Há 20 anos: Cru, pingando sangue (Divulgação)
O mal da idade
Publicado em 14 de março de 2025
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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Há muito, perdi a fé no rock. Cada disco lançado agora é como um fio de cabelo branco, joga mais uma pá de terra sobre as minhas ilusões perdidas. O mal é da idade. Aos meus ouvidos moucos, os riffs da molecada soam sempre mecânicos, cansados, enfadonhos – Repetem hoje a experiência de ontem.
Quando Julio Andrade lançou The Baggios (2012) – o primeiro álbum da banda, celebrado dez anos depois com luxuoso registro em vinil -, berrou a novidade com o ímpeto próprio de um pivete. Ali, tudo era franco, espontâneo, inesperado. Nunca mais Julico esteve tão inspirado como naquele primeiro grito.
Aqui, cabem parênteses. Nos primórdios da banda, um duo de guitarra e bateria, as composições de Julico extraiam força da simplicidade. As canções valiam por si mesmas, prescindiam de qualquer recurso. Foi assim, com a cara e a coragem, sem um tostão furado no bolso, que o menino de São Cristóvão colocou Sergipe no mapa da música independente brazuca.
‘Sina’ (2013) seguiu mais ou menos na mesma pegada, apesar de merecer uma produção mais classuda. A presença de Agapito na capa do álbum, um instantâneo ambientado no terminal ferroviário de São Cristóvão, clique de Marcelinho Hora, empresta à imagem o condão de uma profecia. Daí para frente, The Baggios cairia no mundo, um caminho sem volta, “like Dylan in the movies”, sem olhar para trás.
As coisas começaram a mudar em ‘Brutown’ (2016), quando The Baggios superou o blues rock dos primeiros registros com uma grandiloquência sem par. A transformação rendeu uma indicação ao Grammy Latino, dando status de documento reconhecido em cartório à competência da banda.
Com ‘Vulcão’ (2018) – o disco mais bem acabado dos Baggios, o mais bem resolvido em termos musicais, stricto sensu -, a banda conquista nova indicação e segue no encalço do próprio rumo, cada vez mais longe de casa, abrindo caminhos na ponta da faca, a ver onde vai dar.
Isso tudo eu afirmei em alto e bom som, no calor do momento, logo após os álbuns caírem na rede. Sobre o trabalho mais recente da turma, ‘Tupã-Rá’ (2021), não arrisquei uma única palavra. Mas o lapso jornalístico tem uma razão, tão justa e verdadeira quanto uma desculpa esfarrapada: The Baggios, o registro seminal, cru, pingando sangue, ainda fala ao meu coração velho de guerra com a mesma verdade desarmada de um susto. A ele retorno sempre, uma vez e outra, feito pinto no lixo, virado em menino.
Trajetória – Formada em 2004 no município de São Cristóvão, The Baggios é reconhecida internacionalmente pelo trabalho realizado no blues-rock.
Com cinco álbuns, quatro EPs e um DVD ao vivo, o grupo já foi indicado duas vezes ao Grammy Latino na categoria de “melhor álbum de rock ou música alternativa”, em 2017 e 2019.
Atualmente, a banda é formada pelos músicos Júlio Andrade (voz e guitarra), Gabriel Perninha (bateria) e Rafael Ramos (teclas).
Programação – 170 anos de Aracaju:
14/03/2025 – SEXTA | Orla de Atalaia
19h – The Baggios (SE)
21h – Digão Raimundos com participação Rock 7Nove (DF/SE)
23h – Titãs (SP)
01h – Àttooxá (BA)
15/03/2025 – SÁBADO | Orla de Atalaia
19h – Juninho Alê (SE)
21h – Cleyton Queiroz (SP)
23h – Fernanda Brum (RJ)
16/03/2025 – DOMINGO | Orla de Atalaia
19h – Samba Arnesto (SE)
21h – Nona (SE)
23h – Raça Negra (SP)
01h – Joelma (PA)