Quinta, 20 De Fevereiro De 2025
       
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O JACKSON BARRETO COMUNISTA E EMEDEBISTA


Publicado em 17 de janeiro de 2023
Por Jornal Do Dia Se


Afonso Nascimento

Ninguém discute que Jackson Barreto (JB) é um gigante na história política sergipana. Homem político católico e comunista com raízes em Santa Rosa de Lima, pertence à geração nascida na década de 1940. A sua trajetória pode ser exposta em três etapas, para o que me interessa nesse artigo. A primeira é aquela de sua vida quando ele ainda não era comunista, a segunda diz respeito à sua militância comunista e a última tem a ver com o seu pós-comunismo. JB sempre foi de esquerda, tendo ocupado todos os mandatos eletivos parlamentares e executivos, menos o de senador.
Político populista de esquerda, extremamente carismático, na sua fase pré-comunista, a vida política Jackson Barreto foi marcada pelo seu ingresso na política e compreende a sua vida de 1967 para trás. É necessário destacar que, nesse período, ele deu seus primeiros passos na política estudantil, sendo vice-presidente do Grêmio Estudantil Clodomir Silva, do Colégio Ateneu, nos anos de 1962 e 1963. Ainda nessa época começou a trabalhar como carteiro nos Correios (algo então permitido a menores de idade) e foi membro da União Brasileira dos Servidores Postais e Telegráficos (UBSPT).
Enquanto militante da UBSPT, ele participou do último comício do presidente João Belchior Goulart na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, que discursou para um público estimado em cento e cinquenta mil pessoas. No dia seguinte a essa noite do dia 13 de março, Jackson Barreto quase foi preso e, duas semanas depois, Jango foi deposto por generais que instauraram um regime militar que durou vinte e um anos (1964-1985). Depois do meeting político citado, voltou rapidamente para Aracaju.
Em seguida, em 1966, ele continuou seu ativismo político como presidente do Clube de Jovens da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, em Aracaju. Não posso terminar esse parágrafo sem registrar que grande foi a influência da mãe de Jackson Barreto, uma militante do PSD que – não é desnecessário lembrar – conseguiu o primeiro emprego (carteiro) para ele através de suas conexões com lideranças pessedistas estaduais e nacionais.
A fase pós-comunista de Jackson Barreto vai de 1984 a 2018 e é aqui antes apresentada antes de sua época comunista que é o objeto deste artigo. É nesse período que JB se retirou o Partido Comunista Brasileiro (PCB), ainda clandestino, e passou a fazer política dentro da legalidade até retirar-se das atividades de homem público. É aquele na qual JB alcança o topo de sua carreira política como político profissional, tornando-se vice-governador de Marcelo Déda e depois governador com a morte do petista. É ainda período de redemocratização do Brasil, da luta de pela anistia, pela campanha das diretas, do golpe de 2016, de tentativa de golpe depois do retorno de Lula ao governo federal pela terceira vez.
Nesse período, JB foi prefeito de Aracaju (1986-1989) pelo PMDB; vereador pelo PSB (1989-1993); prefeito de Aracaju pelo PDT (1993-1994); deputado federal pelo PMN (2003-2007); deputado federal pelo PTB (2007-2011); vice-governador (2011-2013), completando o mandato de Marcelo Déda; e finalmente governador eleito (2014 -2018).
Na sua luta pela sobrevivência política, precisou renunciar a mandatos e a trocar de partido político. Renunciou ao mandato de Deputado Federal, na Legislatura 1983-1987, para assumir o mandato de Prefeito de Aracaju, SE, em 1º de janeiro de 1986. Mais tarde, renunciou ao mandato de Deputado Federal, na Legislatura 2007-2011, para assumir o mandato de Vice-Governador de Sergipe, em 31 de dezembro de 2010. Foi governador de 2013 a 2018. Em outro espaço escrevi pertenceu a diversos partidos políticos (MDB, PMDB, PDT, PMN, PTB), porém os mais importantes foram o MDB e o PMDB.
Jackson Barreto foi ativo defensor de anistia ampla, geral e irrestrita para todos os que se bateram contra a ditadura militar. Em 1979, JB teve o seu nome na lista dos alcançados pela anistia política antes do fim do regime militar. Não foi possível saber se JB recebeu indenização.
Durante o seu mandato como governador, ocorreu erosão do seu carisma político devido aos problemas financeiros do Tesouro Estadual para pagar os servidores públicos e para investir em mais obras públicas.
No período em que Jackson Barreto exerceu seu primeiro mandato de deputado federal (1979-1984), enquanto ainda era do PCB, ele fez vários pronunciamentos que mostram o militante comunista na resistência ao regime militar e o seu engajamento nas lutas sociais e políticas. As informações abaixo foram extraídas do documento “Pronunciamentos de Jackson Barreto. 1979-1985.Departamento de Taquigrafia, Revisão e Redação. Seção de Histórico de Debates” da Câmara de Deputados.
