Quinta, 26 De Dezembro De 2024
       
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O ESTILO “CARCARÁ” DO SINTESE E DA DEPUTADA (1)


Publicado em 31 de maio de 2015
Por Jornal Do Dia


Quando a ditadura ainda era envergonhada, sem exibir a face despótica do Ato Institucional nº 5, sobreviviam alguns resquícios de liberdade. Nas artes, principalmente na música, esboçavam-se sutis protestos.  Houve aquela canção de Geraldo Vandré: ¨Caminhando¨, ou ¨Pra Não Dizer que Não Falei de Flores¨, logo transformada em poético hino de inconformidade e esperança. Houve aquela outra, de João do Valle, onde um bicho, o gavião Carcará, ave valente do sertão, começou a simbolizar a dureza da resistência contra a adversidade, ou a necessidade da luta.
Foi quando a voz adocicada de Nara Leão e uma outra maviosa e marcial de Maria Betânia ouviram-se, e se fizeram repetidas: "Carcará, Pega, Mata, e Come…".
Em tempos de opressão, a maldade exaltada pode servir como forma de encorajamento dos fracos em atitude de desafio ao poder armado.

Quando, ressurgindo ¨raiou a liberdade no horizonte do Brasil¨, como proclama o Hino da Independência, a democracia, reconstituída, tornava possível o convívio civilizado entre divergentes. Maniqueísmo, ou seja, a atitude sectária, intolerante, de quem se acha dono absoluto da verdade e decide desconstruir tudo o que lhe parecer contrário às suas concepções exclusivistas, ou aos seus interesses particulares, é um comportamento incompatível com o conceito de democracia.
O  SINTESE e a deputada Ana Lúcia parecem adoradores do fanático sacerdote persa, Maniqueu, cujo nome adjetivou-se para simbolizar as visões opostas e inconciliáveis do Bem e do Mal. O bem era ele, o mal, aquilo que ele queria que fosse.
O SINTESE e Ana Lúcia representam o Bem, o resto é o Mal, segundo a concepção maniqueísta que os deforma.

Assim, justificam uma greve interminável que destrói  os projetos de vida de 170 mil alunos da rede pública. Vem aí o Enem, nesta terça-feira acontece a Olimpíada da Matemática, e as escolas estão fechadas. Os pais reclamam, a sociedade protesta, lembra que escolas fechadas deixam alunos nas ruas, onde estão os traficantes  conquistando ¨fregueses¨, que logo serão viciados, traficantes, em seguida vítimas da violência. De nada vale o sentimento e as angústias coletivas, porque a ¨verdade¨ corporativa do SINTESE e a ¨verdade¨ eleitoral da deputada Ana Lúcia representam o Bem. O resto é, simples e desprezivelmente, o Mal.

Desde o secretário da Educação Martinho Bravo, até hoje, nunca houve um só deles, ou um governador, que não fossem vítimas do estilo Carcará do SINTESE e da deputada. É a pedagogia do cangaceirismo.  No discurso e na ação.
Luiz Antônio Barreto, intelectual prolífico e semeador de cultura, cuja memória Sergipe    reverencia, foi secretário da Educação no governo de Albano Franco. Colocou em prática ideias que significavam mudanças. Desgostou um sindicalismo que se nutre do atraso e de concepções pseudo-modernizantes da educação. Do desgosto, surgiu o ódio. Luiz Antônio foi vítima de uma campanha sórdida, o estilo Carcará, ou o cangaceirismo-político-corporativo  posto em prática. Das denúncias, todas falsas, forjadas, maldosas, surgiram os processos. Foram 22, que pesaram sobre alguém com a saúde fragilizada, e era pobre, destituído de patrimônio, e se via acusado de ter enriquecido roubando. Luiz foi absolvido, mas as sequelas permaneceram. Morreu prematuramente, atormentado pelo constrangimento moral de que foi vítima. José Lima, professor altamente qualificado, ex-reitor da UFS, tentou corrigir mazelas. Foi crucificado. Contra ele desencadeou-se a fúria do estilo carcará-cangaceiro. Denunciado, José Lima, homem rigorosamente ético, hoje presidente do Conselho Nacional de Educação, respondeu a processos.  Só agora foi inteiramente inocentado, sendo comprovada  a falsidade  das denuncias.

Belivaldo Chagas, secretário da Educação, político habilidoso, homem  correto, essencialmente conciliador e democrata, não escapou do enxovalhamento habitual.
Quando Déda já estava desenganado, e disso todos sabiam, o SINTESE fez um ¨enterro  simbólico¨ do governador. A deputada Ana Lúcia, duas vezes secretária de Déda, companheira de partido, participou daquele ato grotesco de inimaginável crueldade e desrespeito a um ser humano. Depois, no ato  final, infelizmente verdadeiro, também estava presente Ana Lúcia. Houve quem enxergasse uma furtiva lágrima na sua face. O estilo Carcará-Cangaceiro- Maniqueísta também sabe ter duplicidade de rostos. (Continua no próximo domingo)

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