Sábado, 18 De Janeiro De 2025
       
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O estatuto do mau político (V)


Publicado em 04 de agosto de 2018
Por Jornal Do Dia


 

Manoel Moacir Costa Macêdo
No século passado, o romancista Lima Barreto, qualificou de forma imaginária a república brasileira como "Brazundanga", uma metáfora para uma sociedade identificada pelo autoritarismo, abuso de poder e desigualdade. Uma sociedade patrimonial dominada pelas famílias ricas, valoradas pelo quantum que acumulavam de terra, escravos e engenhos. O sistema de controle vigia no interior das fracas estruturas do Estado. O poder judiciário nesse tempo, pendia como normalidade para os interesses patrimoniais. Decidiam conforme as seletivas demandas.
Um século adiante, algumas dessas mazelas continuam vivas e até definem o nosso modo de ser e viver. As práticas dos ‘maus políticos’, são evidências reproduzidas no tempo, em formas coloridas pela modernidade temporal, mas em essência, a prática política continua pendente aos interesses corporativos e patrimoniais, escamoteados pelo poder econômico, a força dos grupos de interesses e a captura do Estado, reproduzidos em novos significados. A carência do amparo social, das renovações e estratégias de bem-estar social coletivo, evidencia essa realidade. Os controles continuam encarcerados nas trincheiras do poder econômico, de uma elite atrasada e retrógrada aos avanços civilizatórios e elementares do bem viver.
Informações atualizadas demonstram que os pobres no Brasil necessitam de nove gerações adiante, para igualar à renda dos ricos, isto pode significar um lapso temporal de mais de duzentos anos, com realce para os negros, em relação aos brancos. As políticas de distribuição da riqueza não reduziram a desigualdade de cima para baixo. A tímida movimentação aconteceu em níveis toleráveis e consentidos na base da pirâmide. A informalidade no trabalho alcança 40 milhões de brasileiros desprovidos de qualquer seguridade social. Concentramos 14% dos homicídios mundiais, quatro custodiados morrem por dia nas masmorras carcerárias, e somos a sociedade que mais lincha no planeta. Elementos assombrosos que clamam por novas políticas civilizatórias, além da sátira nesse estatuto.
Artigo Vigésimo Terceiro: Que a mão esquerda saiba o que faz a direita
§10 – Use a gráfica do Congresso Nacional para divulgar as ações nas bases;
§20 – Divulgue com destaque as saudações e comunicações dos eleitores;
§30 – Participe de atividades que rendem votos, o interesse é no título de eleitor; 
§40 – Esconda o dinheiro na forma de joias, malas e caixas; nunca em bancos; 
§
50 – Os laranjas e os paraísos fiscais são bons depósitos, eles são anônimos.
Artigo Vigésimo Quarto: Poucos chamados e poucos escolhidos
I – És um escolhido entre milhões de eleitores, aproveite a oportunidade, ela é única;
II – Demonstre ser encantador, carismático e enviado divino; 
III – Desde o primeiro dia do mandato, defina as estratégias da reeleição; 
IV – Nunca aceite a liderança, relatorias e cargos em comissões, exigem trabalho;
V – Reivindique cargo na mesa, mesmo de suplente, para usufruir as vantagens;
Artigo Vigésimo Quinto: O importante é o candidato e não o partido
§10 – O eleitor vota no candidato e não no partido, mude de partido;
§20 – O programa partidário e a coerência política, são sonhos de utópicos;
§30 – O partido político é um ente privado e tem dono, priorize a eleição;
§40 – O partido do mandato, será o partido que estiver no poder;
§50 – A lei não é para todos, o "jeitinho" é a sua lei.
Artigo Vigésimo Sexto: Pesquisa eleitoral verdadeira é a sua
§10 – Não permita que novas lideranças ameacem o mandato, destrua com frieza;
§20 – Na arena do poder, participe do time que está ganhando, nada de renovação;
§30 – Desqualifique qualquer denúncia do Ministério Público;
§40 – O exercício do mandato parlamentar é divino, não admite controles profanos;
§50 – Receba as propinas e caixa-dois por seus laranjas.
Artigo Vigésimo Sétimo: Tenha duas caras, a politicagem é um circo
§10 – Dance conforme a música e aprenda o balé da política;
§20 – As jogadas perigosas são exclusivamente suas, não delegue;
§30 – Caso grampeado, ou citado em delação premiada, negue e destrua as provas;
§40 – Lavagem de dinheiro e caixa-dois são normais, todos fazem;
§50 – Desconfie sempre, não existem amigos e aliados incondicionais.
O populismo vigente na "Brazundanga", estimula a politicagem dos ‘maus políticos’ – os clientelistas profissionais de sempre. Movimento emergente, em sociedades intolerantes com as diferenças e resistentes às mudanças. Ele rechaça a diversidade, promove a divisão, e solapa a democracia. Existem extratos influentes que dele tiram vantagens, em particular os beneficiários econômicos, os ganhadores de sempre. Para o professor Jan-Werner Muller, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, "o populista modula o discurso para falar diretamente com quem lhe interessa".
Manoel Moacir Costa Macêdo é PhD pela University of Sussex, Brighton, Inglaterra