No ano de 1979, foi absolvido pela Auditoria da 6ª. Região Militar, “quatorze dias antes do término do prazo para o registro de sua candidatura a deputado federal”. Relembra movimentos positivos feitos pela extinta União Nacional dos Estudantes. Critica a atuação da FUNAI. Protesta contra a intervenção do governo militar no sindicato dos metalúrgicos de ABC, em São Paulo. Anuncia a reunião de estudantes em Salvador com o objetivo de reconstruir a UNE. Denuncia projeto de anistia que excluía aqueles que pegaram em armas. Reivindica uma anistia ampla, geral e irrestrita.
Em 1980, JB registra com pesar o falecimento de Márcio Rollemberg Leite, comunista da mais importante oligarquia sergipana (José Rollemberg Leite, Gonçalo Rollemberg Leite, Leite Neto, etc.) ligada ao PSD. Protesta contra ato terrorista da extrema-direita na sede da Confederação dos Trabalhadores da Agricultura, contra as violências praticadas pelo fazendeiro Antônio Tavares de Porto da Folha que quer expulsar posseiros da região, contra atentado terrorista de direita em Viamão (RS), contra a escalada da violência liderada pela extrema-direita no país. Solidariza-se com os metalúrgicos em greve no ABC paulista. Apoia movimento da UNE e faz a leitura de artigo de Alípio de Freitas “A UNE e o regime”. Denuncia incidentes ocorridos na cidade sergipana de Propriá. Registra seu repúdio à quebra da autonomia universitária. Critica visita do general Figueiredo a Sergipe, para ele, sem motivos.
O ano de 1981 foi o mais farto em pronunciamentos de JB na Câmara de Deputados. Com efeito, JB fez várias denúncias, a saber, sobre o conflito fundiário em Santana dos Frades, Sergipe; sobre a violenta ação da PM contra estudantes da UNE em Brasília; sobre a ação terrorista de direita no país e sobre a situação do sindicalismo brasileiro desde as greves de 1979. Discursou sobre a instalação da Ala Jovem do MDB em Sergipe. Leu o necrológico do major João Teles. Cobrou a extensão do direito ao voto à população do Distrito Federal e, entre outros pronunciamentos mais, tratou da publicação de livro do jornalista e economista Paulo Barbosa de Araújo, quadro do PCB sergipano.
No ano de 1982, nos registros da atuação de Jackson Barreto na Câmara de Deputados, ele pede a efetivação da doação de terras para os posseiros da Ilha de São Pedro. Protesta contra a expulsão do Brasil de presidente da UNE, brasileiro nascido na Espanha. Denuncia a desativação de postos indígenas no sul da Bahia.
Em relação ao ano de 1983, JB defende os royalties do petróleo dos sergipanos. Saúda a nova diretoria da CNBB. Registra os 15 anos de aniversário da UFS. Denuncia a prisão do vereador Nathaniel Braia, político comunista do MR-8 com mandato pelo PMDB em Sergipe. Defende a luta da Nicarágua depois da Revolução Sandinista. Anuncia o falecimento de Gregório Bezerra, um dos maiores homens públicos deste país. Defende eleições diretas para presidente.
Por fim, em 1984, há discurso de Jackson Barreto na Câmara de Deputados que defende a greve dos estudantes da UFS. Faz homenagem a Lott, o militar que assegurou a posse de Juscelino Kubitscheck. Condena o regime dos generais por não aplicar o Estatuto da Terra. Faz elogio ao trabalho da CNEC. Protesto contra prisão de estudantes. Defende eleições diretas nas capitais e nas estâncias hidrominerais. Esses são apenas alguns destaques da atuação do Jackson Barreto comunista enquanto deputado federal.
À guisa de conclusão, quero acrescentar que Jackson Barreto foi um político comunista sergipano (1967-1984) cujo trabalho de resistência ao regime militar sempre precisará ser lembrado. Não é por acaso que, na documentação disponível dos órgãos de segurança e informação da ditadura, o seu nome é dos que aparecem com mais frequência. “Deu trabalho” aos agentes da repressão.
JB se considerava um bom tarefeiro no seu tempo de jovem comunista, porém se tornou em um grande líder político popular. Quis o “destino” político que Jackson Barreto, preso duas vezes e perseguido pelo regime de exceção, se tornasse governador de Sergipe para fazer criar a Comissão Estadual da Verdade, que investigou os crimes cometidos pelos agentes da ditadura militar em Sergipe (Decreto no. 3003 de 2015).
Ninguém mais do que JB tinha tanta legitimidade para implementar essa medida histórica cujo Relatório Final que ainda aguarda ser publicado. A resistência ao regime militar teria sido bem menor não fosse a presença nas trincheiras dos “partisans” sergipanos de gente como JB. Foi um valente e corajoso lutador pela democracia que declarou certa vez que tinha medo de ser torturado, mas não de morrer.

Afonso Nascimento, professor de Direito Aposentado da UFS.

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