O fantasma da Fome
Publicado em 13 de novembro de 2021
Por Jornal Do Dia
Conforme dados divulgados recentemente pela Organização das Nações Unidas (ONU), através do Programa Mundial de Alimentos (PMA), existem 45 milhões de pessoas famintas em 43 países do mundo, gerando infelizmente um novo pico de alta. Isto é grave, pois antes da pandemia da Covid, em 2019, 27 milhões de pessoas estavam passando fome, portanto ocorreu um aumento de 18 milhões de pessoas passando fome.
Segundo o Diretor Executivo da agência, David Beasley, são milhões de pessoas à beira do abismo. O aumento da fome no mundo está explicado por vários motivos que vão além da Covid-19: conflitos, mudança climática, alta nos preços dos combustíveis, dos fertilizantes e das sementes.
O Diretor Beasley aponta que no Afeganistão, 23 milhões de pessoas estão recebendo assistência alimentar do Programa Mundial de Alimentos. Além disso, a situação continua grave em países como Angola, Haiti, Iêmen, Síria e Somália. O Programa Mundial de Alimentos calcula que para reverter a situação de fome no mundo, são necessários agora US$ 7 bilhões.
Para a ONU, a insegurança alimentar tem feito muitas pessoas comer menos, pular completamente algumas refeições, ou optar por alimentar as crianças ao invés dos adultos. O Programa Mundial de Alimentos cita ainda casos extremos, onde as famílias acabam tendo que comer gafanhotos, folhas selvagens ou até cactos para sobreviver, como é o caso em Madagascar. É lamentável, um mundo que fica cada vez mais rico, ainda ver referido flagelo fica como um fracasso para a história econômica da humanidade.
A ONU também informa que em outras áreas, as famílias acabam retirando as crianças da escola, vendem o gado que têm ou se veem forçadas a casar as crianças. O preço dos alimentos atingiu a maior alta de 10 anos neste mês e os aumentos dos combustíveis prejudicam ainda mais a situação. Se há um ano despachar um container custava US$ 1 mil, agora o valor chega a US$ 4 mil.
O Secretário Geral da ONU, Antônio Guterres, em uma mensagem sobre o dia mundial da alimentação lembrou da importância dos alimentos para todas as pessoas do planeta, e a necessidade de cuidarmos da garantia da segurança alimentar em todo o mundo. Ele salientou que atualmente, quase 40% da humanidade, cerca de três bilhões de pessoas, não têm dinheiro para uma alimentação saudável.
A situação atual é a de que a fome e a desnutrição estão aumentando e, os impactos econômicos da COVID-19 tornaram a situação ainda pior, conforme informado pelo Secretário Geral da ONU, ele também pontuou que a pandemia deixou mais 140 milhões de pessoas incapazes de ter acesso aos alimentos que precisam.
O tema da fome, portanto volta a ser assunto de pauta nos organismos internacionais e nos faz lembrar dois autores clássicos que trataram do tema, a exemplo de: Malthus (economista britânico) que criou a teoria do Malthusianismo, em que afirma que, enquanto os meios de subsistências crescem em progressão aritmética, a população cresce em progressão geométrica e; Josué de Castro (médico brasileiro) autor do livro Geopolítica da Fome que aborda o problema da fome no mundo.
As teorias evoluem e mudam criando novas variantes das verdades da época, mas o fato é que mesmo que tenhamos evoluído na maneira como produzimos e consumimos, ainda não fomos capazes de superar a nossa ineficiência no aproveitamento dos alimentos e desperdiçamos bastante, causamos ainda grande impacto ambiental em nosso planeta para a produção de nossos alimentos e, ainda assim, muita gente passa fome no mundo.
O nosso desafio de acabar com a fome e a insegurança alimentar deve ser permanente, registrando-se a grande contradição de termos alimentos suficientes para a população humana, porém temos milhões de pessoas que são cronicamente subnutridas e como consequência estamos vivenciando a redução da altura por idade diminuindo lentamente e por outro lado, existem mais de dois bilhões de adultos, adolescentes e crianças obesos ou com sobrepeso. Os dois lados apresentados trazem consequências graves para a sociedade, especificamente para a saúde pública e para a qualidade de vida das pessoas e das comunidades.
Uma atuação eficiente da Orgaização para a Alimentação e Agricultura (FAO), será fundamental para que os esforços internacionais para combater a fome tenham resultados, culminando com a melhoria do acesso regular a alimentos de alta qualidade e na quantidade suficiente que possibilite uma vida ativa e saudável em todas as nações.
Entre as ações da FAO, gostaria de destacar a Agenda Alimentar Urbana, que é uma iniciativa que visa melhorar o desenvolvimento sustentável, a segurança alimentar e a nutrição em áreas urbanas e periurbanas e em espaços rurais próximos. Na agenda Alimentar Urbana existe um vasto leque de políticas, programas e iniciativas desenvolvidas e implementadas em parceria com diferentes atores, a exemplo de: sociedade civil, academia, agências da ONU, agências internacionais, redes de cidades e órgãos e entidades públicas e privadas relevantes.
Esta Agenda Alimentar Urbana é relevante porque aproximadamente 55% da população mundial vive em áreas urbanas e 80% de todos os alimentos produzidos globalmente são destinados ao consumo em espaços urbanos. E nas cidades temos muitas pessoas invisíveis no aspecto da fome que rodeiam.
Sobre a questão urbana, cabe registrar que as cidades hoje ocupam aproximadamente 2% do total de terras do nosso planeta; elas representam 70% do PIB Mundial; mais de 60% do consumo global de energia; 70% da emissão de gases do efeito estufa; 70% dos resíduos globais;
A questão de resolver a fome nas cidades é urgente, em face de que a rápida urbanização, impulsionada principalmente pelo crescimento demográfico e pela migração rural-urbana, está afetando todo o sistema alimentar e vendo grandes extensões de terras agrícolas convertidas em áreas urbanas desenvolvimento e uso industrial e prejudicando a nossa capacidade de alimentar o mundo.