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O curso das águas
Publicado em 18 de maio de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
O destino de toda barragem é estourar, um dia. Fala-se aqui de Mariana e Brumadinho, por óbvio, além de todas as represas construídas por homens gulosos, tendo em vista conter rejeitos e rejeitados, os restos descartados pelo extrativismo odiento de cada dia. Fala-se aqui dos cursos de água que transbordam por conta da emergência climática e do Rio Grande do Sul, também.
Barreiras de pedra e terra, rios volumosos, os muros imensos de conceitos antigos e velhos costumes… Os podres de ricos reparam as fissuras abertas pelo tempo na ordem vertical do próprio mundo, mortos de medo.
Quando a lama se espalha, a terra inteira treme com estrondo. No rastro da destruição, restam cidades arrasadas, uma população de desabrigados, desaparecidos, mortos e feridos.
Os cadáveres de Brumadinho assombram o desenvolvimentismo verde e amarelo, sufocados por uma legislação ambiental frouxa. Os sobreviventes do Rio Grande do Sul lidam com politicagem e o desserviço das Fake News. Somam-se, uns e outros, às vítimas da muralha conservadora erguida por autoridades civis e religiosas, com o fim de arbitrar sobre questões de foro íntimo.
Aborto, maconha, fé, identidade e gênero… As fronteiras do corpo, suas zonas e limites, demarcam um território em disputa.
Assim, o pranto rouco que ecoa ainda hoje no interior de Minas Gerais e se junta agora ao horror dos brasileiros em desgraça no Rio Grande do Sul, com o potencial de perturbar o sono de muita gente.
Os negaciosnistas do clima e os mentirosos da extrema direita, mais os deputados de bíblia em punho, todos têm culpa no cartório. Ninguém empilha tijolos, impondo obstáculos aos caminhos naturais dos homens, sem sujar as mãos de lama ou sangue.