brevemente riscado dos roteiros turísticos, caso nós, brasileiros, não tomemos vergonha na cara e não se decida, finalmente, mobilizar tudo o que for possível para uma ação centralizada envolvendo Justiça, Ministério Público, Policias estaduais e federais, Marinha, Exército, Aeronáutica, Força federal, os setores de inteligência, para por fim à violência, ao clima inimaginável de catastrófica insegurança em que vivemos.

Não há mais tempo para esperar que venham a frutificar as boas intenções de políticas sociais, porque a violência, o desrespeito à lei contaminam todo o nosso tecido social, e agora, jovens das classes privilegiadas já andam a manejar fuzis e bombas explodindo caixas de bancos. Ao desafio de criminosos a polícia sozinha não conseguirá vencer. Precisamos, com a máxima das urgências, disseminar a ideia de uma cultura de paz, e para isso é preciso que sejam usadas as escolas, que a sociedade toda se mobilize, e a mídia abandone o sensacionalismo da criminalidade e descubra que, sendo concessões públicas, rádios e televisões devem se empenhar todas, buscando por fim ao barbarismo e espalhar a civilização.

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