O sertão profundo do cancioneiro nordestino (Divulgação)
O cantador, o violeiro…
Publicado em 13 de setembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
.
Heitor Mendonça não é só um “cantador de apartamento”, como eu ouvi outro dia, sob o pretexto de comentar os shows dedicados aos grandes nomes do cancioneiro nordestino. A sua disposição para arreganhar a boca e soltar a voz com toda a força, entoando repertório próprio, ou alheio, faz dele um verdadeiro autor.
Para além das discussões mais bestas, contudo, resta o imperativo incontornável da vivência. Elomar, o maior de todos, vivo ou morto, já cantou em verso e prosa o que é ser de tal lugar.
Os versos, claro, reverberam em forma de canção. A prosa consta em depoimentos diversos, relatos de conversa jogada fora, raras entrevistas, bem como no belo texto de apresentação do álbum ‘Nas quadras das águas perdidas’ – um clássico.
Ali, Elomar sublinha os contornos da experiência singular de viver e cantar o sertão profundo, com a linguagem própria de lá, tal e qual um Guimarães Rosa da viola (ver nesta página). É comovente.
Heitor Mendonça é um, ele mesmo, não outro. Mas só de emprestar a emoção sincera para cantar com a devida propriedade uma experiência assim tão verdadeira e distante – um exercício de alteridade possível, talvez, somente por meio da arte -, merece os aplausos de toda a gente.
No dia 20 de setembro, Heitor se junta ao multiartista Nino Karvan, este que ataca em diversas frentes, num show dedicado ao sertão profundo do cancioneiro nordestino, com a produção impecável de João Victor Fernandes. Apresentam-se em casa, no palco do Café da Gente (anexo ao Museu da Gente Sergipana). Como a dizer, conheço o meu lugar.