O CENSO AGROPECUÁRIO E A AGRICULTURA SERGIPANA
Publicado em 15 de setembro de 2018
Por Jornal Do Dia
* Manoel Moacir Costa Macêdo
A agricultura brasileira é uma atividade profissional. Exige competência e investimento em gestão, tecnologia, insumos, trabalho, energia, água, equipamentos, assistência técnica, entre outros fatores de produção, que oneram e especializam os sistemas produtivos. Uma atividade de risco, dependente das condições climáticas, em particular das chuvas, no tempo certo do plantio, desenvolvimento, e colheita dos cultivos. Longe de uma ação romântica e sentimental na arena capitalista. Ela se subordina à volatilidade dos mercados.
O agronegócio brasileiro movimenta montantes financeiros superiores aos bancos e grandes empresas. Os empréstimos do governo federal para as agriculturas brasileiras totalizam duzentos bilhões de reais por ano. Essa realidade, acolhe o indispensável e competente planejamento nas políticas públicas, fomento à produção, comercialização, e abastecimento dos produtos agropecuários. A fonte principal para um eficiente planejamento das atividades da agropecuária, são as informações seguras e confiáveis do censo agropecuário. Uma coleta de dados primários que abrange o universo dos estabelecimentos rurais brasileiros patrocinado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Objetiva com significância e fidedignidade verificar as atividades agropecuárias, florestais e aquícolas; os arranjos produtivos; o uso da terra; a ocupação do trabalho; a especialização rural; as receitas das propriedades; a disponibilidade de água; o uso de agrotóxicos; e a mecanização e conservação do solo, entre outros indicadores. O recente Censo Agropecuário de 2017, atualiza o anterior no lapso temporal de uma década.
Nesse tempo, transformações aconteceram, algumas qualificadas como mudança geracional, em face da velocidade das inovações tecnológicas num mundo globalizado. A quantidade de terra por se, não tem expressivo valor, como no passado dos coronéis e latifúndios improdutivos. Não é mais uma reserva de valor. Terras extensas e improdutivas, não agregam, nem valor, nem poder. Embora sejam dados preliminares e sintéticos, as informações declaradas pelos entrevistados e sujeitas às críticas; trazem contribuições relevantes para entender a atualidade da agricultura sergipana.
Em Sergipe, no tempo de uma década – 2006 a 2017 -, o total dos estabelecimentos rurais, reduziu de 100.607 para 93.333; uma diminuição de 1.482.437 para 1.456.813 hectares. Para os estabelecimentos rurais menores que 1.000 hectares, ocorreu uma movimentação de 95.815 para 90.235 hectares, isto é, de 97,4 para 97,3%. As terras arrendadas aumentaram de 4,5% para 8,0%. Nas propriedades de até 10 hectares não sofreram movimentações relevantes. O número de tratores aumentou de 2.989 para 4.839. O inverso aconteceu com as pessoas ocupadas nos estabelecimentos rurais, reduziu de 268.800 para 231.000. Destaque para 66,4% da área total ocupada por estabelecimentos rurais. Coloca o Estado de Sergipe como o primeiro do Nordeste e o sétimo do Brasil. O município de Lagarto, destaca-se com 6.900 estabelecimentos rurais.
Chama a atenção, a assistência técnica, o envelhecimento e o nível educacional da população rural brasileira. No Nordeste, 90,84% dos empreendimentos rurais de até cinco hectares, não recebem assistência técnica. A idade média do produtor rural é 45 anos. A juventude deixou os pais na zona rural e migrou para a cidade. Outra descoberta censitária: 23% dos produtores rurais brasileiros são analfabetos. Um quarto dos que vivem no campo, não sabem ler, nem escrever. Informações relevantes para compreender a pujante agropecuária brasileira. Alterações esperadas na dinâmica de uma década. Fontes substantivas e disponíveis às autoridades governamentais, produtores rurais, estudiosos, consumidores, agentes de mercado, e organizações sociais e corporativas para planejar as estratégicas e intervenções num mundo rural lastreado por condicionantes globalizados. Planejar a agricultura sem considerar o censo agropecuário, pode significar um equívoco, e comprometer o futuro do setor vitorioso da economia nacional, numa "mudança de época".
* Manoel Moacir Costa Macêdo, Engenheiro Agrônomo, PhD pela University of Sussex, Brigthon, Inglaterra