O inferno sobre a Terra

A promessa de fazer o inferno desabar sobre a Terra, em dia e hora anunciada, condiz com as afinidades, as filiações e a tez alaranjada de Donald Trump. Presidente dos Estados Unidos uma segunda vez, o diabo loiro não tem compromisso com a paz.

A imagem tem o seu apelo, de um desalento devastador. As bombas lançadas por Israel, no entanto, chegaram antes das ameaças imperialistas ianques. Na faixa de Gaza, a devastação se pronuncia impunemente com todos os contornos, há meses. Para todos os efeitos práticos, o inferno é bem ali.

Os pitacos bem intencionados a respeito do Oriente Médio não se atém à eloquência dos escombros. Claro, razões históricas, políticas, ideológicas, tentam abarcar a estupidez genocida do conflito. Sob as ruínas, contudo, resta apenas o absurdo.

Recorro ao dicionário, derrotado pelos fatos, agarrado à esperança pouca dos desiludidos. Na religião, o inferno é lugar destinado ao suplício das almas. Na mitologia é uma terra habitado pelos mortos. Em sentido figurado, o inferno é sofrimento e caos. Em qualquer dos casos, portanto, a promessa de Trump se cumpriu antes mesmo de chegar a ser articulada. Sim, o inferno existe. As imagens da guerra entre Israel e Palestina o situam bem ali.