Quarta, 11 De Dezembro De 2024
       
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O mal da idade


Publicado em 14 de novembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se


Cru, pingando sangue (Divulgação)

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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Há muito, perdi a fé no rock. Cada disco lançado agora é como um fio de cabelo branco, joga mais uma pá de terra sobre as minhas ilusões perdidas. O mal é da idade. Aos meus ouvidos moucos, os riffs da molecada soam sempre mecânicos, cansados, enfadonhos – Repetem hoje a experiência de ontem.
Quando Julio Andrade lançou The Baggios (2012) – o primeiro álbum da banda, celebrado dez anos depois com luxuoso registro em vinil -, berrou a novidade com o ímpeto próprio de um pivete. Ali, tudo era franco, espontâneo, inesperado. Nunca mais Julico esteve tão inspirado como naquele primeiro grito.
Aqui, cabem parênteses. Nos primórdios da banda, um duo de guitarra e bateria, as composições de Julico extraiam força da simplicidade. As canções valiam por si mesmas, prescindiam de qualquer recurso. Foi assim, com a cara e a coragem, sem um tostão furado no bolso, que o menino de São Cristóvão colocou Sergipe no mapa da música independente brazuca.
‘Sina’ (2013) seguiu mais ou menos na mesma pegada, apesar de merecer uma produção mais classuda. A presença de Agapito na capa do álbum, um instantâneo ambientado no terminal ferroviário de São Cristóvão, clique de Marcelinho Hora, empresta à imagem o condão de uma profecia. Daí para frente, The Baggios cairia no mundo, um caminho sem volta, “like Dylan in themovies”, sem olhar para trás.
As coisas começaram a mudar em ‘Brutown’ (2016), quando The Baggios superou o blues rock dos primeiros registros com uma grandiloquência sem par. A transformação rendeu uma indicação ao Grammy Latino, dando status de documento reconhecido em cartório à competência da banda.
Com ‘Vulcão’ (2018) – o disco mais bem acabado dos Baggios, o mais bem resolvido em termos musicais, stricto sensu -, a banda conquista nova indicação e segue no encalço do próprio rumo, cada vez mais longe de casa, abrindo caminhos na ponta da faca, a ver onde vai dar.
Isso tudo eu afirmei em alto e bom som, no calor do momento, logo após os álbuns caírem na rede. Sobre o trabalho mais recente da turma, ‘Tupã-Rá’ (2021), não arrisquei uma única palavra. Mas o lapso jornalístico tem uma razão, tão justa quanto uma desculpa esfarrapada: The Baggios, o registro seminal, cru, pingando sangue, ainda fala ao meu coração velho de guerra com a mesma verdade desarmada de um susto. A ele retorno sempre, uma vez e outra, feito pinto no lixo, virado em menino.
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