Manoel Moacir Costa Macêdo

No século passado, o romancista Lima Barreto, qualificou de forma imaginária a república brasileira como "Brazundanga", uma metáfora para uma sociedade identificada pelo autoritarismo, abuso de poder e desigualdade. Uma sociedade patrimonial dominada pelas famílias ricas, valoradas pelo quantum que acumulavam de terra, escravos e engenhos. O sistema de controle vigia no interior das fracas estruturas do Estado. O poder judiciário nesse tempo, pendia como normalidade para os interesses patrimoniais. Decidiam conforme as seletivas demandas.
Um século adiante, algumas dessas mazelas continuam vivas e até definem o nosso modo de ser e viver. As práticas dos ‘maus políticos’, são evidências reproduzidas no tempo, em formas coloridas pela modernidade temporal, mas em essência, a prática política continua pendente aos interesses corporativos e patrimoniais, escamoteados pelo poder econômico, a força dos grupos de interesses e a captura do Estado, reproduzidos em novos significados. A carência do amparo social, das renovações e estratégias de bem-estar social coletivo, evidencia essa realidade. Os controles continuam encarcerados nas trincheiras do poder econômico, de uma elite atrasada e retrógrada aos avanços civilizatórios e elementares do bem viver.
Informações atualizadas demonstram que os pobres no Brasil necessitam de nove gerações adiante, para igualar à renda dos ricos, isto pode significar um lapso temporal de mais de duzentos anos, com realce para os negros, em relação aos brancos. As políticas de distribuição da riqueza não reduziram a desigualdade de cima para baixo. A tímida movimentação aconteceu em níveis toleráveis e consentidos na base da pirâmide. A informalidade no trabalho alcança 40 milhões de brasileiros desprovidos de qualquer seguridade social. Concentramos 14% dos homicídios mundiais, quatro custodiados morrem por dia nas masmorras carcerárias, e somos a sociedade que mais lincha no planeta. Elementos assombrosos que clamam por novas políticas civilizatórias, além da sátira nesse estatuto.
Artigo Vigésimo Terceiro: Que a mão esquerda saiba o que faz a direita
§10 – Use a gráfica do Congresso Nacional para divulgar as ações nas bases;
§20 – Divulgue com destaque as saudações e comunicações dos eleitores;
§30 – Participe de atividades que rendem votos, o interesse é no título de eleitor; 
§40 – Esconda o dinheiro na forma de joias, malas e caixas; nunca em bancos; §50 – Os laranjas e os paraísos fiscais são bons depósitos, eles são anônimos.
Artigo Vigésimo Quarto: Poucos chamados e poucos escolhidos
I – És um escolhido entre milhões de eleitores, aproveite a oportunidade, ela é única;
II – Demonstre ser encantador, carismático e enviado divino; 
III – Desde o primeiro dia do mandato, defina as estratégias da reeleição; 
IV – Nunca aceite a liderança, relatorias e cargos em comissões, exigem trabalho;
V – Reivindique cargo na mesa, mesmo de suplente, para usufruir as vantagens;
Artigo Vigésimo Quinto: O importante é o candidato e não o partido
§10 – O eleitor vota no candidato e não no partido, mude de partido;
§20 – O programa partidário e a coerência política, são sonhos de utópicos;
§30 – O partido político é um ente privado e tem dono, priorize a eleição;
§40 – O partido do mandato, será o partido que estiver no poder;
§50 – A lei não é para todos, o "jeitinho" é a sua lei.
Artigo Vigésimo Sexto: Pesquisa eleitoral verdadeira é a sua
§10 – Não permita que novas lideranças ameacem o mandato, destrua com frieza;
§20 – Na arena do poder, participe do time que está ganhando, nada de renovação;
§30 – Desqualifique qualquer denúncia do Ministério Público;
§40 – O exercício do mandato parlamentar é divino, não admite controles profanos;
§50 – Receba as propinas e caixa-dois por seus laranjas.
Artigo Vigésimo Sétimo: Tenha duas caras, a politicagem é um circo
§10 – Dance conforme a música e aprenda o balé da política;
§20 – As jogadas perigosas são exclusivamente suas, não delegue;
§30 – Caso grampeado, ou citado em delação premiada, negue e destrua as provas;
§40 – Lavagem de dinheiro e caixa-dois são normais, todos fazem;
§50 – Desconfie sempre, não existem amigos e aliados incondicionais.
O populismo vigente na "Brazundanga", estimula a politicagem dos ‘maus políticos’ – os clientelistas profissionais de sempre. Movimento emergente, em sociedades intolerantes com as diferenças e resistentes às mudanças. Ele rechaça a diversidade, promove a divisão, e solapa a democracia. Existem extratos influentes que dele tiram vantagens, em particular os beneficiários econômicos, os ganhadores de sempre. Para o professor Jan-Werner Muller, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, "o populista modula o discurso para falar diretamente com quem lhe interessa".
Manoel Moacir Costa Macêdo é PhD pela University of Sussex, Brighton, Inglaterra

 

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